O tema
corrupção, em nosso país, nunca foi tão comentado como na época atual, com o
surgimento da operação Lava Jato, consistindo na maior iniciativa de combate à
bandalheira e lavagem de dinheiro da história do Brasil. Iniciada em março de
2014, apontou rombo vultoso de bilhões de reais, envolvendo importantes
políticos e conceituadas empreiteiras, revelando a ação das quadrilhas,
principalmente, na maior estatal do país (a Petrobras), bem como em contratos
consideráveis como o da construção da usina nuclear Angra 3.
Para o
Campeonato Mundial de Futebol FIFA de 2014, as garras dos corruptos
concentraram-se nos estádios de futebol, com investimentos de centenas de
milhões de reais em cada um. Exemplificando, temos o Arena da Amazônia, que
custou R$ 660,5 milhões para abrigar 44 mil torcedores. No Mané Garrincha, em
Brasília, gastaram R$ 1,403 bilhão, com capacidade para 72 mil pessoas. Com uma
média bem baixa de público e de renda, são conhecidos com a nada honrada
designação de "elefantes brancos", visto que seriam imperiosos
milhares de anos para reconquistar o investimento feito nesses estádios.
Corrupção-crime cometido contra a
população
Os
bilhões de reais desviados dos orçamentos públicos da União, dos Estados e dos
Municípios poderiam ser utilizados para o bem-estar da população, voltados
principalmente à dignidade na educação e na saúde. Certamente, para obterem-se
vantagens tão consideráveis, muitas pessoas foram lesadas, ratificando o
seguinte pensamento do historiador e escritor britânico John Dalberg-Acton,
desencarnado em 1902: "O poder tende a corromper, e o poder absoluto
corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens
maus”. A corrupção está diretamente associada ao acentuado e crescente avanço
da pobreza e miséria de uma nação.
Por
conta do gigantesco roubo, quantos seres humanos deixaram de ser atendidos ou
são colocados nas macas nos corredores dos hospitais! Quantos que aguardam por
muito tempo as cirurgias que nunca são realizadas por carência material e por
falta de profissionais de saúde! Muitos são os doentes cancerosos que não são
tratados por falta de medicamentos específicos! Quantas crianças matriculadas
em escolas distantes de suas residências por falta de salas de aulas
disponíveis! A constatação infeliz de ensino em todos os graus muito
deficiente! A carência de transportes, infraestrutura e de segurança, direitos
essenciais à vida! Os recursos desviados poderiam estar sendo usados para
extinção do desumano desemprego e da mortalidade infantil. Com efeito, podemos
considerar indiretamente o corrupto como um assassino contumaz.
Exortações do Cristo nos Evangelhos
O
Mestre Jesus alertou: “Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário
que venham escândalos” (1). Enfatizou Kardec: “No sentido evangélico, a acepção
da palavra escândalo, tão amiúde empregada, é muito mais geral, pelo que, em
certos casos, não se lhe apreende o significado. Já não é somente o que afeta a
consciência de outrem, é tudo o que resulta dos vícios e das imperfeições
humanas, toda reação má de um indivíduo para outro, com ou sem repercussão. O
escândalo, neste caso, é o resultado efetivo do mal moral.” (2) Continua o
Mestre: “Mas, ai do homem por quem o escândalo venha” (3).
Com
certeza, todos os políticos, gestores e empresários envolvidos no malfeito
assumem débitos espirituais de grande magnitude e terão de expurgá-los no
decorrer das reencarnações. Importante que, na atual vivência física, possam já
iniciar esse processo de depuração espiritual, assim como já está acontecendo
com muitos dos envolvidos, passando pelas agruras de uma prisão. Inclusive,
tanto no Brasil, quanto no Peru e em outros países (Panamá, Guatemala, Coreia
do Sul), ex-presidentes, felizmente, foram parar atrás das grades por
escândalos de corrupção.
