Diuturnamente, a sociedade brasileira
encontra-se em comoção, tomando conhecimento pela mídia e pela internet da
ocorrência de crimes hediondos, dos casos gravíssimos de corrupção, envolvendo
políticos influentes e empresários bem-sucedidos e da condição econômica em
desalinho, refletindo pessimismo e desânimo.
Em realidade, os brasileiros vivenciam
extremada insegurança, fruto da lamentável condição em que se encontra o país,
resultante da miséria social e moral que grassa nas terras do Cruzeiro.
O país herdou um passado colonial
escravocrata e formou uma industrialização com exclusão social, onde o
trabalhador é pessimamente remunerado e impedido de ascender socialmente. A
péssima condição em que se encontra nossas escolas e hospitais reflete a completa
decadência vivenciada pela consternada sociedade brasileira.
Doenças não mais verificadas em muitas nações
engrossam as longas fileiras de doentes como a tuberculose, sarampo,
esquistossomose, doença de Chagas e muitas outras. Inacreditável que até mesmo,
moléstias transmitidas por mosquitos, como a leishmaniose, febre amarela,
dengue, zika e chikungunya, ainda incidam no país. Um mosquito, o Aedes, de
apenas sete milímetros, se tornou um temível inimigo, conseguindo, inclusive,
no momento, vencer a batalha travada com as autoridades sanitárias da nação
brasileira.
As condições de falta de saneamento básico
contribuem para a incidência de doenças, assim como igualmente a precariedade
de água potável e coleta de lixo, acometendo milhões de brasileiros. Ao mesmo
tempo, o crescimento das favelas não se dá mais por êxodo rural, mas pela
reprodução da miséria. O poder aquisitivo do trabalhador cai de forma tão
intensa que suas condições de moradia se tornam cada vez mais impróprias, ao
lado das deficientes políticas habitacionais dos ineficazes poderes públicos.
Na miséria que acomete mais de 20 milhões de
brasileiros são encontradas as raízes da violência e, infelizmente, a atuação
dos dirigentes políticos é dirigida para as edificações de presídios, como se
fosse resolver o problema. Inclusive, de vez em quando, como é de costume,
vivenciando-se um momento de trauma emocional, vem logo à baila, o desejo de
ser implantada a pena de morte como uma possível saída do labirinto do temor e
da angústia.
Ao invés de fomentar a melhoria social do
povo, com execução de projetos que visem melhores condições de habitação, saúde
e educação, para o dirigente político é mais fácil, mais cômodo, menos
dispendioso, agir na consequência, cada vez mais violenta e agressiva,
igualando-se às que são cometidas pelos maléficos agentes da insegurança
pública. Já dizia o escritor russo Dostoiévski: “Matar para punir é, sem
comparação, uma punição maior do que o próprio delito”.
O que a Espiritualidade diz?
Em um orbe, como a Terra, ainda muito
atrasado espiritualmente, as causas primárias do mal se encontram nas
sociedades egoístas, omissas, injustas, desumanas e cruéis, anticristãs por
excelência, em que são exaltados os valores mundanos em detrimento do espírito,
onde deveriam reinar a solidariedade, a fraternidade e o altruísmo legítimos,
exaltados, principalmente, no Evangelho do Cristo.
O Espírito Joanna de Angelis, através do
lápis psicográfico de Divaldo Franco, afirma: "Trata-se a sociedade de
erradicar os caldos de culturas sociais, económicas e morais, onde proliferam
os germens criminógenos, e diminuiria a incidência dos males que se deseja
coibir mediante a pena de morte".
Sociólogo, publicitário, jornalista e
fundador do ICEB - Instituto de Cultura Espírita do Brasil (1957), Deolindo
Amorim, na obra “Espiritismo e Criminologia”, diz que, “em matéria penal, o
Espiritismo está atualizado, porque, sem contradizer os princípios
reencarnacionistas, as suas ideias coincidem com o que se pensa, hoje em dia,
sobre a penalogia preventiva; não basta reprimir o crime nem punir o criminoso,
mas é indispensável, antes de tudo, prever o problema, criar condições sociais
para evitar a progressão da criminalidade em todas as suas formas”. Acrescenta
que é preciso “educar e corrigir o homem, em primeiro lugar, proporcionando-lhe
condições de vida compatíveis com a dignidade humana e afastando os fatores da
perversão para, em segundo lugar, aperfeiçoar o sistema repressivo”.
Quanto ao “modus corrigendi”, Deolindo
recomenda uma “política de educação, visando à parte espiritual do homem, e não
apenas ao aspecto material” (1). Assim já preconizava o Codificador do
Espiritismo: "A cura (do egoísmo) poderá ser prolongada porque as causas
são numerosas, mas não se chegará a esse ponto se não se atacar o mal pela
raiz, os seja, com a educação. Não essa educação que tende a fazer homens
instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A educação, se for bem
compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de
manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á
endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam as plantas novas. Essa arte,
porém, requer muito tato, muita experiência e uma profunda observação” (2)
Kardec, com muita propriedade, reforçando a
ideia cristã, enfatiza: "O egoísmo é fonte de todos os vícios, como a
caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra deve
ser o alvo de todos os esforços do homem, se ele deseja assegurar a sua
felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro (3).
