Nas ricas memórias da minha juventude católica abraçada com a poesia da
Pastoral da Juventude do Meio Popular, guardo as gratidões ao sentido religioso
de uma vida em sociedade, sendo povo e com o povo.
Desde aqueles dias Jesus aparecia descalço em
nossas visões juvenis. Era um de nós, porque estava em nós e conosco.
Discutíamos o conservadorismo das alas que
nos rejeitavam e apresentávamos no altar da vida os sonhos que mobilizavam
nossas próprias forças, na luta por presentes e futuros felizes, mas o que me
faz pensar com mais carinho naquela experiência vivida era o quanto pensávamos
no outro, e não apenas em nós mesmos.
Nestes dias de espanto, sob a luz do século
XXI e há apenas algumas décadas daquelas tardes de cantos comunitários, me
encontro espírita e estarrecida com as forças medievais que estão em ebulição
no coração da igreja católica em nosso país.
O Movimento Brasil Católico, sediado no
Paraná, recria a inquisição com o intuito de “queimar” a política de esquerda,
simbolizada (com tremenda injustiça, assim compreendo) na sigla do Partido dos
Trabalhadores.
O arcebispo Don Geremias Steinmetz está sendo
perseguido por ditos fiéis católicos ultraconservadores, acusado de expressar
“ideologias comunistas”, e este fato exorbitante me alerta e faz refletir sobre
os caminhos de morte que a intolerância insiste em recriar.
Voltando às melhores memórias da vivência
católica, penso nas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs que reuniam o povo de
fé nas igrejas e fora delas, pois a prática comunitária agregava as pessoas em
torno das causas comuns, dignificando a união do povo de Deus. Não era apenas
formalidade religiosa, era ação de religiosidade.
O fato de ter realizado o 14º Encontro
Intereclesial das CEBs que reuniu milhares em Londrina, onde inevitavelmente
houve eco das insatisfações com as políticas do país, pois é da essência
comunitária situar vida e fé no contexto histórico, os conservadores liberaram
grandes ondas de ódio (político) na direção do arcebispo, que foi
responsabilizado pela “subversividade” do evento.
Se no mundo avança este conservadorismo
adoecido e inspirado no egoísmo mais profundo, urge fortalecimento dos ecos
libertários!
Don Geremias está em Jesus e Jesus está nele;
estamos todos nós, neste movimento cristão de amor à vida e liberdade, clamando
por justiça onde ela não se encontre e amando os perseguidos por causa dela.
O pacto mais forte seja o do amor universal.
Que as religiões não nos separem, e sempre que a corrente do bem precisar de
reforço possamos todos reunir os elos e segurar as mãos, em oração, canção e
afirmação.
Assim cultivemos um movimento maior do que
qualquer denominação, quando for preciso apoiar um irmão, uma causa e uma
postura política humanitária.
Eis a plenitude da espiritualização.
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