Não fossem os excessos de toda ordem, o
carnaval, como festa de manifestação sociocultural, poderia se tornar um evento
como outro qualquer. Há pessoas que buscam fazer da “festa” uma ocasião de
perspectiva econômica, oportunizando empregos, abrigando menores, e isso talvez
tenha lá o seu valor social. Todavia, a bem da verdade, a relação de
custo-benefício do saldo da homenagem a Momo se resume em três palavras:
violência, ilusão e sensualidade.
A rigor, o que o carnaval proporciona ao
Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? É de se perguntar: será que vale a
pena pagar preço tão elevado por uns dias de insano delírio coletivo? Muitos histéricos adoradores de Momo destroem
as finanças familiares para degustar a atração efêmera de curtir três dias de
completa demência. Marmanjos e donzelas se abandonam nas emboscadas viscosas
das drogas lícitas e ilícitas.
Malfeitores das escuridões extrafísicas se
conectam aos apatetados fantasiados pelos invisíveis hipnotizadores dos
nevoeiros umbralinos, em face dos entulhos lascivos que semeiam no mundo
mental. O Espírito Emmanuel avisa: “Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria,
passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras.
(…) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de
necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se
enfeitem.” [1]
Pactos lúgubres são preparados no além-tumba
e levados a efeito nessas ocasiões em que Momo domina voraz sobre as pessoas
que se consentem desmoronar na festa assombrosa. Os três dias de folia, assim,
poderão se transformar em três séculos de penosas reparações.
A princípio, o Espiritismo não estimula nem
recrimina o Carnaval e respeita todos os sentimentos humanos. Porém, será que a
farra carnavalesca, vista como uma manifestação popular, consegue satisfazer os
caprichos da carne sem deteriorar o espírito?
Será lícito confundir “diversão” passageira com alegria essencial?
Os cínicos foliões declaram que o carnaval é
um extravasador de tensões, “liberando as energias”… Entretanto, no carnaval
não são serenadas as taxas de agressividade e as neuroses. O que se observa é
um somatório da bestialidade urbana e de desventura doméstica.
Aparecem após os funestos três dias momescos
as gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de abortos, incidem
acidentes automobilísticos, ampliação da criminalidade, estupros, suicídios,
aumento do consumo de várias substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim
como o aparecimento de novos viciados, dispersão das moléstias sexualmente
transmissíveis (inclusive a AIDS) e as chagas morais, assinalando, densamente,
certas almas desavisadas e imprevidentes.
Não vemos, por fim, outro caminho que não
seja o da “abstinência espontânea dos folguedos”, do controle das sensações e
dos instintos, da canalização das energias, empregando o tempo de feriado do
carnaval para a descoberta de si mesmo; o entrosamento com os familiares, o
aprendizado através de livros e filmes instrutivos ou pela frequência a
reuniões espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que
o ritmo frenético do dia a dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura
físico-psicológica para os embates pela sobrevivência.
Referência bibliográfica:
[1]
XAVIER , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo
Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987
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