Doutrinariamente falando, seria o espírita de
“esquerda” ou de “direita”? Nem uma, nem outra. Ou melhor, no mínimo, um
estudioso de Kardec deve ser de “centro” espírita (é lógico!). Humor à parte,
nas hostes do Espiritismo não deveria haver espaços para militâncias
ideológicas de “esquerda” ou de “direita”. Lembrando que longe (bem longe
mesmo!) das instituições doutrinárias não é vedado ao espírita a participação
do movimento político-partidário. Isso é uma questão pessoal.
Nas hostes espíritas, porém, não se deveria
adotar qualquer confraria política. Atrair militância política partidária de
“esquerda” ou “direita” para o ambiente espírita seria tão esdrúxulo quanto uma
roda quadrada. Em face disso, não se deveria tratar duelos eleitorais (no sentido
de desinteligências) nos recintos espíritas. A Doutrina Espírita encontra-se
acima de nuances políticas transitórias.
Assistimos com estupefação promoção de
“seminários” entre os tais espíritas “progressistas”, aqueles que se declaram
espíritas “socialistas”, mas que, de praxe, não abrem mão de um requintado
“caviar”. Tais “espíritas” “socialistas” / /“progressistas” / “protetores dos
pobres e oprimidos”, via de regra, estão pouco se lixando com os deserdados e
não movem uma palha para conhecerem de perto e ou improvisarem uma visitinha às
instituições doutrinárias especializadas em prestação de serviços à comunidade
de indigentes econômicos.
Tais “espíritas progressistas” apontam Kardec
como um ingênuo por ter explanado em O Evangelho Segundo o Espiritismo sobre a
desigualdade das riquezas explicando-a sob a lei da reencarnação. Evocam tais
“espíritas progressistas” que o proprietário dos meios de produção gera
riquezas só para si, enquanto aos que trabalham resta o salário, representando
apenas uma parte da riqueza gerada.
Creem no lema “de cada qual, segundo sua
capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”, por isso os “espíritas
progressistas” divergem de Kardec, dizendo que o Codificador se equivocou
quando afirmou que é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna
igualmente repartida daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente.
Kardec assegurou também que se houvesse a
repartição dos bens materiais (riqueza), o equilíbrio estaria rompido em pouco
tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões. Tal verdade kardeciana é
insuportável para os “espíritas progressistas”, pois estes defendem a
distribuição irrestrita dos bens produzidos pelas empresas, a fim de que os
proletários possam viver na prerrogativa e violência ideológica do infausto
igualitarismo; os “espíritas progressistas” idealizam uma sociedade altruísta
(à base de caviar), sem valorizar as legítimas conquistas individuais para a
boa performance das estruturas sociais.
Quando Kardec afirmou que se a repartição da
riqueza fosse possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, e que
seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o
progresso e o bem-estar da Humanidade, os “espíritas progressistas” alardearam
que isso representa uma blasfêmia, pois as tecnologias produzidas têm atendido
fundamentalmente às necessidades supérfluas da grande massa de consumidores –
portanto, pessoas que já possuem o necessário podem utilizar a sua riqueza para
o consumo do supérfluo.
Regurgitam os tais “espíritas progressistas”,
questionando por que supor que Deus é o agente da concentração de riquezas?
Protestam, então, que a riqueza se concentra pelo simples fato de que quem já
possui fortuna tem mais chances de vencer num mercado competitivo, e assim
acumular mais riqueza num movimento crescente de concentração de capital. Como
se observa uma, dedução horizontalizada, leviana, mecanicista e nada razoável
dos “insurgentes progressistas”, que insistem em dizer que isso não significa
que devamos “ler a realidade” como um “plano de Deus”.
Acreditam os “progressistas” que a riqueza
pode e deve ser concentrada sob a propriedade coletiva (sic), visando
exclusivamente o benefício geral da humanidade, não permitindo a desigualdade
de riqueza, pois assim toda a sociedade acaba “refém” da decisão do
endinheirado de bem ou mal utilizar a riqueza. Além do que, a sua apropriação
fica sendo necessariamente injusta, já que os trabalhadores que recebem salário
como remuneração pela venda de sua força de trabalho não ganham integralmente
por toda a riqueza por eles produzida.
