O intercâmbio mediúnico, segundo a Doutrina
Espírita, corresponde a uma disposição orgânica de que qualquer homem pode ser
dotado, estabelecendo relações com os espíritos, em diferentes graus e tipos.
Contudo, a qualificação de médiuns se aplica somente aos que possuem uma
faculdade mediúnica bem caracterizada, que se revela por efeitos patentes de
certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva (O
Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XXIV:12 e O Livro dos Médiuns – item
159).
BOX-1 Ciência atestando a Imortalidade.
Inobstante de ter sido pesquisada e comprovada
por cientistas sérios e dedicados, de alta notoriedade, como o Dr. Joseph Banks
Rhine, na Universidade de Duke, EUA, estudando os chamados fenômenos PSI-TETA,
alusivos às manifestações de espíritos de indivíduos já falecidos, inaugurando
a era da ciência não-material; em que pese o trabalho rigoroso do famoso
Willian Crooks, a maior autoridade científica da Inglaterra, em seu tempo,
atestando a mediunidade; a despeito do genial naturalista Alfred Russel
Wallace, após sensível resistência, vencido pelas evidências, apaixonar-se
pelos fenômenos mediúnicos; apesar de afamados homens de ciência como Auguste
de Morgan, Oxon, Barkas, Chambers, Myers, Gurney, Podmore, Lodge, Kerner,
Zöllner, Camille Flamarion, Paul Gibier, Weber, Fechner, Ulrici, Butlerof,
Aksakof, Chiaia, César Lombroso, Charles Richet, comprovarem que os mortos
vivem, a mediunidade permanece ainda contestada pelo obscurantismo científico e
religioso.
BOX-2 Suposta Condenação Bíblica
Infelizmente, as crenças dogmáticas ainda
desprezam essa dádiva divina, a qual possibilita o sublime intercâmbio dos
chamados “vivos” com os “mortos”, pregando que a Bíblia condena categoricamente
essa marcante comunicação, apontando incorretamente alguns trechos do Antigo
Testamento.
No livro de Levítico, cap. 19, versículo 31,
está estabelecido “ipsis litteris” o seguinte: “Não vos voltareis para os
necromantes, nem para os adivinhos; não os procureis para serdes contaminados
por eles. Eu sou o SENHOR, Vosso Deus”.
Ainda em Levítico, cap. 20, versículo 27: “O
homem ou a mulher que, entre vós, for necromante ou adivinho, será morto, será
apedrejado, e o seu sangue cairá sobre ele ou ela”.
BOX-3 Verdadeiro Entendimento oferecido pelo
“Consolador”
Na época em que vivemos, quando o progresso
intelectual é marcante e as questões religiosas já foram objeto de atualização
e de explicação racional e lógica pela Doutrina do Consolador prometida por
Jesus, exatamente a codificação espírita, as violentes ameaças e mortais
condenações do Antigo Testamento são dignas de descontentamento e tristeza,
inclusive até mesmo ferindo as leis morais do Decálogo, divulgadas pelo
legislador hebreu Moisés e inseridas no livro bíblico O Êxodo.
Digno de consideração, igualmente, o fato de o
texto dito condenatório da mediunidade afirmar categoricamente que o que estava
na berlinda não era propriamente o intercâmbio em si, desde que só se pode
proibir o que realmente existe. Exatamente o que verificamos é a condenação do
fenômeno para fins divinatórios, porquanto necromancia é a invocação dos mortos
para adivinhações e idolatrias, o que é também energicamente desaconselhado
pelo Espiritismo. Vejam Isaías, 8: 20, ressaltando que os mortos devem se
comunicar (“falando de acordo com esta palavra”), isto é, “conforme a lei e os
mandamentos” ou “consoante com a instrução e o testemunho”. Não procedendo
assim, “não poderão visualizar a luz”, continuando engolfados na escuridão da
ignorância. O principal ensinamento de Isaías é de que a mediunidade deva ser
exercida para o bem, principalmente visando o aprimoramento da humanidade e,
caso seja utilizada para fins escusos, as consequências serão muito graves,
vivenciando intenso sofrimento.
A prática da mediunidade exercida de forma
equivocada era proibida pelo legislador hebreu Moisés, o qual aceitava e
aclamava o intercâmbio com os espíritos esclarecidos, conforme exclamou: “Oxalá
todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu espírito”
(Números 11: 29).
O monarca Manassés, o 14º rei de Judá, era
afeito à interação com entidades não esclarecidas e, arrependido, ouviu “as
palavras dos videntes que lhe falaram em nome do Senhor, Deus de Israel” (2 Crônicas
33:18).
As evocações dos mortos pela legislação mosaica
não eram impedidas quando exercidas de forma superior, sem vantagem financeira,
sem associação à magia negra e à necromancia. Aliás, se fosse mesmo a
mediunidade anatematizada na Bíblia, de forma alguma o próprio Moisés surgiria
materializado, no alto monte, junto de Elias, ao lado de Jesus, estando Pedro,
Tiago e João adormecidos e cedendo ectoplasma para que o fenômeno ocorresse
(médiuns de efeitos físicos), conforme descreve o evangelista Lucas, no cap. 9,
versículo 32. Interessante repetir que o próprio Moisés, aparecendo do
além-túmulo, põe por terra a suposta oposição bíblica à mediunidade.
Algumas considerações devem ser ressaltadas.
