Moisés nos aconselhou O QUE NÃO DEVEMOS FAZER
em nossa trajetória evolutiva, posteriormente, Jesus ensinou O QUE DEVEMOS
FAZER e o Espiritismo sugere COMO FAZER. Essas reflexões nos remeteram ao
“Projeto Espiritizar” volumoso estudo da coletânea psicológica de Joana de
Angelis organizado pela Federação espírita do estado de Mato Grosso, do qual me
situo como humílimo educando.
Dentre múltiplos temas propostos pelo
projeto, nomeamos o subtema “Culpa e direito de errar”, do módulo “Diretrizes
seguras para libertar-se da culpa”, que abreviaremos nas reflexões a seguir.
O movimento da culpa é resultante do culto ao
perfeccionismo, eis aí um capcioso quisto psicológico. Quando erramos, ao invés
de assumirmos atitudes reparadoras, cultuamos uma perfeição impraticável e nos
acusamos peremptoriamente, por conseguinte não nos consentimos o direito de
errar com a correspondente obrigação de reparar.
É importante aprendermos e refletirmos com os
erros, assumindo corajosamente a cogente reparação dos mesmos. Porém, se
mergulharmos na síndrome da inútil culpa, minamos a autoestima e nos punimos,
produzindo, assim, todo um estado psíquico de angústia. Deste modo, nos
magoamos com nós mesmos e conservamos uma espécie de ferida aberta na
consciência, apunhalando-a sem tréguas. À vista disso, não vivemos
equilibradamente e transformamos nossos anseios em azedumes, mágoas, mau humor
acoplados ao cortejo de antipatias, projetando nos outros os detritos psíquicos
que empilhamos.
Urge nos permitirmos o direito de errar. Até
porque fomos criados simples e ignorantes. Ademais, como é possível, em nosso
atual estágio evolutivo, acertar sempre? Isso é impossível! Assim raciocinando,
é fácil perceber que a culpa é intensamente injusta conosco, porque ela não nos
permite o direito de errar, aliás, direito que Deus nos proporcionou. Até
porque, fomos criados simples e ignorantes a fim de que evoluíssemos gradualmente,
errando e acertando até chegarmos à perfeição relativa, quando atingiremos o
nível do “Guia e Modelo” da humanidade. A partir de então não erraremos mais.
É crença vulgar e equivocada admitir a
Justiça Divina como condenatória e punitiva. As Leis de Deus, incrustadas na
consciência humana, não são punitivas, porém são educativas (provação) e
reeducativas (expiação). Ora, se não nos permitimos o direito de errar e o
dever de acertar, permaneceremos numa atitude preguiçosa passiva e acomodada. Para
evitar que isso ocorra, é urgente movimentarmo-nos ativamente para a forçosa
reparação ante os equívocos deliberados.
Para tal, urge reflexão consciencial, esforço
para nos harmonizarmos com as Leis divinas, coragem para pacificarmos nosso eu
e desenvolvermos virtudes. Evidentemente tudo isso é muito custoso. Mas não
podemos permitir os extremos, ou seja, nem exigirmos de nós perfeição e nem
ingressarmos na negligência de aperfeiçoamento, senão nos enleamos nas
tormentas ao invés de harmonizarmos com nós mesmos (em essência).
As quedas morais das experiências transatas
não hão como alterá-las, porque a compulsão da culpa que trazemos de ontem
somente será decomposta gradativamente, entretanto tudo que diz respeito aos
erros do presente podemos mudar. Como? Já não nutrindo o mecanismo da
inutilidade da culpa quando erramos hoje. Sim, podemos alterar-lhe, tendo
consciência de que podemos errar, todavia temos a obrigação de reparar o erro
de forma amorosa, bancando o bem na fronteira das nossas energias.
A culpa é um anseio de prepotência e
onipotência porque cobiçamos assumir os atributos de Deus ao divergirmos da Lei
de misericórdia e da Lei de amor, justiça e caridade. Ora, se Deus não nos
pune, então instituímos uma lei particular e através de um auto decreto
infligimos a lei de autopunição.
Naturalmente na condição de seres humanos
acertamos e erramos consecutivamente. Ou seja, temos sucessos ou desacertos nos
empreendimentos da vida. Um aprendiz consciente aprende mediante a experiência
que nem sempre é laureada de sucesso. Em verdade, o aprendiz consciente
objetiva o acerto, mas não na exigência de acertar, porém se esforça em dar o
melhor sem paranoides e sem desleixos desculpistas, porque é consciente e como
tal, se vê como aprendiz responsável.
Com efeito, se errar o foco dele será no
aprendizado em relação ao erro porque a exclusiva atitude positiva e proativa
frente ao erro é aprender com ele. Então o aprendiz se esforçará para dar o
melhor, admitindo que nesse movimento pode se equivocar e ao errar aprenderá e
reparará o engano quantas vezes forem necessárias.
Por outro lado, o perfeccionista não quer
errar, porque crê que o erro traz punição e como já está cansado de ser
penitenciado escolhe desenvolver a agreste culpa. Naturalmente sob o véu do
perfeccionismo está embutida a soberba egoica. Por causa disso, quando acerta
blasona, mas quando erra se percebe como um asno e se arremessa no
despenhadeiro da culpa. É essa dualidade que sobrevém ao perfeccionista.
A pessoa que acredita que a perfeição é o
limite entra no processo de autoflagelação, porque percebe como difícil e
ilusória qualquer aspiração libertadora. Na verdade, não é difícil, é fadigoso,
porque precisa larguear o amor para governar todas as demais virtudes que
transmutarão o processo de culpa. Porque a imprestável culpa é um movimento de
auto desamor profundo, uma cruel repressão do amor. O culpado quer sofrer as
consequências martirizantes dos erros porque acha que esse mecanismo é
libertador. Mas só e unicamente o amor liberta a consciência.
O nosso compromisso consciencial é realizar o
bem no limite das nossas forças. Porém, nosso movimento psíquico de cansaço
angustiante e inquietante decorrente da culpa só será superado com o descanso
para a alma conquistado pelo jugo do amor, da mansidão e da humildade conforme
nos convidou Jesus. Isso será determinante para nosso desenvolvimento
consciencial como aprendizes da vida que somos.
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