Em 13 de agosto, nosso País foi mais uma vez
sacudido por uma intensa onda de violência, porquanto uma série de ataques
ocorreram em Osasco, Barueri e Itapevi, na Região Metropolitana de São Paulo,
ocasionando dezenas de mortos. Comumente, os noticiários publicam matérias a
respeito da violência, envolvendo crianças, idosos e animais, sem contar os
casos ligados ao tráfico, aos assaltos, aos assassinatos, inclusive no
trânsito.
Até mesmo a Natureza sofre investidas à custa
do “progresso”, acarretando graves perturbações climáticas, como igualmente
matança de animais e derrubada exorbitante de árvores. Os programas de
televisão mostram as garras da agressividade. sempre do agrado de seu público.
À tarde e ao anoitecer, vários canais exibem dantescos casos policiais, como
também, cenas com familiares insatisfeitos, exteriorizando seus conflitos com
discussões seguidas de tapas e empurrões e os telespectadores entusiasmam-se
com o “barraco armado”, locupletando-se com a confusão e o escândalo em
público.
Mais tarde, as emissoras levam ao ar a
brutalidade inserida nas novelas e nos enlatados nacionais e estrangeiros.
Portanto, o horário nobre mostra o que o público quer assistir, conquistando
exuberante audiência.
BOX-1: A INFLUENCIAÇÃO ATRAVÉS DO PENSAMENTO
A Doutrina Espírita, consonante com o Evangelho
do Cristo ressalta que “onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu
coração” (Mateus 6:20), afirma que influenciamos e somos influenciados através
do pensamento, tanto de encarnados e de desencarnados. O indivíduo, assistindo
um determinado filme ou programa de TV, está normalmente sintonizado na mesma
faixa vibratória, sendo importante escolher o que for compatível com a harmonia
e a paz.
Em “Obras Póstumas” (1ª Parte, capítulo 8), o
insigne Allan Kardec aborda o dinamismo das criações mentais, dizendo: “Sendo
os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre aqueles como o som atua
sobre o ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se
pois, dizer em verdade, que há ondas nos fluidos e radiações de pensamento, que
se cruzam sem se confundirem, como há, no ar, ondas e radiações sonoras.
Diz ainda mais; criando imagens fluídicas, o
pensamento se reflete no envoltório perispirítico como num espelho, ou então,
como essas imagens de objetos terrestres se refletem nos vapores do ar, tomando
aí um corpo e, de certo modo, fotografando-se.
Se um homem, por exemplo, tiver a ideia de
matar alguém, embora seu corpo material se conserve impassível, seu corpo
fluídico é acionado por essa ideia e a reproduz com todos os matizes. Ele
executa fluidicamente o gesto, o ato que o indivíduo premeditou. Seu pensamento
cria a imagem da vítima e a cena inteira se desenha, como num quadro, tal qual
lhe está na mente” (“Fotografia e Telegrafia do Pensamento”).
O indivíduo, sintonizado com a violência,
reflete em sua intimidade espiritual as criações mentais deletérias, em
completo desajuste psíquico, distantes da Lei de Amor, Justiça e Caridade, tão
bem apregoadas e exemplificadas pelo excelso Mestre Jesus.
Em verdade, o homem retrata o atraso moral em
que se encontra, habitante de um mundo ainda inferior espiritualmente,
denominado de provas e expiações, sofrendo o reflexo do seu primitivismo
espiritual, com predomínio do egoísmo, da força e da violência, resquícios do
instinto animal que até persistem em suas atitudes hodiernas.
Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”,
capítulo 11, “A Lei do Amor”, é ensinado que “no seu ponto de partida, o homem
só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído
e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento”.
Box 2: A SOLUÇÃO PROPORCIONADA PELA DOUTRINA ESPÍRITA
O que a Doutrina Espírita pode fazer para
colaborar com a erradicação da violência na Terra? O Espiritismo propõe uma
educação bem entendida, conforme diz Kardec, para curar as chagas da desordem e
da imprevidência.
O codificador não se refere à educação intelectual,
mas sim, à educação moral: “Não nos referimos, porém, à educação moral pelos
livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute
hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos.
Continua Kardec: “Quando essa arte for
conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e
de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que
é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus
dias inevitáveis” (Q. 685-a de “OLE”). O Mestre de Lyon, como inolvidável
educador, faz questão de ressaltar que a solução é somente a educação moral,
trabalhando o caráter do educando.
O ideal é que a educação moral do espírito
reencarnado comece já no ventre materno, ajudando o indivíduo a combater suas
más tendências contraídas em vivências transatas, como ser pré-existente e
interexistente, conforme esclarece o Espiritismo, discorrendo a respeito da
existência do espírito, antes e além das dimensões físicas.
De permeio com vibrações assaz amorosas, a mãe
deve conversar com o bebê, transmitindo-lhe palavras alicerçadas na paz e na
esperança. Pode começar a falar do Evangelho de Jesus, iniciando o trabalho
majestoso de afloramento das potencialidades divinas, trazendo à luz o que está
contido em essência nos refolhos mais íntimos de toda a criatura.
