Incontáveis vezes referido como doutrina
codificada por Allan Kardec em abril de 1857, o Espiritismo sofreu grande
influência do espírito feminino que pode ser encontrado nas entrelinhas do seu
processo de formação inicial e manutenção até os nossos dias. O Codificador
realizou incursões em diversas casas, onde os fenômenos espíritas eram
praticados por toda a Europa, e as consultas que realizou com a finalidade de
obter as informações dispostas em suas obras clássicas provinham em sua maior porcentagem
de mulheres médiuns.
A
Doutrina Espírita, inclusive em sua base doutrinária, estabelece que homens e
mulheres sejam pessoas encarnadas em condição de alternância de gêneros de uma
existência para outra, o que significa que o papel masculino e feminino deve
ser aprendido por todos os Espíritos indistintamente. Logo, o respeito e o
protagonismo que as mulheres alcançaram desde todos os tempos no Espiritismo
não passam de uma condição natural e indiscutível.
Impossível
refletir a respeito de todas as dificuldades enfrentadas por Allan Kardec sem
que, de imediato, se busque a figura feminina de Amélie Gabrielle Boudet
(França 1795 – 1883). A professora, detentora de um diploma de primeira classe
em Paris, que desposou o Codificador tinha, incomuns para a época, 09 anos mais
que o esposo. Os motivos que os enlaçou, além daqueles afetivos, apontavam para
projetos de educação e resistência política, nos quais se municiavam
reciprocamente de informações e ânimo.
Atingido
o tempo do lançamento do Espiritismo no mundo, a Sra. Boudet continuou sendo a
companheira incansável de todos os momentos, com grande contributo intelectual
e apoio emocional em momentos de dúvida e vacilação de Kardec, presença
incontestável nas muitas madrugadas em que avançavam os estudos da nova
doutrina em formação. Considerando a sua pertinência intelectual nos temas
educacionais, em que faziam dupla nas iniciativas profissionais e humanistas, é
possível avaliar a sua benéfica intervenção em temas tão novos que retratava
aquela pedagogia espiritual inédita, saída da lavra da mediunidade para o pasmo
da sociedade francesa da época.
Lamentavelmente
a história não faz justiça ao papel que terá desempenhado naqueles tempos
férreos de árduas lutas do nascimento do Espiritismo. Pouco se tem de noticias
de sua abnegada atuação que, aliás, se prolongou até a sua desencarnação, quase
20 anos da viuvez.
Pelo
que temos de informação, mas especialmente pelo que se depreende de sua
envergadura como mulher e intelectual do seu tempo, alguém que empregou parte
de sua vida na entrega aos menos favorecidos daquela época tão injusta com os
mais pobres, é justo que a contemporaneidade dos espíritas reconheça, naquela
mulher de pequena estatura, de grande braveza espiritual e moral, a condição de
Dama do Espiritismo. O nosso preito de gratidão à Amélie Gabrielle Boudet, a
senhora Kardec.
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