Mesmo
quando argumentam que nada sabiam do escândalo localizado ao seu redor, serão
responsabilizados espiritualmente, igualmente, pela omissão e descaso com o
poder governamental, conforme o Cristo assegura, na sublime Parábola dos
Talentos, ao homem que não ousou utilizar o talento que lhe foi destinado,
perdendo a chance de exteriorizar suas potencialidades: “Lançai, pois, o servo
inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes” (4).
O
despreparo para a função pública poderá atenuar seus compromissos expiatórios.
Contudo, a possibilidade de desejarem voltar ao poder, apesar da demonstração
já revelada de incapacidade ou incompetência para gerir as finanças do país,
acarretar-lhes-ão mais dívidas espirituais.
Amealhar
bens ilicitamente leva os infratores para caminhos desastrosos na dimensão
extrafísica, onde estarão subjugados a um tribunal localizado nos recessos
divinos da própria consciência e só poderão recuperar a paz e a liberdade após
passarem pelos suplícios da dor reparadora, por meio de vivências físicas de
cunho expiatório. Clamou Jesus: “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo e
perder a sua alma?” (5).
O
espírito de Pascal corrobora o Mestre, dizendo que “o homem só possui em plena
propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Não tem das suas riquezas
a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada
do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os
conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que
ninguém lhe pode arrebatar” (6).
O
Cristo enfatiza que “onde estiver o vosso tesouro aí estará também o vosso
coração” (7). Se o indivíduo leva a vida fixando os seus valores na riqueza
amealhada desonestamente, muito sofrimento vivenciará após a morte física. Ante
a realidade espiritual da sobrevivência, estará sintonizado com entidades
igualmente inferiores, ainda não esclarecidas, dentre as quais estão antigos
desafetos. Arcará, também, com a realidade da constatação que, pela corrupção,
contribuiu para as superlativas aflições dos seus semelhantes, a quem teria de
prestar ajuda e colaboração, ignorando conscientemente que o objetivo central
da política é a obtenção do bem comum, proporcionando felicidade natural ao seu
povo. Já dizia Charles Chaplin, um dos atores mais famosos do período do cinema
mudo e conceituado humanista, com muita propriedade e bom humor: “Eu continuo a
ser uma coisa só, apenas uma coisa – um palhaço, o que me coloca em um plano
muito maior do que qualquer político”.
O
amoroso Jesus igualmente ressalta: “E ninguém, acendendo uma candeia, a cobre
com algum vaso, ou a põe debaixo da cama; mas põe-na no velador, para que os
que entram vejam a luz. Porque não há coisa oculta que não haja de manifestar-se,
nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz” (8). Certamente, tudo que o
homem faz, mesmo às escondidas, é observado por inúmeras testemunhas invisíveis
à ótica física, como igualmente são gravadas na consciência de cada culpado.
Mesmo que a justiça humana não catalogue os clamorosos deslizes cometidos
contra o povo, e isso acontece muito, principalmente com a ajuda de excelentes
advogados, ardilosos juízes e brechas na lei, a legislação divina nunca falha,
pronunciando o veredito que culpabiliza sem erros o réu e seus diretos e
indiretos cúmplices, todos sofrendo as consequências de suas ações criminosas.
A Lei de Deus prima por ser sempre inabalável e incorruptível.
Prisão espiritual não é eterna
"Deus
é Amor", proporcionando ao espírito imortal, diante da eternidade, a
oportunidade da redenção espiritual. A prisão, segundo o Mestre, não é eterna,
tem seu fim. Não existe o chamado “inferno eterno”. A condenação é transitória,
em consonância com o ensinamento crístico: "Em verdade te digo que de
maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil" (9).
A
prisão, portanto, não é definitiva e, devido à bendita e excelsa reencarnação,
existem meios de serem pagas as dívidas contraídas, por meio de novas
oportunidades de refazimento, de reparação, visando à reconciliação necessária
consigo mesmo e com os seus semelhantes. O Cristo nos ensina que a misericórdia
divina é incomensurável e até mesmo chega a nos exortar na prática da
indulgência com os nossos semelhantes, solicitando que perdoássemos “setenta
vezes sete”, isto é, infinitamente (10).
Pelo
mau proceder em vivências transatas, desejoso de libertar-se do tribunal de sua
própria consciência, ansiando livrar-se do desajuste em que se situa, o
Espírito sai da prisão, vestindo a roupa de carne e esquecendo-se
transitoriamente do que fez. Contudo, seu corpo espiritual (perispírito) está
vincado, registradas as consequências morais dos desequilíbrios impetrados pelo
mau uso do livre-arbítrio. Então, no momento da formação de sua indumentária
física, estando o molde lesado, a montagem é realizada com defeito ("A
cada um segundo as suas obras''). Daí a explicação doutrinária para a causa
espiritual das doenças, principalmente as hereditárias, cujo entendimento
transcendental se torna impossível pelas religiões dogmáticas, acreditando
infantilmente que o Espírito é criado junto com o corpo.
Lesões expiatórias devido aos atos de
corrupção
O
indivíduo corrupto, como igualmente os que lhe deram apoio e estímulo, retorna
à verdadeira pátria, a dimensão espiritual, com suas mentes e mãos maculadas,
podendo, portanto, reencarnar, portando lesões congênitas de malformação dos
membros e acometimentos mentais de grande magnitude, associados a quadros
dantescos de pobreza ou miséria. Está agora sujeito às consequências de seus
atos impensados do pretérito. De tanto surrupiar os bens dos semelhantes,
retorna com déficit e prejuízo da empatia, com intensa dificuldade de construir
vínculos, sem se sentir atraído pelas pessoas e sem interesse em tentar falar e
comunicar, sendo enquadrado como paciente complexo de difícil tratamento
neurológico e psiquiátrico. Os mesmos que desviaram recursos que poderiam ser
utilizados para salvar vidas, agora retornam padecendo enfermidades atrozes,
sofrendo o mesmo rigor que infligiram no passado aos seus semelhantes.
Que
tenhamos em nossos corações a oportunidade de vibrar positivamente para os que
nos roubam, mesmo escandalosamente, orando por eles, sabendo que a Justiça
Divina é inexorável e eles não deixarão de cumprir suas aflitivas penas
espirituais. Que tenhamos sentimento de indignação, mas nunca de ódio e
violência. Corroboramos o estimado e saudoso escritor espírita, Luiz Antônio
Millecco Filho, que ensinava que os egoístas, por excelência, criaram a extrema
riqueza e, consequentemente, a extrema pobreza. Reencarnando na miséria, a
própria opressão vivenciada agora faz por levar os oprimidos a superá-la e sem
esse processo dialético não haveria crescimento espiritual.
O
Espiritismo, lutando pela derrota do egoísmo e o triunfo da fraternidade
universal, pouco a pouco, dará uns piparotes nos impulsos malignos da sombria
política. Allan Kardec profetiza, no livro Obras Póstumas, que o regime
político do futuro será a aristocracia intelecto-moral (Aristocracia - do grego
aristos (melhor) e cracia (poder) significa poder dos melhores), com os nossos
governantes e legisladores já espiritualizados, abrilhantando suas ações,
integrando a inteligência paulatinamente com a moral. Certamente, acreditamos
que caminharão uníssonos com o Evangelho Redentor do Cristo Jesus, amando com
fervor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos.
Assim
seja!
Bíblia online e ESE
1- O Evangelho de Mateus, capítulo XVIII,
versículo 7.
2- O Evangelho segundo o Espiritismo,
Capítulo VIII, item 12.
3- O Evangelho de Mateus, capítulo XVIII,
versículo 7.
4- O Evangelho de Mateus, capítulo XXV,
versículo 30.
5- O Evangelho de Marcos, capítulo XVIII,
versículo 36.
6- O Evangelho Segundo o Espiritismo,
capítulo XVI, item 9.
7- O Evangelho de Mateus, capítulo VI,
versículo 21.
8- O Evangelho de Lucas, capítulo VII,
versículos 16-18.
9- O Evangelho de Mateus, capítulo V,
versículos 25-26.
10- O Evangelho de Mateus, capítulo XVIII,
versículos 21-22.
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