É ingênuo crermos no “pecado”, qualificado
dogmaticamente como uma ofensa contra Deus, que por sua vez revida mediante o
tal “castigo” que inflige ao “pecador”. Ora, vejamos que Deus não se ofende com
os equívocos das suas criaturas em processo de evolução. Em face disso o tal
“castigo” não é e nem pode ser uma espécie de vingança ou uma atividade pessoal
do Criador (antropomórfico) para penitenciar o “pecador”.
Deus não pune; Deus AMA! Sobre isso, Jesus
inovou o pensamento teológico ao apresentar Deus como um pai bondoso e justo,
em substituição à divindade colérica, vingativa e caprichosa dos povos
ancestrais. Na verdade, o indigesto dogma do “pecado” foi criado pela senil e
heterônoma teologia humana. Advém dos espetáculos mitológicos protagonizados
por Adão e Eva, que supostamente teriam desobedecido uma ordem divina e
atraíram para si e para toda humanidade uma maldição que implicaria em toda
sorte de males, dores, erros, crimes e tudo quanto fosse ruim.
Daí a pueril crença do “pecado original” na
Terra, com a represália divina entre os homens através das doenças, da morte e
todo tipo de contradição. Vagando por essas crendices, afirma-se que já
nascemos “culpados”, que somos “pecadores”, que temos o DNA da transgressão,
tudo isso por causa do escandaloso casal adâmico da velha mitologia. Garantem
os arautos de tais imposições dogmáticas que se há injustiça no mundo, se
crianças nascem defeituosas, se existe guerra, fome, tragédias e muita
malignidade, tudo é culpa do “pecado original’; portanto, tudo procedente dos
lendários Adão e Eva.
Perante a Lei de justiça divina, o adepto do
Espiritismo recusa a ideia de transferência de responsabilidade dos atos
errados dos outros, pois cada um é responsável por si naquilo que deliberar
empreender. Pela lei da reencarnação, todos trazemos ao renascer as matrizes
das imperfeições que mantemos. Deste modo, transportamos os germens dos
defeitos que não superamos que se traduzem pelos instintos naturais e
tendências para tal ou qual ação. É esse o sentido racional para o tal “pecado
original”, ou seja, escolhemos sempre as experiências provacionais a fim de
superá-las.
Quando nos desviamos do amor escolhendo
arrastar-nos pelas paixões, entramos em rota de colisão com as Leis Divinas
(inscritas na consciência) e criamos para nós o psiquismo desarmônico, mantendo
as deficiências do senso moral. Ao desencarnarmos arrastamos para o mundo
espiritual todas as imperfeições e ao renascermos trazemos as desarmonias
conscienciais como tendências naturais.
O anseio íntimo pela liberdade consciencial
rejeita o dogma do “pecado original” e da vassalagem cega a Deus. Reencarnamos
muitas vezes na Terra ou em outros orbes realizando nosso aperfeiçoamento
moral. Recordemos que no princípio de nossa evolução humana éramos “simples e
ignorantes” (sem qualquer “pecado original”) e pela evolução chegaremos à
perfeição moral. Portanto, penetramos na humanidade sob o manto de purezas e
simplicidades; dessa forma nos tornamos gradualmente senhores e únicos
depositários da consciência, cuja lesão ou bem-estar não dependem definitivamente
senão de nossa vontade e das disposições do nosso livre-arbítrio.
O comportamento livremente deliberado acarreta
consequências naturais. Se transgredimos as leis divinas da consciência
atraímos consequências naturais e desagradáveis na medida da imperfeição moral
que mantemos. Por isso, jamais devemos nos entender injustiçados ou apenados
nas ocorrências da vida. E nem perseguidos, e muito menos punidos.
A “cada existência temos os meios de nos
redimir pela reparação e de progredirmos, quer despojando-nos de alguma
imperfeição, quer adquirindo novos conhecimentos, e assim, até que
suficientemente aperfeiçoados, não necessitemos mais da vida corporal e
possamos viver exclusivamente a vida espiritual, eterna e bem-aventurada. ” [1]
Somos reflexos das nossas livres escolhas,
porém inevitavelmente somos por Deus amorosa e sabiamente conduzidos rumo à
suprema felicidade, sempre na conformidade dos caminhos que sem coação elegemos
através do uso cabal do livre-arbítrio.
Referência bibliográfica:
[1] KARDEC, Allan. A Gênese, 26ª Ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1984. Cap. I item 38
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