A atriz Juliana Paes da Globo vai aparecer
nos cinemas em 2020, junto com o ator Danton Mello e outros, no longa-metragem
intitulado “Predestinado – Arigó e o Espírito do Dr. Fritz”. O filme propõe
contar a história do médium mineiro, José Pedro de Freitas, o “Zé Arigó”. Com
certeza tal evento fará ressurgir, nas hostes espíritas, o deslumbramento pela
procura de médiuns incorporadores de “cirurgiões” cura tudo ou miraculosos
“médicos” do além.
Que existe interferência dos desencarnados
nos processos terapêuticos na Terra não há dúvida, porém não se pode dar
proeminência a esse tipo de fenômeno, na presunção de consolar os desprotegidos
ou na ardilosa ideia de fortalecimento da difusão do Espiritismo por essas
dispensáveis práticas.
Vejamos: Zé Arigó, o médium que incorporava o
Dr. Fritz e realizava cirurgias sem anestesia, certa ocasião ofereceu-se para
operar o Chico Xavier, que prontamente rejeitou a oferta e optou por se
internar em hospital de São Paulo. A atitude do Chico provocou uma boa
discussão na época.
Por que não aceitou a oferta do Dr. Fritz?
Chico duvidava do poder dos famosos “cirurgiões” espirituais?
O filho de Pedro Leopoldo se limitou a
repetir a resposta oferecida em 1969 a Zé Arigó: “Como eu ficaria diante de
tanto sofredor que me procura e que vai a caminho do bisturi, como o boi para o
matadouro? E eu vou querer facilidades? Eu tenho que me operem como os outros,
sofrendo como eles.” [1]
Anos mais tarde, sob firme depoimento, Chico
Xavier pronunciou: “Sou contra essa história de meter o canivete no corpo dos
outros sem ser médico. O médico estudou bastante anatomia, patologia e, por
isso, está habilitado a fazer uma cirurgia. Por que eu, sendo médium, vou agora
pegar uma faca e abrir o corpo de um cristão sem ser considerado um criminoso?
[2]
A tendência de subestimar a contribuição da
medicina terrena, entregando nossas enfermidades aos Espíritos “milagreiros” do
além (com nome germânico ou hindu), para que “curem” complexos processos de
metástases, por exemplo, é uma atitude equivocada. Até mesmo porque, os
Espíritos não estão à nossa disposição para promover curas de patologias que
não raro representam providências corretivas para o nosso crescimento
espiritual no buril expiatório.
Além do mais, os princípios doutrinários nos
elucidam que necessitamos “Aproveitar a moléstia como período de lições,
sobretudo como tempo de aplicação de valores alusivos à convicção religiosa. A
enfermidade pode ser considerada por termômetro da fé”. [3]
Como bem recomenda Allan Kardec, em Viagem
Espírita, 1862, pág. 33: “O exagero em tudo é prejudicial, mas, em semelhante
caso, vale mais pecar por excesso de prudência do que por excesso de confiança
“. [4]
Sobre esse tipo de mediunidade fica evidente
que não há qualquer amparo espiritual aos médiuns dos cirurgiões do além.
Vejamos alguns fatos emblemáticos sobre os intermediários do tal Dr. Fritz e
outros do ramo. José Arigó, o mais famoso, desencarnou tragicamente num
acidente de automóvel, em MG; Rubens de Farias, depois que sua esposa o
denunciou de adultério e enriquecimento ilícito, saiu terminantemente de cena;
Edson Queiroz foi brutalmente morto a facadas por seu caseiro, em Recife; João
de Deus jaz prisioneiro na penitenciária de Aparecida de Goiás, incriminado por
centenas de estupros e enriquecimento ilícito. Isso sem colocar aqui no
inventário sobre esse tipo de mediunidade “curadora” o mais importante médium
do Lar Frei Luiz no Rio, Gilberto Arruda, que foi assassinado dentro do centro.
O exercício dos Códigos Evangélicos nos impõe
a obrigatória fraternidade e a compreensão aos adoentados e adeptos dessas
extravagantes práticas mediúnicas, o que não equivale dizer que devemos nos
silenciar quanto à adequada recriminação. Tal mediunidade não é e nunca será
indispensável para propagação dos princípios espíritas. Além do mais, o centro
espírita não pode se transformar em abrigo dos ambulantes cura tudo.
Bem-estar e saúde integral são obtidos
através do cumprimento das Leis Divinas inscritas na consciência de todos nós!
O resto é preguiça moral, balela e promessa de artificiosa cura que se
transformará em desafiadora moléstia moral amanhã.
Referência
bibliográfica:
[1] SOUTO Maior, Marcel. As vidas de Chico
Xavier / MARCEL Souto Maior. 2. cd. rev. e ampl. São Paulo: Editora Planeta do
Brasil, 2003
[2] Idem
[3] VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, Ditado
pelo Espírito André Luiz, Cap.35. RJ: Editora FEB, 1977-5ª edição
[4] KARDEC, Allan. Viagem Espírita 1862,
pág. 33, RJ: Ed FEB, 1999
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