Antes de abordarmos o tema, cabe distinguir a
simples tristeza da depressão. A tristeza é um sentimento corriqueiro que surge
ocasionalmente em nossos corações. Mormente quando advém um acontecimento que
sacode a nossa vida, porém é provisória.
Estranhamente, hoje em dia qualquer tristeza
é tratada como doença psiquiátrica. Os pacientes preferem recorrer aos remédios
a encarar os desafios da vida. Muitos médicos se rendem aos laboratórios
farmacêuticos e indicam antidepressivos sem necessidade, exceto os psiquiatras,
que são os que menos receitam antidepressivos, porque estão mais preparados
para reconhecer as diferenças entre a “tristeza normal” e a patológica
(depressão).
O que diferencia a “tristeza normal” da
patológica é a intensidade. A tristeza patológica é muito mais intensa. A
normal é um estado de espírito. Além disso, a patológica é longa. É o aperto no
peito, a dificuldade de se movimentar; a pessoa só quer ficar deitada, tem
dificuldade de cuidar de si própria, da higiene corporal. Na “tristeza normal”
pode acontecer isso por um ou dois dias, mas depois passa. Na patológica, fica
nas entranhas do ser.
Quem mais receita antidepressivos não são os
psiquiatras, são os demais médicos. Os psiquiatras têm uma formação para
perceber que primeiro é preciso ajudar a pessoa a entender o que está se
passando com ela e depois, se for uma depressão, medicar. Agora, os não
psiquiatras não querem ouvir. O paciente diz: “Estou triste.” O médico
responde: “Pois não”, e receita o ansiolítico. Eis o problema!
A depressão deriva de duradoura ansiedade
íntima. É uma indiferença de sentir o gozo pela vida, resultando em certo
desgosto por viver. Essa amargura ou vazio d’alma podem estar escoltados por
ideias de morte que se manifestam de múltiplas formas: o deprimido pode almejar
morrer e até atentar contra a própria vida, ou meramente pode não ansiar mais
viver, porém não pensa em tirar a própria vida e até receia a morte.
O processo depressivo pode variar de
magnitude e é qualificado pela psiquiatria como depressão leve, quando os
sintomas não intervêm em demasia no cotidiano, como depressão moderada quando
já há um comprometimento maior na sustentação das atividades habituais e como
depressão grave – neste estágio a pessoa torna-se bastante limitada na labuta
cotidiana.
É muito importante buscar modos de se evitar
chegar nesse nível, trabalhando-se com as causas profundas da doença, que por
ser uma doença das emoções não tem sinais físicos ou bioquímicos.
Frequentemente o doente deprimido ouve frases do tipo “você não tem nada” ou
“depressão é frescura”, às vezes pronunciadas até por clínicos, que após
escutarem o paciente requerem exames complementares que exibem resultados
negativos.
Por outro lado, há aqueles médicos que se
deixam levar pelo lobby da indústria farmacêutica. Não se pode mais ficar
enfadado, apoquentado, triste, porque isso é imediatamente transformado em
depressão. É a medicalização de uma condição humana. É transformar um
sentimento normal, que todos nós temos, dependendo das situações, numa entidade
patológica. Há situações em que, se não ficarmos abatidos, pode gerar
transtornos emocionais – como quando se “perde” um ente querido. Mas muitos
médicos não compreendem racionalmente alguns sentimentos e sintomas
humaníssimos.
Muitos aflitos costumam recorrer aos
tranquilizantes e se debatem aflitivamente para que a aflição não os abarque a
vida cotidiana. É comum nos extasiarmos ante a beleza das estrelas do
firmamento, em rogativas ao Criador, a fim de que a angústia não nos abata e
nem nos alcance a caminhada, ou ainda para que os sofrimentos desviem para
outros rumos. Contudo, a realidade das provas e expiações ante os estatutos de
Deus chegará inexorável como mecanismos naturas de nossa evolução.
Ante os ventos impetuosos das chibatas emocionais,
nos sentimos vencidos e solitários. Mas em realidade, o que parece infelicidade
ou derrota pode significar intercessão providencial de Deus, sem necessidade,
portanto do uso de tranquilizantes para aliviar a dor. Em muitos momentos da
existência, quando choramos lágrimas de angústias, os Benfeitores se rejubilam
de “lá”, da mesma forma em que os pomicultores de “cá” descansam, serenos, após
o labor do campo bem podado. A vida é assim!
Essas lágrimas asfixiantes, muitas vezes
representam para nós alegrias nas dimensões superiores da vida espiritual.
Evidentemente nossos protetores do além não são indiferentes quando estamos em
padecimentos atrozes, mas eles sabem exatamente que tal situação sinaliza
possibilidades renovadoras no buril do nosso crescimento espiritual.
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