Como seria maravilhoso que a Terra fosse
constituída de homens de bem, os quais, segundo Allan Kardec, praticam a lei de
justiça, de amor e de caridade na sua mais completa pureza e que efetuam para
os outros tudo o que queriam que lhe fizessem. Como seria importante que os
responsáveis pelos poderes públicos assimilassem bem a orientação espírita
alertando que se a ordem social colocou homens sob sua dependência, deveriam
tratá-los com bondade e benevolência porque são seus iguais perante Deus. Ao
mesmo tempo, usarem de sua autoridade para lhes erguer o moral e não para os
esmagar com o seu orgulho, como igualmente, respeitarem, enfim, nos seus
semelhantes, todos os direitos decorrentes da lei natural, como desejaria que respeitassem
os seus (4).
Kardec pergunta à Espiritualidade se é lei da
Natureza a desigualdade das condições sociais e recebe a oportuna resposta:
“Não; é obra do homem e não de Deus” (5). Então, inquirindo depois se algum dia
essa desigualdade extinguirá, foi agraciado com o ensinamento de que só
“desaparecerá quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar” (6).
Portanto, o egoísmo é principalmente o agente precípuo que sempre aparece como
causa essencial das desigualdades sociais. A pobreza é resultante do amor
excessivo ao bem próprio daqueles que muito possuem, sem consideração aos
interesses alheios. O Brasil, sendo um país extremamente rico, principalmente,
de bens naturais, desde sua descoberta, sempre foi alvo das investidas de
sagazes “tubarões” nacionais e internacionais, com a atenção voltada para os
seus proveitos, despreocupados com a relevante miséria que assola o país.
Contudo, terão todos os envolvidos de prestar
contas às Leis Divinas que vigoram na consciência de cada um, quando, na
dimensão espiritual, as vibrações em desequilíbrios estarão presentes, sendo
vivenciadas e acordes com os mecanismos de resgate, conforme alertou o Mestre
Jesus: “Com toda a certeza afirmo que de maneira alguma sairás dali, enquanto
não pagares o último centavo” (Mateus 5:26), corretivo que poderá acontecer na
presente encarnação ou nas próximas.
Esse sublime ensinamento evangélico é
realçado pela Doutrina Espírita, em “O Livro dos Espíritos”, no seguinte
diálogo travado por Kardec com os Espíritos Superiores: “Que se deve pensar dos
que abusam da superioridade de suas posições sociais, para, em proveito
próprio, oprimir os fracos? Os Instrutores do Além ministraram o adequado
esclarecimento: “Merecem anátema! Ai deles! Serão, a seu turno, oprimidos:
renascerão numa existência em que terão de sofrer tudo o que tiverem feito
sofrer aos outros” (7).
Portanto, todos os que, à guisa de montarem
seus bens em abundância, alimentam as chagas sociais, desestimulam todos os
programas de melhoria socioeconômica e cultural, como também exploram o
semelhante visando proveito material, constatarão que “o feitiço pode virar
contra o feiticeiro” e terem que colher, em próximas vivências reencarnatórias,
o que agora semeiam, desde que egoisticamente criaram a extrema riqueza e,
consequentemente, a extrema pobreza.
A Legislação Divina, através “do nascer de
novo”, aproveita a miséria criada pelo homem, rico e insensível, para que este
retorne, em processo de expiação, sofrendo o rigor da fome que ele mesmo
engendrou, à custa do seu egoísmo, em vivência anterior. Contudo, como já
apontava o estimado confrade Luiz Antônio Millecco Filho, saudoso amigo: “De
forma alguma, pode-se apresentar a reencarnação de Espíritos, uns na miséria,
outros na opulência, como pretexto para acobertamento de chagas sociais, já que
o ser acossado pela pobreza deve lutar e superar a própria opressão. Sem esse
processo dialético não haveria crescimento espiritual, nem tampouco progresso
social”.
Com efeito, o ser reencarnante na miséria
precisa se elevar de sua condição pelo seu próprio esforço (a própria opressão
leva os oprimidos a superá-la), entretanto necessita de ajuda alheia, até que
melhore sua situação, o que não é em absoluto a derrocada da Lei e, sim, o uso
do livre-arbítrio em harmonia com a lei do progresso.
A Espiritualidade adverte: “Numa sociedade
organizada, segundo a Lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome” (8). O
amoroso Jesus ensinou: “E assim, tudo o que quereis que os homens vos façam,
fazei-o também vós a eles porque esta é a lei e os profetas” (Mateus 7:12).
Muitos países passaram pelos mesmos problemas
e os superaram. Brasil, ainda há tempo! Acorda! Levanta!
Bibliografia
1)
“Espiritismo e Criminologia”, Amorim, Deolindo- Federação Espírita do Paraná;
2)
“O Livro dos Espíritos”, Questão 917, comentário de Kardec;
3)
“O Livro dos Espíritos”, Questão 917; comentário de Kardec;
4)
“O Livro dos Espíritos”, IV- Caracteres do Homem de Bem- Comentário de Kardec- Questão 918;
5)
“O Livro dos Espíritos”, Parte Terceira - Das Leis Morais, Capítulo IX - 8. Lei
de Igualdade - Desigualdades Sociais - Questão 806;
6)
“O Livro dos Espíritos”, Parte Terceira - Das Leis Morais, Capítulo IX - 8. Lei
de Igualdade - Desigualdades Sociais - Questão 806 (a);
7)
“O Livro dos Espíritos”, Parte Terceira - Das Leis Morais, Capítulo IX - 8. Lei
de Igualdade - Desigualdades Sociais - Questão 807;
8)
“O Livro dos Espíritos”, Questão 930.
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