A
partir de 2013, com a necessidade das pessoas se posicionarem politicamente
frente à situação econômica e social do Brasil, o movimento espírita inicia um
processo em que ficam claros posicionamentos de diversas matizes e, de certa
maneira, antagônicas, que podemos aqui classificar como os conservadores e os
progressistas. Divergem aqueles que defendem a institucionalização do movimento
e os que querem a prática espírita kardecista livre de qualquer amarra.
Com a polarização, não só no espiritismo, mas
em linhas evangélicas cristãs, houve ampla campanha contra ideias socialistas,
comunistas, marxistas. Em uma dessas campanhas, o pensador alemão Karl Marx é
demonizado por ter tirado Deus de seus trabalhos, dando força ao materialismo e
contaminando a ciência e filosofia desde o fim do século XIX até hoje.
Assim, partindo do espiritismo como lente
para olhar o mundo e as ideias, há quem diga que aqueles que defendem ideias
socialistas não podem ser espíritas, pois se creem em Deus e no mundo
espiritual, não poderiam aderir ou sequer estudar qualquer assunto materialista.
A conclusão dessa narrativa é que aqueles que se denominam espíritas
progressistas, que constroem pontes entre ideias materialistas e espiritismo,
seriam falsos espíritas que buscariam na verdade acabar com o movimento
espírita no Brasil.
Não há sentido nesse tipo de afirmação.
Aqui vale a pena desenvolver um contra ponto
à questão de que o estudo, a análise e o uso de teorias materialistas não
permite que alguém seja um espiritualista. Algum tempo atrás, em uma entrevista
de Stephen Hawking para a revista Scientific American, o físico declarou que
não podia dizer se Deus existia ou não, mas que a ciência até onde foi não
precisava dele para nada. Foi uma declaração de um cientista maduro que sabe
como se estabelecem as teorias cientificas que dão corpo e sentido à realidade
que nos rodeia. Enquanto elas traduzirem essa realidade, elas persistem.
Ou seja, a física, como ciência, se apropriou
de sistemas e métodos que proporcionaram que ela se estabelecesse no mundo como
guardiã da verdade relacionada ao funcionamento do mundo material sem Deus, sem
espíritos ou qualquer crença sobrenatural. Se nos debruçarmos sobre a origem do
universo devemos abraçar a teoria criacionista da Bíblia ou o Big Bang?
Na Introdução do Livro dos Espíritos, Kardec
nos mostra como foi seu processo ao tomar contato com o fenômeno das mesas
girantes e como isso evoluiu para seu trabalho de pesquisa. Teve mente aberta,
sem ideias pré-concebidas, fazendo a análise de todas as possibilidades sobre
os fatos que observava. Como intelectual, ele estava mergulhado no ambiente
filosófico e científico de sua época, porém não limitou seu olhar a partir das
premissas em voga. Ele criou um método totalmente novo para abordar o mundo
espiritual que se descortinava. Significa dizer que o Espiritismo, isso é bem
claro, não é uma revelação, é um trabalho de ciência e filosofia empreendido
por Kardec, que após suas pesquisas, concluiu implicações morais e religiosas.
Ele ligou nossa vida material à espiritual mostrando que existia um
encadeamento lógico e evolutivo, a partir de uma entidade superior que criou o
mundo e todas as coisas.
A partir do entendimento das implicações
morais e religiosas (no sentido de se ligar a Deus), Kardec desenvolveu seus
argumentos da fé racionalizada: sem dogmas e sem qualquer misticismo. Nada
poderia ser aceito sem reflexão e senso crítico, especialmente a tradição
religiosa daquele tempo que ainda está presente nos dias de hoje.
Se eu vejo o mundo pelo olhar do espiritismo,
se me coloco como progressista e consigo dialogar com teorias materialistas,
como as de Marx ou de Hawking, eu amplio meu entendimento de mundo e capacidade
de ser um espírito que trabalha em prol da evolução de todos. Não há problema
algum com essa postura, já que a fé racionalizada leva à emancipação e não à
submissão do espírito. Essa emancipação é demonstrada no uso da razão para além
da fé, quando partimos das premissas básicas presentes em Kardec, como o papel
do amor e da igualdade na evolução, para balizar nossa postura ativa no mundo.
Com essas premissas, a compreensão e o estudo de ideias materialistas fazem com
que tais ideias ganhem uma dimensão que nunca tiveram, assim como nós espíritas
ganhamos uma visão de mundo mais rica e complexa.
Penso que ao estudar a doutrina e concebendo a fé raviocinada cai por terra a idéia que um espírita não pode ser socialista. Quando estudamos e vemos poucos exemplos pelo mundo de práticas socialistas se constata essa aproximação com aquele que mais pregou a igualdade, a fraternidade entre os homens.
ResponderExcluirA cada investida em cima da classe trabalhadora vejo que estou do lado certo da história política e religiosa.precisamos é colocar em prática a caridade com justiça social. A verdadeira!
A raiz da sociedade humana é socialista, exatamente em obediência ao princípio harmônico da Natureza, onde todos os elementos se demonstram complementares. Os demais sistemas são filhos das imperfeições humanas (inclusive as formas de poder socialista que fizeram implodir o Muro de Berlim) e têm tempo contado sobre o planeta. Todos os grandes missionários que vieram à Terra, especialmente Jesus, foram socialistas, pois propagaram Justiça Social com o apelo à visão de igualdade entre os homens/mulheres sob o prisma da visão divina que trouxeram em seus enunciados. É uma ignorância julgar que a visão socialista objetiva igualdade de posses e haveres, isso tornaria o mundo estagnado. O que propugna o socialismo é redução das desigualdades para que todos tenham a garantia dos direitos e respeito a sua dignidade, com o combate ao preconceito e o estabelecimento da harmonia social. Fora desses conceitos é possível que não seja possível alguém se dizer espírita. Roberto Caldas
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