sábado, 23 de novembro de 2019

FRITZ ANTE A PREGUIÇA MORAL, A BALELA E A PROMESSA DE ARTIFICIOSA CURA


 

 A atriz Juliana Paes da Globo vai aparecer nos cinemas em 2020, junto com o ator Danton Mello e outros, no longa-metragem intitulado “Predestinado – Arigó e o Espírito do Dr. Fritz”. O filme propõe contar a história do médium mineiro, José Pedro de Freitas, o “Zé Arigó”. Com certeza tal evento fará ressurgir, nas hostes espíritas, o deslumbramento pela procura de médiuns incorporadores de “cirurgiões” cura tudo ou miraculosos “médicos” do além.

Que existe interferência dos desencarnados nos processos terapêuticos na Terra não há dúvida, porém não se pode dar proeminência a esse tipo de fenômeno, na presunção de consolar os desprotegidos ou na ardilosa ideia de fortalecimento da difusão do Espiritismo por essas dispensáveis práticas.


Vejamos: Zé Arigó, o médium que incorporava o Dr. Fritz e realizava cirurgias sem anestesia, certa ocasião ofereceu-se para operar o Chico Xavier, que prontamente rejeitou a oferta e optou por se internar em hospital de São Paulo. A atitude do Chico provocou uma boa discussão na época.

Por que não aceitou a oferta do Dr. Fritz? Chico duvidava do poder dos famosos “cirurgiões” espirituais?

O filho de Pedro Leopoldo se limitou a repetir a resposta oferecida em 1969 a Zé Arigó: “Como eu ficaria diante de tanto sofredor que me procura e que vai a caminho do bisturi, como o boi para o matadouro? E eu vou querer facilidades? Eu tenho que me operem como os outros, sofrendo como eles.” [1]

Anos mais tarde, sob firme depoimento, Chico Xavier pronunciou: “Sou contra essa história de meter o canivete no corpo dos outros sem ser médico. O médico estudou bastante anatomia, patologia e, por isso, está habilitado a fazer uma cirurgia. Por que eu, sendo médium, vou agora pegar uma faca e abrir o corpo de um cristão sem ser considerado um criminoso? [2]

A tendência de subestimar a contribuição da medicina terrena, entregando nossas enfermidades aos Espíritos “milagreiros” do além (com nome germânico ou hindu), para que “curem” complexos processos de metástases, por exemplo, é uma atitude equivocada. Até mesmo porque, os Espíritos não estão à nossa disposição para promover curas de patologias que não raro representam providências corretivas para o nosso crescimento espiritual no buril expiatório.

Além do mais, os princípios doutrinários nos elucidam que necessitamos “Aproveitar a moléstia como período de lições, sobretudo como tempo de aplicação de valores alusivos à convicção religiosa. A enfermidade pode ser considerada por termômetro da fé”. [3]

Como bem recomenda Allan Kardec, em Viagem Espírita, 1862, pág. 33: “O exagero em tudo é prejudicial, mas, em semelhante caso, vale mais pecar por excesso de prudência do que por excesso de confiança “. [4]

Sobre esse tipo de mediunidade fica evidente que não há qualquer amparo espiritual aos médiuns dos cirurgiões do além. Vejamos alguns fatos emblemáticos sobre os intermediários do tal Dr. Fritz e outros do ramo. José Arigó, o mais famoso, desencarnou tragicamente num acidente de automóvel, em MG; Rubens de Farias, depois que sua esposa o denunciou de adultério e enriquecimento ilícito, saiu terminantemente de cena; Edson Queiroz foi brutalmente morto a facadas por seu caseiro, em Recife; João de Deus jaz prisioneiro na penitenciária de Aparecida de Goiás, incriminado por centenas de estupros e enriquecimento ilícito. Isso sem colocar aqui no inventário sobre esse tipo de mediunidade “curadora” o mais importante médium do Lar Frei Luiz no Rio, Gilberto Arruda, que foi assassinado dentro do centro.

O exercício dos Códigos Evangélicos nos impõe a obrigatória fraternidade e a compreensão aos adoentados e adeptos dessas extravagantes práticas mediúnicas, o que não equivale dizer que devemos nos silenciar quanto à adequada recriminação. Tal mediunidade não é e nunca será indispensável para propagação dos princípios espíritas. Além do mais, o centro espírita não pode se transformar em abrigo dos ambulantes cura tudo.

Bem-estar e saúde integral são obtidos através do cumprimento das Leis Divinas inscritas na consciência de todos nós! O resto é preguiça moral, balela e promessa de artificiosa cura que se transformará em desafiadora moléstia moral amanhã.


Referência bibliográfica:

[1]        SOUTO Maior, Marcel. As vidas de Chico Xavier / MARCEL Souto Maior. 2. cd. rev. e ampl. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003

[2]        Idem

[3]        VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Cap.35. RJ: Editora FEB, 1977-5ª edição

[4]        KARDEC, Allan. Viagem Espírita 1862, pág. 33, RJ:  Ed FEB, 1999

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