Culpa e consciência é matéria que
ponderaremos neste texto. É importante dizer que o “alerta ou conflito da
consciência” ainda não é a instalação da culpa, porém nos convida ao
arrependimento diante dos erros. Tal constrangimento consciencial é imprescindível
para a libertação do desalinho psicológico, oriundo da culpa.
A consciência é o Divino em nossa realidade
existencial; nela estão escritas as Leis do Criador. Já a culpa resulta da não
auscultação do “alerta da consciência”, portanto é patológica e gera profundo
abalo psicológico autopunitivo. Detalhe: é impossível inexistir o alerta
consciencial no psiquismo humano. Podemos fingir não ouvir a “voz da
consciência”, e apesar disso ela sempre alertará, exceto nos casos extremos de
psicopatologias, quando o doente mental não sente um mínimo de arrependimento e
ou culpa.
O alerta consciencial sinaliza as
transgressões à Lei de amor, justiça e caridade. À vista disso, tomamos
consciência e nos arrependemos do erro, buscando repará-lo. Por outro lado, a
culpa é um processo patológico em que ficamos cultuando o erro no movimento
psicológico de autojulgamento, autocondenação e autopunição.
Das diversas características da culpa há
aquela advinda da volúpia de “prazer”, quando alguém não se divertiu como
gostaria de ter feito (se esbaldado numa “balada”, por exemplo). Após a “farra”
se sente culpado e se cobra por não ter permanecido mais tempo na festa, por
não ter realizado isso e ou aquilo etc. Sob esse estado psicologicamente
perturbador surge a culpa como reflexo daquilo que não se fez e almejaria ter
feito, resultando o movimento de autopunição.
Todas as recordações negativas paralisam o
entusiasmo para as ações no bem, únicas portadoras de esperança para a
libertação da culpa. Quando entramos no processo autopunitivo geramos um
processo de distanciamento da realidade da vida e do próprio viver. É um grande
desafio transformarmos a experiência desafiadora (dor e sofrimento) em
experiência de aprendizado. Para isso, importa fazermos o BEM no limite das
nossas forças, principiando em nós mesmos, permitindo-nos experimentar esse BEM
no coração e ao mesmo tempo realizarmos o BEM ao próximo, e assim nos
libertarmos totalmente do nódulo culposo.
A Lei de causa e efeito é um dos princípios
fundamentais preconizados pela Doutrina Espírita para explicar as vicissitudes
ligadas à vida humana. Ante a Lei de causalidade a colheita deriva da
semeadura, sem qualquer expressão castradora ou fatalista para reparação. O
“alerta de consciência”, por exemplo, bem absorvido, transforma-se em
componente responsável. Mas se o ignoramos desmoronamos no desculpismo, não
admitindo sequer a responsabilização do erro. Em face disso, o desculpismo é
uma postura profundamente irresponsável perante a vida.
O negligente (desculpista) diz que “errar é
humano”, porém é arriscado raciocinar assim. É um processo equivocado que
ultraja a lei de Deus. Em verdade, não precisamos nos culpar (exigência) quando
erramos, e muito menos nos desculpar (negligência), porém carece ouvirmos a voz
da consciência e aprendermos com os erros a fim de repará-los.
Sobre as diferentes peculiaridades da culpa
ainda há aquela advinda naqueles trabalhadores que avidamente mergulham nos
assistencialismos. São confrades conflituosos que ambicionam consolidar a
beneficência, visando, antes, anestesiarem a própria culpa. Na realidade, estão
apostando barganhar com Deus, a fim de se livrarem da ansiedade de consciência.
Decerto isso é uma prática espontânea e contraproducente.
Não obstante, no MEB – Movimento Espírita
Brasileiro – há farta natureza de serviços assistencialistas. O psiquiatra
Alírio Cerqueira, coordenador do Projeto Espiritizar, da Federação Espirita do
Mato Grosso, lembra que muitos fazem assistencialismos sem real consciência da
necessidade social dos desprovidos. Em verdade, laboram “caritativamente” sob
as algemas da consciência culposa e apostam disfarçar para si mesmos o
automático exercício de filantropia. Agem subconscientemente quais portadores
de ferida muito dolorosa, e em vez de tratá-la para cicatrizar, ficam passando
pomada anestésica na ferida (culpa) para abrandar a dor.
Agindo assim a culpa momentaneamente é
“escondida”, mas não desaparece, pois passando o efeito do anestésico a culpa
retorna e a pessoa mantém o conflito de consciência. Desse modo, vai ampliando
cada vez mais os compromissos assistencialistas; vai se assoberbando nos pactos
“caritativos”, porém a culpa é conservada. Muitos passam a vida inteira nessa
atitude de “FAZEÇÃO” DE COISAS” sem qualquer objetivo consciencial. Tais
“caridosos” certamente auxiliam TEMPORARIAMENTE os necessitados, todavia
provocam para si mesmos em alto grau o cansaço mental, estresse e saturação
psicológica, e não se HARMONIZAM CONSIGO MESMOS.
Na verdade, o objetivo das leis divinas
(sediadas na consciência) é nos proporcionar pura e eterna felicidade. Em face
disso, quando as transgredimos ficamos ansiosos, porque nos afastamos da
felicidade, logo, sentimos extremada ansiedade. Nesse caso é importante o
exercício do auto perdão, que obviamente não extinguirá a responsabilidade dos
erros praticados, até porque auto perdoar-se não é simplesmente passar uma
borracha em cima do desacerto, mas fazer uma avaliação equilibrada do desacerto
para repará-lo.
No limite, há pessoas que alimentam tanta
culpa que se sentem indignas de fazer uma prece e ou de fazer o bem. Porém,
pensemos o seguinte: a prece não é para espíritos puros. Jesus orientou que não
são os sadios que necessitam de médicos, mas os doentes. Ora, esperarmos nossa
purificação para orar e fazer o bem não faz nenhum sentido, pois que nos
aperfeiçoamos gradativamente, orando e de maneira especial fazendo o bem no
limite das nossas forças.
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