Expõem ainda os “progressistas” que no Brasil
as desordens distributivas estão na ordem do dia, pois os ricos se tornaram
mais ricos, os pobres se tornaram menos pobres e uma certa classe média
tradicional viu sua posição relativa em relação a essas duas outras camadas
prejudicada. A classe média perdeu status. Os ricos se distanciaram e os pobres
se aproximaram, daí o conflito atual. Que saibam utilizar a inteligência a fim
de entenderem que “as classes [sociais] existiram e existirão sempre, o que,
porém, deve preocupar, e é racional estabelecer a solidariedade entre elas, a
conciliação de seus interesses, a multiplicação urgente das leis de assistência
social, únicas alavancas mantenedoras da ordem.” [1]
É bem verdade que a desigualdade social ou
econômica é um problema presente em todos os países (ricos ou pobres),
decorrente da má distribuição de renda e, ademais, pela falta de investimento
na área social. Compreendemos que uma repartição mais equitativa dos “bens” é
imprescindível. Há “trocentas” teorias sociológicas, mil sistemas diferentes,
tendendo a reformar a situação das classes desprovidas, a assegurar a cada um,
pelo menos, o estritamente necessário. Ótimo!
Mas, infelizmente, noutro cenário, ao invés
da recíproca tolerância que deveria aproximar os homens, a fim de lhes permitir
estudar em conjunto e resolver os mais graves problemas sociais, tem sido com
violência que o militante reivindica seu lugar na ágape social. Outrossim, é
uma lástima ver o endinheirado aguilhoado no seu egoísmo e recusando a ofertar
aos famintos as menores migalhas da sua fortuna. Dessa forma, um muro tem
separado ambos, e os quiproquós, as selvagerias, as cupidezes, as animosidades,
os desrespeitos acumulam-se dia a dia.
Politicamente sabemos que as leis elaboradas
pelos legisladores podem, de momento, modificar o exterior, mas não logram
mudar a intimidade do coração humano; daí vem serem os decretos de duração
efêmera e quase sempre seguidos de uma reação mais depravada. A origem do mal
reside no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão quando os
homens se regerem pela lei da caridade.
Para confirmar as magníficas teses de Kardec
sobre o assunto, reflitamos com Emmanuel: “A desigualdade social é o mais
elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual cada espírito
tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que
a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades
coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da
quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com a
iluminação espiritual de todos em Jesus-Cristo, a moléstia coletiva estará
eliminada dos ambientes humanos”. [2]
Referências
bibliográficas:
[1]
Xavier Francisco Cândido. Palavras do infinito, III parte, ditado pelo Espírito
Emmanuel, SP: Ed. LAKE, 1936
[2]
Xavier , Francisco Cândido. O Consolador, pergunta 55, ditado pelo Espírito
Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 1978
Na realidade, no centro espírita é exatamente o lugar em que não se acha espíritas. Esse tema é de difícil assimilação. Escrevi artigo a esse respeito. E meu posicionamento é simples: não existe conflito partidário e, tão somente, doutrinário. Fácil. Jorge Luiz
ResponderExcluirCaríssimos leitores, nós temos vários colaboradores que concordaram em ter suas ideias postadas nesse blog. Muito embora eu não concorde com algumas dessas ideias, isso não me dá o direito de censurá-las. Publico-as, mesmo não concordando. Jorge Luiz
ResponderExcluirLamento declarar, mas acabo de ler argumentos que se entrechocam e se contradizem. Aliás, deve ser muito difícil defender as idéias que o artigo começa defendendo, razão pela qual em seguida, ao chamar Kardec para a discussão, é que começam as contradições. Claro! Kardec é progressista em essência e não se perde do início ao fim de suas declarações, comentários ou opiniões. Seguramente a visão capitalista é fruto de um mundo injusto e depravado, e é evidente que se o sofremos é porque o merecemos, mas querer defender tais circunstâncias é jogar a doutrina de Jesus no lixo. Viva Jesus e viva Kardec, para mim, os maiores símbolos de progressividade social. Roberto Caldas
ResponderExcluirJorge Luiz, parabéns pela publicação. É dessa forma que podemos discutir pacificamente as diferenças. Concordo com você, não é questão de política partidária (sem qualquer crítica a quem a deseje), sim de compreensão de Jesus e Kardec. Roberto Caldas
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