Visitar o mundo além dos limites do
território que habitamos é um convite pleno à ressignificação dos fatos
contemporâneos que nos alcançam. Ressignificar é um verbo transitivo que nos
faz mergulhar nas experiências do passado, que pareçam imutáveis, e permite
cogitações de um futuro diferente, simplesmente por driblar qualquer motivação
que induza a acreditar que algo existe para a eternidade, sem chances de
mudanças. O verbo ressignificar detém a força de impedir a conformação com
qualquer projeto destituído de estética, espiritualidade, harmonia e paz
social, e maior virtude é manter o ânimo aceso para resistir aos problemas do
momento, sem desanimar.
Sem
que percebamos a história da humanidade comprova que os ciclos de destruição e
lágrimas são passageiros e são degraus para a retomada de avanços
civilizatórios que, entre outras providências, tratam de corrigir as falhas que
produziram o problema. O Japão que se nega a entrar numa guerra estava
destroçado no final da década de 40, assim como a Alemanha que já não precisa
de ditadores sanguinolentos. Um passeio nas memórias do Palácio de Versalhes
mostra quão longínquo aquela sala em que os reis se alimentavam enquanto os
súditos famintos eram escolhidos para apenas testemunharem a refeição da
família real. Houve os que desanimaram e aceitaram aquele passado dolorido.
Outros resistiram e ressignificaram, o que exigiu esforço e resiliência,
inteligência e associação com tantos outros que pensassem de forma semelhante.
Quando
se busca a herança histórica de tantos que trouxeram grandes saltos ao mundo é
nítida a releitura que classifica o tipo de ação que cada líder exerceu. Ao lado de Sócrates, Aristóteles, Budha,
Jesus, Cristovão Colombo, Newton, Thomas Edison, Einstein, Marie Curie,
Picasso, Gandhi, Tereza de Calcutá, as enciclopédias trazem os nomes de
Herodes, Calígula, Nero, Robespierre, Napoleão Bonaparte, Stalin, Mussolini,
Hitler, Pinochet. Qual das duas listas parece ter tido ação mais aguda? Todos
esses passaram pelo tempo, mas apesar das grandes dores trazidas pelos
ocupantes da segunda lista terá sido a ressignificação dos que ocupam a
primeira lista que deve ter trazido o nosso tempo ao que precisamos.
Ressignificar
exige a coragem do prosseguir além das aparências. Incide em aceitação dos
fatos, única forma que torna possível a transformação, pois a negação é uma
espécie de fechamento dos olhos e, portanto, inimiga da mudança necessária. Num
contexto de exaltação do orgulho, do egoísmo e da ambição é comum que
convivamos com a barbárie que dormita no íntimo de cada pessoa e que explode na
turba, mormente quando o ódio instrumenta o modo de pensar e dogmatiza o
raciocínio.
Os
exemplos de dor e sofrimento fabricados no passado nem sempre são suficientes
para que aprendamos a lição definitivamente porque, dissociados da história,
caminhamos esquecidos de que a intrepidez e a violência escondem armadilhas
para o sensório e que o aprendizado coletivo é a maneira mais eficaz de
sabermos que o outro priva das mesmas dificuldades. O aprender coletivo é a
forma mais refinada de ressignificar as mudanças, pois a ação de dividir produz
o enfraquecimento de ânimo. Ressignifiquemos o momento com a certeza de que o
primeiro passo sempre será individual e mudar é vital para evoluir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário