domingo, 14 de julho de 2019

CORRUPTOS DEPOIS DA MORTE




 


O tema corrupção, em nosso país, nunca foi tão comentado como na época atual, com o surgimento da operação Lava Jato, consistindo na maior iniciativa de combate à bandalheira e lavagem de dinheiro da história do Brasil. Iniciada em março de 2014, apontou rombo vultoso de bilhões de reais, envolvendo importantes políticos e conceituadas empreiteiras, revelando a ação das quadrilhas, principalmente, na maior estatal do país (a Petrobras), bem como em contratos consideráveis como o da construção da usina nuclear Angra 3.

Para o Campeonato Mundial de Futebol FIFA de 2014, as garras dos corruptos concentraram-se nos estádios de futebol, com investimentos de centenas de milhões de reais em cada um. Exemplificando, temos o Arena da Amazônia, que custou R$ 660,5 milhões para abrigar 44 mil torcedores. No Mané Garrincha, em Brasília, gastaram R$ 1,403 bilhão, com capacidade para 72 mil pessoas. Com uma média bem baixa de público e de renda, são conhecidos com a nada honrada designação de "elefantes brancos", visto que seriam imperiosos milhares de anos para reconquistar o investimento feito nesses estádios.


Corrupção-crime cometido contra a população

Os bilhões de reais desviados dos orçamentos públicos da União, dos Estados e dos Municípios poderiam ser utilizados para o bem-estar da população, voltados principalmente à dignidade na educação e na saúde. Certamente, para obterem-se vantagens tão consideráveis, muitas pessoas foram lesadas, ratificando o seguinte pensamento do historiador e escritor britânico John Dalberg-Acton, desencarnado em 1902: "O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus”. A corrupção está diretamente associada ao acentuado e crescente avanço da pobreza e miséria de uma nação.

Por conta do gigantesco roubo, quantos seres humanos deixaram de ser atendidos ou são colocados nas macas nos corredores dos hospitais! Quantos que aguardam por muito tempo as cirurgias que nunca são realizadas por carência material e por falta de profissionais de saúde! Muitos são os doentes cancerosos que não são tratados por falta de medicamentos específicos! Quantas crianças matriculadas em escolas distantes de suas residências por falta de salas de aulas disponíveis! A constatação infeliz de ensino em todos os graus muito deficiente! A carência de transportes, infraestrutura e de segurança, direitos essenciais à vida! Os recursos desviados poderiam estar sendo usados para extinção do desumano desemprego e da mortalidade infantil. Com efeito, podemos considerar indiretamente o corrupto como um assassino contumaz.

Exortações do Cristo nos Evangelhos

O Mestre Jesus alertou: “Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos” (1). Enfatizou Kardec: “No sentido evangélico, a acepção da palavra escândalo, tão amiúde empregada, é muito mais geral, pelo que, em certos casos, não se lhe apreende o significado. Já não é somente o que afeta a consciência de outrem, é tudo o que resulta dos vícios e das imperfeições humanas, toda reação má de um indivíduo para outro, com ou sem repercussão. O escândalo, neste caso, é o resultado efetivo do mal moral.” (2) Continua o Mestre: “Mas, ai do homem por quem o escândalo venha” (3).

Com certeza, todos os políticos, gestores e empresários envolvidos no malfeito assumem débitos espirituais de grande magnitude e terão de expurgá-los no decorrer das reencarnações. Importante que, na atual vivência física, possam já iniciar esse processo de depuração espiritual, assim como já está acontecendo com muitos dos envolvidos, passando pelas agruras de uma prisão. Inclusive, tanto no Brasil, quanto no Peru e em outros países (Panamá, Guatemala, Coreia do Sul), ex-presidentes, felizmente, foram parar atrás das grades por escândalos de corrupção.

Mesmo quando argumentam que nada sabiam do escândalo localizado ao seu redor, serão responsabilizados espiritualmente, igualmente, pela omissão e descaso com o poder governamental, conforme o Cristo assegura, na sublime Parábola dos Talentos, ao homem que não ousou utilizar o talento que lhe foi destinado, perdendo a chance de exteriorizar suas potencialidades: “Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes” (4).

O despreparo para a função pública poderá atenuar seus compromissos expiatórios. Contudo, a possibilidade de desejarem voltar ao poder, apesar da demonstração já revelada de incapacidade ou incompetência para gerir as finanças do país, acarretar-lhes-ão mais dívidas espirituais.

Amealhar bens ilicitamente leva os infratores para caminhos desastrosos na dimensão extrafísica, onde estarão subjugados a um tribunal localizado nos recessos divinos da própria consciência e só poderão recuperar a paz e a liberdade após passarem pelos suplícios da dor reparadora, por meio de vivências físicas de cunho expiatório. Clamou Jesus: “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo e perder a sua alma?” (5).

O espírito de Pascal corrobora o Mestre, dizendo que “o homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar” (6).

O Cristo enfatiza que “onde estiver o vosso tesouro aí estará também o vosso coração” (7). Se o indivíduo leva a vida fixando os seus valores na riqueza amealhada desonestamente, muito sofrimento vivenciará após a morte física. Ante a realidade espiritual da sobrevivência, estará sintonizado com entidades igualmente inferiores, ainda não esclarecidas, dentre as quais estão antigos desafetos. Arcará, também, com a realidade da constatação que, pela corrupção, contribuiu para as superlativas aflições dos seus semelhantes, a quem teria de prestar ajuda e colaboração, ignorando conscientemente que o objetivo central da política é a obtenção do bem comum, proporcionando felicidade natural ao seu povo. Já dizia Charles Chaplin, um dos atores mais famosos do período do cinema mudo e conceituado humanista, com muita propriedade e bom humor: “Eu continuo a ser uma coisa só, apenas uma coisa – um palhaço, o que me coloca em um plano muito maior do que qualquer político”.

O amoroso Jesus igualmente ressalta: “E ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da cama; mas põe-na no velador, para que os que entram vejam a luz. Porque não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz” (8). Certamente, tudo que o homem faz, mesmo às escondidas, é observado por inúmeras testemunhas invisíveis à ótica física, como igualmente são gravadas na consciência de cada culpado. Mesmo que a justiça humana não catalogue os clamorosos deslizes cometidos contra o povo, e isso acontece muito, principalmente com a ajuda de excelentes advogados, ardilosos juízes e brechas na lei, a legislação divina nunca falha, pronunciando o veredito que culpabiliza sem erros o réu e seus diretos e indiretos cúmplices, todos sofrendo as consequências de suas ações criminosas. A Lei de Deus prima por ser sempre inabalável e incorruptível.

Prisão espiritual não é eterna

"Deus é Amor", proporcionando ao espírito imortal, diante da eternidade, a oportunidade da redenção espiritual. A prisão, segundo o Mestre, não é eterna, tem seu fim. Não existe o chamado “inferno eterno”. A condenação é transitória, em consonância com o ensinamento crístico: "Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil" (9).

A prisão, portanto, não é definitiva e, devido à bendita e excelsa reencarnação, existem meios de serem pagas as dívidas contraídas, por meio de novas oportunidades de refazimento, de reparação, visando à reconciliação necessária consigo mesmo e com os seus semelhantes. O Cristo nos ensina que a misericórdia divina é incomensurável e até mesmo chega a nos exortar na prática da indulgência com os nossos semelhantes, solicitando que perdoássemos “setenta vezes sete”, isto é, infinitamente (10).

Pelo mau proceder em vivências transatas, desejoso de libertar-se do tribunal de sua própria consciência, ansiando livrar-se do desajuste em que se situa, o Espírito sai da prisão, vestindo a roupa de carne e esquecendo-se transitoriamente do que fez. Contudo, seu corpo espiritual (perispírito) está vincado, registradas as consequências morais dos desequilíbrios impetrados pelo mau uso do livre-arbítrio. Então, no momento da formação de sua indumentária física, estando o molde lesado, a montagem é realizada com defeito ("A cada um segundo as suas obras''). Daí a explicação doutrinária para a causa espiritual das doenças, principalmente as hereditárias, cujo entendimento transcendental se torna impossível pelas religiões dogmáticas, acreditando infantilmente que o Espírito é criado junto com o corpo.

Lesões expiatórias devido aos atos de corrupção       

O indivíduo corrupto, como igualmente os que lhe deram apoio e estímulo, retorna à verdadeira pátria, a dimensão espiritual, com suas mentes e mãos maculadas, podendo, portanto, reencarnar, portando lesões congênitas de malformação dos membros e acometimentos mentais de grande magnitude, associados a quadros dantescos de pobreza ou miséria. Está agora sujeito às consequências de seus atos impensados do pretérito. De tanto surrupiar os bens dos semelhantes, retorna com déficit e prejuízo da empatia, com intensa dificuldade de construir vínculos, sem se sentir atraído pelas pessoas e sem interesse em tentar falar e comunicar, sendo enquadrado como paciente complexo de difícil tratamento neurológico e psiquiátrico. Os mesmos que desviaram recursos que poderiam ser utilizados para salvar vidas, agora retornam padecendo enfermidades atrozes, sofrendo o mesmo rigor que infligiram no passado aos seus semelhantes.

Que tenhamos em nossos corações a oportunidade de vibrar positivamente para os que nos roubam, mesmo escandalosamente, orando por eles, sabendo que a Justiça Divina é inexorável e eles não deixarão de cumprir suas aflitivas penas espirituais. Que tenhamos sentimento de indignação, mas nunca de ódio e violência. Corroboramos o estimado e saudoso escritor espírita, Luiz Antônio Millecco Filho, que ensinava que os egoístas, por excelência, criaram a extrema riqueza e, consequentemente, a extrema pobreza. Reencarnando na miséria, a própria opressão vivenciada agora faz por levar os oprimidos a superá-la e sem esse processo dialético não haveria crescimento espiritual.

O Espiritismo, lutando pela derrota do egoísmo e o triunfo da fraternidade universal, pouco a pouco, dará uns piparotes nos impulsos malignos da sombria política. Allan Kardec profetiza, no livro Obras Póstumas, que o regime político do futuro será a aristocracia intelecto-moral (Aristocracia - do grego aristos (melhor) e cracia (poder) significa poder dos melhores), com os nossos governantes e legisladores já espiritualizados, abrilhantando suas ações, integrando a inteligência paulatinamente com a moral. Certamente, acreditamos que caminharão uníssonos com o Evangelho Redentor do Cristo Jesus, amando com fervor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos.

Assim seja!



Bíblia online e ESE
1- O Evangelho de Mateus, capítulo XVIII, versículo 7.

2- O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo VIII, item 12.

3- O Evangelho de Mateus, capítulo XVIII, versículo 7.

4- O Evangelho de Mateus, capítulo XXV, versículo 30.

5- O Evangelho de Marcos, capítulo XVIII, versículo 36.

6- O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XVI, item 9.

7- O Evangelho de Mateus, capítulo VI, versículo 21.

8- O Evangelho de Lucas, capítulo VII, versículos 16-18.

9- O Evangelho de Mateus, capítulo V, versículos 25-26.

10- O Evangelho de Mateus, capítulo XVIII, versículos 21-22.

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