A educação moral visa a consagração do bem
acima de tudo, formando homens de bem, conforme ensinou Jesus, trabalhando
sempre pela paz e nunca cogitando a violência.
O indivíduo, na fase infantil, é mais
suscetível ao aperfeiçoamento espiritual, quando suas tendências anteriores
estão muito entorpecidas devido ao processo reencarnatório, conforme ensino
ministrado em “O Livro dos Espíritos”, questão 383: “Qual é, para o Espírito, a
utilidade de passar pelo estado de infância?” A resposta — “O Espírito se
encarnando para aperfeiçoar-se é mais acessível, durante esse período, às
impressões que recebe, que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem
contribuir aqueles que estão encarregados de sua educação”.
É importante esse período para que o ser cresça
espiritualmente, no qual suas tendências ruins estejam parcialmente adormecidas
e assim possa receber a educação moral necessária para seu reerguimento moral e
ser vencedor nesse embate, onde o bem preponderá.
A Doutrina Espírita aparece como aliada forte e
essencial na ministração da educação moral, nesse período de vida física,
através da evangelização infantil, que é imprescindível para despertar o
espírito reencarnante para o conhecimento do caminho da verdade e da vida com o
Cristo. Isso erradicará de si seus sentimentos malsãos e o despertará para o
amor em ação.
Como ensina a Doutrina Espírita é, na infância,
“que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o
dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas” (Q.
385 de “OLE”), como na questão 208 de “OLE”: “Nenhuma influência exercem os
espíritos dos pais sobre o filho depois do nascimento deste”? A resposta — “Ao
contrário: bem grandes influências exercem. Conforme já dissemos, os espíritos
têm que contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os espíritos dos
pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Constitui-lhes
isso uma tarefa. Tornar-se-ão culpados, se vierem a falir no seu desempenho”.
O saudoso Pedro de Camargo (Vinícius), nas
obras “Nas Pegadas do Mestre” e “Na Escola do Mestre” definiu muito bem que
salvar é educar. Disse que “a sociedade contemporânea necessita duma força que
a levante da degradação e do caos em que se encontra. Essa força há de atuar de
dentro para fora, do interior para o exterior, afinando os sentimentos,
despertando a razão e a consciência dos homens. Esta força indubitavelmente é a
educação”.
Importantíssimo frisar que o ambiente familiar
é primordial para o processo de crescimento evolutivo dos seus integrantes.
Quando a infância está desamparada, a sociedade está em crise. A questão 813 de
“OLE” é bem elucidativa: “Há pessoas que, por culpa sua, caem na miséria.
Nenhuma responsabilidade caberá disso à sociedade? Resposta — “Mas, certamente.
Já dissemos que a sociedade é muitas vezes a principal culpada de semelhante
coisa. Demais, não tem ela que velar pela educação moral dos seus membros? Quase
sempre, é a má educação que lhes falseia o critério, ao invés de sufocar-lhes
as tendências perniciosas”.
Os Instrutores do Além referem-se à educação
desprovida da moral, incapacitada de reformar as más tendências imantadas no
ser reencarnante e refratária à mudança de caráter e enfatizam: “(...) se uma
boa educação moral lhes tivesse ensinado a lei de Deus, não teriam caído nos
excessos que os levaram à perda. E é disso, sobretudo, que depende o
melhoramento do vosso globo” (Q. 889 de “OLE”).
O empecilho maior que dificulta a implantação
da educação moral é a enraização do egoísmo das profundezas do homem, que “se
enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominante sobre a vida
material e, sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do
vosso estado futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas” (Q. 917 de
“OLE”).
Kardec, comentando a explanação dos Espíritos
Superiores, diz que o egoísmo tem que ser “atacado em sua raiz, isto é, pela
educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela
que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida,
constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os
caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á
corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas”.
A obra “Pedagogia Espírita”, Herculano Pires,
afirma que “(...) Espiritismo é educação. Educação individual e educação em
massa. (...) hoje, o Espiritismo se transformou em uma convicção de massas.
Cumprindo assim um dos seus objetivos, de acordo com os postulados doutrinários
e a previsão de Kardec, Denis, Delanne e seus companheiros, o Espiritismo de
massas exige educação massiva”.
O fim precípuo da Doutrina Espírita é a
instrução moral do homem. “O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos
que a vêm habitar, os bons predominarem, porque, então, farão que aí reinem o
amor e a justiça, fonte do bem e da felicidade. Por meio do progresso moral e
praticando as leis de Deus é que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos
e dela afastará os maus. Estes, porém, não a deixarão, senão quando daí estejam
banidos o orgulho e o egoísmo” (Q. 1019 de “OLE”).
O reino de Deus na Terra terá como seus súditos
os homens de bem, vivenciando o amor e a justiça. Para que esse estado de
direito surja o mais rápido possível é necessária uma pedagogia integral, como
a espírita, proporcionando os subsídios necessários para a suplantação dos
flagelos morais que assolam o Planeta.
* PUBLICADO ORIGINALMENTE EM SETEMBRO DE 2015.
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