E
naquele dia, segundo narra Mateus no capítulo V do seu Evangelho, Jesus tendo
subido o monte, premia aos presentes com uma das mais belas peças que o
pensamento humano teria em sua biblioteca universal eternizando-o como o Sermão
do Monte. Ali o maior dos sábios que pisou a Terra propala as Bem-Aventuranças
e encaminha a grande lição para quem objetive encontrar o caminho para o
encontro com o seu deus interior. Lançou simplesmente o código adequado para a
manutenção do coração tranquilo e a mente focalizada no crescimento pessoal em
um mundo tão incendiado pelas imperfeições que permeiam as relações humanas.
Nesse
tratado de capacitação sociológica, lança um alerta que desafia as tradições
vingativas que alimentam o ódio entre as pessoas. Tal pode ser observado
notadamente nos versículos contidos entre 38 e 42, quando demole o alicerce da
lei de talião, proposta no Código de Hamurabi (1780 a.C) e depois incluída por
Moisés na legislação que impunha à população que saía do Egito, cujo enunciado
é mundialmente conhecido como “dente por dente olho por olho”. Convida-nos a
ser flexíveis diante do mal, ao determinar que o “não resistir ao mal” seria a
melhor forma de combatê-lo, sem que fôssemos tomados pelo ímpeto de devolver ao
outro a má atitude recebida. Daí nos convida a dar mais do que solicitado (se
alguém lhe pede a túnica dê a capa e se obrigado a caminhar uma milha, caminha
outra mais), numa firme alusão ao que pode ser realizado por cada um diante das
muitas solicitações e implicações da sociedade. Talvez a mais forte sentença
seja aquela que recomenda oferecer a outra face quando sobre a direita tivesse
desferida uma agressão.
Jesus
sinaliza uma lei geral de respeito ao outro que ainda não foi contemplada por
nenhuma instituição humana que se diz protetora dos direitos humanos. Torna a
boa convivência uma canção que extrapola ao incômodo que nos agride sempre que
nos sentimos violados e aflitos quando a incompreensão e a violência nos
alcançam.
A
sociedade interpreta que o combate do mal pelo mal é sinal de força e caráter e
reagir à ofensa na mesma proporção configura coragem. O que a mensagem de Jesus
propõe é uma permuta inteligente. Acena para a possibilidade do uso das funções
superiores da mente humana. A região que reage na mesma proporção provém do
comando do cérebro primitivo, idêntico ao dos animais de outras escalas. Agir
na direção proposta por Jesus significa ajustar o controle do cérebro superior,
estrutura que só existe na espécie humana. A proposição é para que troquemos a
apressada decisão do cérebro primitivo pela refletida atitude do cérebro
superior, aquele que já consegue estagiar no acolhimento adequado das forças do
instinto, o qual é um poderoso elemento da manutenção da existência.
Fundamental
que respeitemos os nossos limites tanto quanto aprendizagem em entender as
grandes dificuldades que visitam a vida do outro. Aprender a pacificar não é
covardia, pois o covarde jamais será alguém que é capaz de buscar a paz antes
de qualquer outra opção, ou será que queremos listar Gandhi, Chico Xavier,
Martin Luther King na condição de covardes que não utilizaram as armas da
vingança da injúria e do desrespeito? Permutemos a reação ao mal pela Ação no
Bem e certamente estaremos dizendo SIM ao Sermão do Monte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário