A provocação de Jesus aparece em Mateus (X;
34) quando, diante da multidão que o escuta, meio que escandaliza ao proferir a
seguinte sentença: “Não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a
paz, mas a espada”. Seu discurso prossegue e fala em separação entre pais,
filhos, irmãos. Algo incomum na linguagem adotada em outros cenários descritos
por aqueles que divulgaram a sua palavra. O contexto dos seus ensinamentos não
permite que passemos a julgá-lo um incendiário das relações familiares e se encontra
bastante clara a sua interpretação em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap.
XXIII), cujo título é Estranha Moral.
Jesus
dava mostras explícitas de que as suas palavras haveriam de ecoar em tempo bem
distante daquele em que as proferia. Certamente sabia que se formariam
doutrinas em torno das interpretações dos conteúdos expressos e tratava de
utilizar simbologias cheias de riqueza linguística que, devidamente utilizadas,
permitiria uma compreensão avançada e em constante progressividade de sua
mensagem. Vaticinara a vinda, em tempo oportuno, de um consolador que nos
ensinaria a todas as coisas e nos faria lembrar o que nos havia dito.
Justamente
quando as interpretações de sua mensagem, levadas a cabo pelos prelados das
religiões, fazia a humanidade sucumbir aos avanços do materialismo filosófico.
Quando o resultado dos descaminhos espirituais desencadeados pelas perseguições
em nome de Deus, mercê dos tribunais de exceção igualmente sofrido por Jesus em
seu tempo, levava o pensamento humano para longe da espiritualidade. Quando a
inteligência humana conseguira respirar liberta das correntes milenares que a
prendiam ao submundo da arrogância religiosa, acontece o advento de O Livro dos
Espíritos, como se representasse o despertar da primavera depois de tantos
invernos escabrosos, em 18/04/1857.
Chegava
ao mundo a consolação prometida numa época em que as simbologias podiam sair
dos véus e mostrar a face desnuda da luz espiritual. A espada que tornaria
clara a divisão entre o materialismo e o espiritualismo. Clarificada a visão
para a perpetuidade das palavras de Jesus, uma chave para o entendimento do que
se encontrava trancafiado entre parábolas e metáforas. A elucidação do que
havia sido dito e ainda não compreendido. Um divisor de águas na relação do
Espírito encarnado com a Divindade.
É
por essa razão que, enquanto muitas crenças reeditam os processos que levaram Jesus
à prisão e à morte, através da roteirização do que chamam a Páscoa e Semana
Santa, o olhar do espírita se volta para o Cristo que brilha além da cruz e dos
sofrimentos terrenos que muitos de nós lhe infligimos travestidos em outros
corpos. O Livro dos Espíritos nos norteia a certeza de que Jesus caminha
conosco em meio à multidão. A mensagem que nos revelou há 162 anos, pela lavra
magnífica de Allan Kardec, traduziu a lição do seu reaparecimento depois do
terceiro dia de sua morte física, na brilhante forma perispirítica
materializada com que nos premiou com a absoluta certeza de que a morte não
existe.
Exatamente
essa a percepção que O Livro dos Espíritos, a espada de Jesus, nos ensina ao
tornar atual o que está dito em João (XIV; 19): “Ainda um pouco, e o mundo não
me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis”. Jesus vive e
viverá e entre nós.
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