Os evangelhos de Lucas e Mateus descrevem que
Maria manteve-se “virgem” e que Jesus hipoteticamente fora concebido pelo
“Espírito Santo”, ou seja, a concepção de Maria acontecera de forma
“sobrenatural”, sem a participação do esposo, conquanto já fosse recém-casada
com José à época.
A crença na virgindade de Maria e a suposta
“fecundação divina” nada mais é senão uma “fotocópia” rudimentar, diríamos, uma
imitação burlesca, dos mitos pagãos organizados pelas castas sacerdotais
ancestrais. A explicação desses pormenores históricos é indispensável ao
espírita, para preservar-lhe contra as deturpações místicas impostas por longos
anos pela tradicional instituição “unificadora” do Brasil. Até porque pesquisas
e estudos sobre a fábula mitológica, bem como da História das Religiões,
comprovam de maneira categórica a origem da alegoria do nascimento virginal.
Indubitavelmente o Evangelho sofreu a
influência da mitologia grega. Por isso, devemos separar o mito helênico do que
é ensinamento moral. A rigor, foi exatamente por isso que Allan Kardec, ao
publicar “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, transcreveu tão somente o ensino
moral de Jesus.
Historicamente, a “virgindade” de Maria
embrenhou-se de tal forma no imaginário coletivo dos cristãos que se incorporou
ao seu nome. É verdade! A “virgem Maria” transformou o filho Jesus em vulto
mitológico, e nada melhor para exaltar o “homem-deus” do que situá-lo como
filho de uma “virgem”. Por falar nisso, Allan Kardec fez oportuno ensaio
comparativo a respeito das teorias do pecado original e da virgindade de Maria,
situando a mãe de Jesus como virgem, não do ponto de vista biológico, mas sob o
enfoque espiritual. [1]
Em conformidade com determinadas narrativas do
Evangelho, Maria teria recebido a visita lendária de um “anjo” de nome Gabriel,
o qual anunciou à jovem sua “fecundação” através da intervenção do “Espírito
Santo”. Ora, a Doutrina Espírita nos convida a desenvolver uma fé raciocinada,
analisando sensatamente as narrativas do Evangelho. Ante os dilemas
interpretativos dos conceitos literais escritos pelos apóstolos, o Codificador
advertiu que a religião deve caminhar em consonância com a ciência, de modo que
a primeira não ignore a última, e vice-versa.
Cá para nós, qual seria a desonra de Maria
sobre a maternidade segundo as leis biológicas? Teria ela traído José e se
“corrompido moralmente” conforme já ouvimos de alguns? O que pensar da oblata
suprema de Jesus no Calvário se seu corpo fosse um sortilégio
“quintessenciado”? Seria uma representação ridícula! Será que dá para conceber
o Cristo (MODELO) imune de dor, em
face do seu corpo ser energeticamente “sutilizado”, enquanto os primeiros
cristãos mergulhados na carne seriam devorados pelas feras nas arenas romanas?
Não paira nenhuma dúvida de que Maria foi um
Espírito muito elevado moralmente, razão pela qual recebeu a missão sublime de
gestar o “MODELO e Guia” da
humanidade. Porém, Jesus foi ridiculamente transformado numa figura mitológica
e, sendo um “ídolo deificado”, não poderia ter nascido do “pecado original” das
tradições adâmicas. O fato de Jesus ter sido concebido de forma “milagrosa”
contradiz as vias naturais de reprodução humana, e para a Doutrina dos
Espíritos esta é uma questão de elevadíssima importância, uma vez que a
fecundação biológica é uma decorrência das Leis Naturais.
Em resumo, reafirmamos que a fecundação de
Maria se deu por vias decididamente normais, através da respeitosa comunhão
sexual com seu esposo, tal como ocorre entre todos os casais equilibrados da
Terra. Em face disso, Kardec apresenta Jesus como o MODELO mais perfeito para a evolução humana; logo, o seu corpo
deveria ter a mesma constituição biológica daqueles aos quais ele deveria
servir de MODELO, e seu testemunho
basear-se na subordinação às leis naturais.
Ah!, dizem que a ciência pode gerar um humano
através da fertilização in vitro ou outros métodos não uterinos. Ora, ainda que
o perispirito de Jesus seja o mais puro da Terra, Ele não derrogaria as leis de
reprodução. Portanto, Jesus não poderia aparentar estar biologicamente
encarnado, senão o período da manjedoura até a cruz teria sido um simulacro de
um ilusionista amador ou uma caricata encenação teatral.
Sob o ponto de vista da lógica kardeciana, a
humanização de Jesus torna os cristãos mais esperançosos na autotransformação
moral, pois leva seus seguidores a serem mais disciplinados e conscienciosos.
Do contrário, a “deificação de Jesus” faz do “MODELO e Guia” uma entidade inalcançável, e assim torna suas
lições inexecutáveis, pois são atos próprios à vida de um “extraterrestre” ou
do próprio “Deus” (para os místicos).
A concordância com o “Jesus mitológico” abre
precedentes para outros entendimentos igualmente lendários a respeito da vida e
do legado do Mestre de Nazaré, mas infelizmente, apesar de serem ideias
extravagantes, acabam sendo admitidas como verdadeiras a partir da aceitação de
premissas ingênuas.
Como analisamos, o Espiritismo alerta para uma
visão da natureza biológica de Jesus, desmistifica a virgindade de Maria,
mostrando sua grandeza maternal. A legítima literatura espírita juntamente com
os ensinamentos recebidos dos espíritos superiores (durante a Codificação)
garante que Deus jamais quebraria a harmonia das leis da natureza. Por que
haveria Jesus de desrespeitar a lei de reprodução biológica.
Referência
bibliográfica:
[1] KARDEC, Allan. Revista Espírita,
janeiro de 1862, Brasília: Ed. Edicel, 2002
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