Ao assistir um programa sobre civilizações
antigas em algum canal de tv a cabo, o apresentador destacava que ao se estudar
as referências históricas disponíveis sobre elas, podia-se dizer que muito de
seus ritos os ligavam a lugares fora da Terra, como se sentissem saudades desse
lugar e dos moradores de lá, como se fossem deuses. Na mitologia espírita há
crenças de migrações de Espíritos vindos para cá, coincidentemente na mesma
época ou um pouco antes dessas civilizações antigas que datam de entre 6 mil a 10 A.C.
No Livro dos Espíritos, Kardec se ateve a
perguntar quando surgiu a vida na Terra, e consequentemente a vida espiritual.
A resposta foi simples e direta, os gérmens da criação da vida estavam inertes
no planeta desde sua formação, isso algo em torno de 4,5 bilhões de anos,
segundo a ciência atual.
Mas, sob o olhar espírita, pensando nessa saudade/nostalgia de um lugar
lá fora que nos pertence, e onde nos sentiríamos melhor do que aqui, ao se ler
o Livro dos Espíritos e lermos a escala dos mundos é possível que queiramos
estar em algum lugar além da Terra, seja qual for nossa origem e condição
espiritual, afinal aqui é um mundo de provas e expiações, onde o mal ainda
supera o bem! Qualquer terráqueo desejaria viver num lugar melhor posicionado.
Contudo, se somos originários da Terra ou se
acabamos aqui por meio de uma imigração planetária pouco deveria importar,
afinal se 8 mil anos, no caso da mitologia das grandes migrações, ou se 4,5
bilhões de anos, no caso de seres originais da Terra, não foram suficientes
para que nos sentíssemos em casa, há algum problema conosco.
Então, atrevo-me a dizer que há algo de
errado conosco, pois uns esperam o paraíso, outros por mundo superiores e assim
vamos dando pouco valor para nosso planeta e de que devemos dar conta de nossos
problemas para com o próximo, seja na esfera individual, seja na esfera
coletiva.
Entretanto, o próprio Livro dos Espíritos nos
fornece a lógica da evolução, indicando que o espírito evolui individualmente e
coletivamente, agindo sobre a matéria em um processo de aprendizagem que
permite que cada um possa colaborar com Deus em sua criação e aos poucos ir
avançando em sua formação e depuração em inteligência e bondade.
Dessa forma, por que pensar que alguém que
está lutando para progredir ao morrer irá reencarnar em outro planeta como
forma de recompensa, se há na Terra tanto a fazer e a “ajudar” Deus? Na lógica
apresentada por Kardec, a Terra está sob nossa responsabilidade, onde
reencarnamos e devemos evoluir dentro da ética de Jesus em relacionamento com
os outros e manter esse planeta de forma a abrigar uma sociedade mais avançada.
Prever fenômenos terríveis da natureza, pestes ou a colisão com algum corpo
celeste para uma peneirada nos espíritos bons e maus para que depois se salve a
Terra é tão romântico quanto olhar para o céu e imaginar que se está aqui por
algum engano.
Quando a sonda Voyager passava por Saturno
para seguir para fora do Sistema Solar em 1990, foi tirada uma foto de lá em
direção à Terra. A intenção desse registro fotográfico, segundo o astrofísico
Carl Sagan, que participava da missão analisando os dados recebidos, era dar
aos humanos a perspectiva do que era a Terra a partir de uma visão cósmica:
para nós tudo, para o universo apenas “um pálido ponto azul” perdido na
vastidão do espaço. Suas conclusões a partir dessa imagem acabaram em um livro
de 1994, de onde foi tirado um texto que viralizou na internet e foi editado
para o relançamento da série Cosmos em 2014, programa original de Carl Sagan do
início da década de 1980: Pálido Ponto Azul (1996 – versão em português):
Se temos problemas pessoais quando pensamos
que a grama do vizinho é mais verde que a grama de nosso jardim, pense o tipo
de problema ao transpormos isso para a esfera de comunidade, país ou planeta:
caos! Não por acaso estamos destruindo nosso meio ambiente e vivendo em clima
bélico em diversos níveis na sociedade.
O Livro dos Espíritos não direciona qualquer
um a pensar em um juízo final, pelo contrário, trabalho e educação constante e
nada mais; além de deixar claro que a cada qual segundo suas obras, não há
privilegiados perante Deus. Carl Sagan, a partir de sua visão de mundo, nos
coloca na Terra e vivendo para a Terra, clamando por nossa humanidade e
irmandade, indo contra qualquer orgulho ou fome de poder, afinal, tudo que se
possa conquistar nesse planeta é ridículo perante o universo e não vale a pena
tanto esforço para se subjugar o próximo sob qualquer pretexto e forma.
Espíritos que circundam a Terra: aqui é nossa
casa! Nosso dever é trabalharmos para salvá-la e acabar com toda a forma de
abuso que não se alinhe com a ética de Jesus. Mudanças de casa, provavelmente,
somente quando as coisas estiverem melhores nesse pequeno planeta perdido,
quando então, é possível, que não queiramos mais mudar daqui!
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