Primeiramente, se o legislador tivesse proibido a mediunidade em sua totalidade,
abrangendo igualmente o intercâmbio superior, poderia também sua ordem ser
questionada, desde que o Cristo não ratificou tudo quanto disse Moisés,
provando que nem tudo o que veio do legislador judeu é divino, conforme os
evangelistas Mateus e João apontam a seguir: “Ouvistes que foi dito: Olho por
olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se
qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mateus 5:
38-39). “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem,
fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem;
para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5: 43-44). “E,
pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio
ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu,
pois, que dizes?” (João 8:4-5).
No caso de Saul, evocando o profeta Samuel,
através da sensitiva de Endor, é importante enfatizar que o monarca estava
preocupado com seus inimigos e solicitou uma comunicação mediúnica para fins
divinatórios. Não tivera êxito através dos profetas de israel. Através das
faculdades paranormais da inferior medianeira, o espírito Samuel lhe revela que
ele e seus filhos, no dia seguinte, seriam mortos (1-Samuel 28:19
O motivo da condenação de Saul está bem claro,
conforme enfatiza a entidade comunicante, dizendo que o rei desobedeceu às
ordens do chamado “Senhor”. Portanto, o monarca foi punido, segundo a Bíblia,
por desrespeito a esse “Senhor”. A mediunidade está livre de qualquer acusação.
A punição de Saul não tem relação com o sublime intercâmbio mediúnico.
Embora a Bíblia enfaticamente declare a
comunicação do Espírito Samuel, alguns setores dogmáticos, não desejando abrir
os seus olhos para a presença marcante dos espíritos imortais, atribuem a
causalidade do fenômeno ao chamado “diabo”, um ser criado à parte e que vive
praticando o mal.
A Primeira Epístola de João, no cap. 4,
versículo 1, afirma a mediunidade, revelando que se comunicam seres espirituais
esclarecidos (“provêm de Deus”) e seres inferiores (“não deem crédito”).
É lamentável que, em respeito a dogmas, a
ditados essencialmente humanos e falhos, frutos do obscurantismo religioso,
ainda se mantenha, em nossa época, a determinação de se rejeitar o intercâmbio
mediúnico, cuja realidade é mais uma prova da bondade e da misericórdia do
Amoroso Pai, dando-nos a certeza de que os chamados “mortos” vivem e, com
certeza, vibram conosco e estão a nossa espera. Deus é verdadeiramente Amor,
como relata o apóstolo João (1ª Epístola 4:8).
Em Atos dos Apóstolos, há a afirmação de que os
profetas receberam a lei por ministério de anjos, ou seja, através de
mensageiros espirituais (cap. 7, versículo 53).
O profeta ou médium Joel já afirmava que o
“Espírito” seria derramado sobre toda a carne, afiançando que os jovens teriam
visões (vidência), os velhos sonhariam (fenômenos de emancipação da alma) e os
filhos profetizariam, isto é, seriam intermediários das duas dimensões, a
física e a espiritual. Relata Joel que até os servos e as servas receberiam o
“Espírito”, o que caracteriza a mediunidade poder ser exercida por pessoas não
cultas, o que foi verificado com Chico Xavier, Carmine Mirabelli, Zé Arigó,
Eusápia Paladina, Anna Prado e outros.
BOX-4 Pujante Mediunidade dos Discípulos
de Jesus
Importante a menção de que o “Dia de
Pentecoste” se constituiu no mais expressivo fenômeno mediúnico de todos os tempos.
Os discípulos, até então, indecisos e medrosos, após serem outorgados com a
mediunidade psicofônica, foram possuídos por uma exuberante coragem, a ponto de
proclamarem o Evangelho, sem temor, enfrentando bravamente os açoites, as
perseguições e a prisão (Atos, cap. 2).
Uma verdadeira revolução espiritual se
processou, através da mediunidade de incorporação, em Pentecoste: o Cristo,
desde então, passou a estar em espírito com os seus discípulos – “Ficaram todos
cheios de um Santo Espírito” (no idioma grego, “pneuma hágion” sem o artigo
definido, traduz-se colocando o artigo indefinido). O termo certo, portanto, é
“um Santo Espírito” e o que se verificou, em Pentecostes, foi a pujante
mediunidade dos discípulos do Cristo.
Em Éfeso, Paulo, “O apóstolo dos Gentios”,
desenvolveu o intercâmbio mediúnico dos discípulos que já tinham sido batizados
por João Batista: “Impondo-lhes as mãos, veio sobre eles um ‘Santo Espírito’”
(espíritos superiores). O texto é assaz esclarecedor: “e tanto falavam em
línguas (fenômeno conhecido como xenoglossia) como profetizavam” (Atos 19:1-7).
Houve a incorporação de entidades espirituais que, em transe mediúnico,
discorriam em determinado idioma estrangeiro, em língua estranha ao
conhecimento daqueles homens. Assim igualmente aconteceu no dia de Pentecostes,
com todos os discípulos do Cristo.
BOX-
5 Mediunidade- Pedra Basilar do
Cristianismo
Anteriormente, Jesus, logo após a crucificação,
completamente materializado, atestou o intercâmbio mediúnico, comunicando-se
com os seus discípulos, em algumas oportunidades, ressaltando a sobrevivência
do ser espiritual mergulhado no oceano da imortalidade e, consequentemente, sua
materialização constituiu-se em pedra basilar do cristianismo.
O excelso Mestre é o maior exemplo da certeza
da vida após a vida e da possibilidade de a dimensão extrafísica estar
sintonizada com o mundo físico, porquanto, através do fenômeno da mediunidade
de efeitos físicos, surgiu materializado, atestando a imortalidade, revelando a
morte da morte, continuando a viver, “ressuscitando aos cânticos da manhã, no
fulgor de um jardim” (Religião dos Espíritos – Emmanuel).
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