A legislação humana, em especial o legislador,
é muito gentil com os poderosos que fazem parte de suas zonas de relação.
Diga-se de passagem, um desvio da justiça que se arrazoa, deveria ser cega, e
alcançar a todos indistintamente. Por essa razão é costumeiro em países
subdesenvolvidos, que vivem às voltas com problemas de natureza ética, a
manutenção de brechas para cometimentos que resultam em arquivamento ou
absolvição, após rituais denominados julgamentos.
Tomando
as palavras de Jesus como referência, parece que a lei espiritual não pauta
pela mesma caderneta que estatuiu as leis humanas. Ao se referir aos
Escândalos, o Mestre (Lucas XVII; v1) é categórico ao proferir: “É impossível
que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm!”. Não seria forçar a
barra que se interprete a palavra “escândalo” como qualquer situação que
envolva comprometimento de alguém com práticas capazes de feri-lo. Essas tais
ações que têm o beneplácito da justiça humana aos amigos do rei, quando
avaliadas pela justiça espiritual acabam por revelar a sua degradação.
É comum que os fenômenos naturais produzam
milhares de infortúnios às populações atingidas por cataclismos (perde-se
vidas, posses, carreiras) e isso é uma forma de escândalo. Nesses casos não há
um escandalizador, ninguém desencadeou ou deixou de vistoriar o atrito das
placas tectônicas que produzem tsunamis e tremores de terra mundo afora ou
acionou um botão para que um vulcão entre em erupção.
Não é dessa forma que acontece quando os mares,
os rios e o subsolo são alcançados pelos refugos do enriquecimento humano
desproporcional que ameaçam a Natureza e impõe às pessoas condições de
degradação e morte. Nesses casos há responsáveis pelo escândalo que haverão de
responder espiritualmente, apesar da pena da lei humana se dignar apenas a
aplicar sanções que passam longe de servir como corretivo aos que privam do
mesmo camarim de notórios.
O que há
de implacável nessas circunstâncias é que as práticas humanas deterioradas
ficam sedimentadas na consciência de quem as produz, apesar de conseguirem se
livrar das aparências do dolo, mister do compadrio dos seus pares. As Leis
Divinas, no entanto não logram ser enganadas. Segundo a questão 621 de O Livro
dos Espíritos é “na Consciência” que se encontra “escrita” a Lei de Deus. Por
mais que alguém se esforce para disfarçar e lançar entulhos sobre essa
realidade, cedo ou tarde terá que se confrontar com ela, ainda travestido pelo
corpo ou depois de perdê-lo, findada a existência.
Não há crime que consiga driblar os desígnios
da vida. Deus não se vende e a Sua Lei e não considera que valores monetários
aliviem consciências frente aos desastres humanos. Reflitamos sobre os delitos
que cometemos com implicação à existência dos outros, porque o tribunal que nos
julga na Terra é falível e às vezes venal, mas o tribunal da Consciência nada
deixa passar. Reenvia tudo para o refazimento obrigatório, jamais por castigo
divino, senão por necessidade de reparação, quando então a Reencarnação
estabelece as tramas que põe o escandalizador diante do escândalo, a fim de que
solucione os problemas que gerou.
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