Favorecido pela abertura do amigo,
entrevistei em determinada cidade, um frequentador comum de nossas instituições
espíritas. Jovem na idade e na atividade espírita, fez considerações
importantes sobre sua visão do movimento. Parece-nos uma advertência sincera e
oportuna a todos nós, dirigentes, palestrantes, coordenadores de estudos,
recepcionistas, atendentes. Não que tenhamos que concordar com tudo, até por
força de circunstâncias variadas e detalhes peculiares a cada local ou
instituição, mas a leitura de suas respostas levará a grave reflexão. O
entrevistado preferiu não se identificar. Respeitei sua decisão e apresento
suas respostas aos questionamentos que fizemos, e que foram resultantes de
nossos diálogos preliminares.
1 - Quais as impressões que lhe causaram
o conhecimento espírita? Não o conhecimento dos espíritas, das casas e
instituições com suas atividades, mas o espiritismo mesmo, em seus fundamentos,
em seu coração? Que tipo de impacto ou impressões lhe trouxeram esse
conhecimento?
Cresci fora da Doutrina Espírita e não sabia
muito o que esperar, não criei expectativas, apenas fui conhecer. O
conhecimento me libertou de algo que me consumia e que poderia chamar de
obrigação e me mostrou que a fé está longe de ser uma leitora de palavras,
mostrou-me que é na simplicidade que está a verdadeira fé, nas atitudes do
dia-a-dia, no amor ao próximo.
2 - E como você vê a programação das
instituições que trabalham em nome do Espiritismo?
Gosto muito da programação em mídias sociais,
especialmente as palestras disponíveis no youtube, que são canais que me atraem
pelo fato dos meus horários sempre corridos. As atividades das casas espíritas,
todavia, não me atrai muito pelo fato de faltar uma linguagem mais simples e
mais despojada.
3 - O que lhe causa mais estranheza? Por
que?
O que me causa mais estranheza é a falta de
palavras simples e amor. Tenho receio de chegar ao centro hoje porque se tornou
algo que temos por obrigação abaixar a cabeça e escutar. Acredito que o conteúdo
espírita abre um leque gigante de perguntas e seria muito interessante poder
participar mais, ter oportunidade de perguntar, debater mais, participar.
4 - O que acha que realmente falta? Por
que?
Me faz imensa falta estar junto às pessoas,
falta o face a face das perguntas, do bate papo, do amor, da espontaneidade, do
riso, da alegria. Sinto falta porque isso está afastando muitas pessoas de
minha idade (estou na faixa dos 30 a 40 anos), pois a sensação que os
dirigentes e palestrantes, ou coordenadores de grupo, passam, é de uma doutrina
triste. Creio, pelo que já conheço, que o Espiritismo não veio apenas para
falar de morte ou sofrimento, ou aflições. Ele tem uma mensagem de esperança e
alegria, que não é repassado aos frequentadores. Por isso, em muitas
instituições, ele se tornou a doutrina da morte, apenas do consolo após a
morte. Mas e o agora da presente oportunidade? No meu entender da alma imortal,
com a vida que continua, não está faltando uma integração dessa continuidade
natural. Parece-nos pela maneira como está sendo conduzido que precisamos
chorar e temer. Infelizmente a mensagem de alegria e esperança, desde os dias
presentes – onde nos debatemos com tantos desafios – não está sendo passado.
5 - Embora você conheça o Espiritismo na
cidade onde reside, como sente o movimento em si pelo país, pelas notícias que
pode captar pela mídia impressa ou virtual?
Não consigo sentir. O movimento espírita é de
difícil acesso. Quando pesquiso algo, sinto que o Espiritismo é uma doutrina
que se esconde, embora eu saiba que não é vaidosa. Sei da força que tem, que
não precisa de holofotes, mas muitos daqueles que falam em seu nome prezam
esses holofotes. Gostaria que se mostrasse mais em ações e iniciativas que o
tornassem mais acessível ao grande público. Para que o conheçam e o busquem não
para saberem apenas da morte e seus desdobramentos, mas especialmente por
amarem a própria vida.
6 - O que acha das lideranças espíritas?
Não sou a melhor pessoa para julgar as
lideranças espíritas, porém, gostariam que se espelhassem mais na evangélica,
nos sinceros líderes evangélicos, que se aproximam amorosamente do público.
7 - E dos palestrantes que usam da
palavra para divulgar a ideia espíritas?
Na maioria das vezes e como eu observo e
escuto muitas pessoas ao meu redor....pessoas como eu .....a divulgação
,palestras me deixam sem entender...usam muito teor TÉCNICO em meio de pessoas
simples que queriam apenas ouvir algo pra alegrar...vejo que as palestras ondem
envolvem músicas algo como teatro bate papo são as que mais lotam...por ser de
fácil entendimento e sentimento.
8 - E dos coordenadores de grupos de
estudos?
Falta humanidade, aquela de se colocarem mais
no lugar do próximo, que ali está ao lado deles.
9 - Se pudesse resumir seus sentimentos
ou impressões para sugerir aperfeiçoamento nas atividades dos centros, o que
diria em termos gerais?
Quando fui a primeira vez me senti alegre de
uma maneira inexplicável...fui recebida com sorrisos...a um amor gigante. Ali
me sentia preenchida e com isso enchia meu coração de alegria...as atividades
eram cheias ...mas faltou complemento tipo calor humano algo que me deixasse mais perto do
espiritismo...ao meu ver parece que o espiritismo é apenas para os escolhidos....
10 - E na integração da criança e do
jovem nas atividades espíritas, o que considera importante?
Eu mudaria a forma de chamar esses jovens.
Com danças, cantos, teatros, fazer o Espiritismo chegar de outra forma, chegar
leve, sem cobrança, sem perfeição, apenas ser espírita.
11 - E da linguagem e tipos de estudos
utilizados nas preleções e grupos?
Precisa ser mais simples. Está muito técnica.
12 -
E para quem se aproxima agora do
Espiritismo, considera que a linguagem atende à expectativa? Por que?
Como já me referi, por ouvir muitas pessoas
em meu dia-a-dia, infelizmente acredito que a maioria procura um consolo pelas
aflições ou pela morte de entes queridos, mas em alguns casos dirigentes,
palestrantes e coordenadores de grupos de estudos está assustando as pessoas e
essas se afastam gradativamente.
13 - O que seu coração de dizer aos
espíritas?
Ame sem julgamento. Apenas ame. Na
simplicidade é que aprendemos e reconhecemos Jesus. O Espiritismo não é a
salvação ou pós/mestrado da inteligência religiosa. Ao contrário, o Espiritismo
ainda é o ensino fundamental, que consola, que conforta e orienta. Temos muito
ainda a aprender, com a prática, pouco com a teoria.
14 -
E aos que agora se aproximam?
Espiritismo é amor, é aceitação, é perdão, é
fé no futuro. É fé na vida.
15 - E aos palestrantes?
Sorria nas palestras. Afinal estamos ainda
todos encarnados.
16 - E aos dirigentes?
Evitem julgamentos, isso só afasta as
pessoas.
Agora ficam conosco as reflexões que
queiramos fazer, aproveitando ou não os parâmetros citados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário