terça-feira, 31 de março de 2020

CELEBRANDO A MEMÓRIA DO DESENLACE DE KARDEC




Os laços relacionais, conviviológicos, que envolvem nossas estradas como caminheiros sociais não precisam obrigatoriamente amarrar nem desamarrar política e senso de religiosidade e transcendência; há algum arbítrio pessoal e escolhas são possíveis, embora nem sempre as pessoas percebam as escolhas que podem de fato fazer.

Escolhi há algumas décadas aproximar a vida do legado kardequiano, pois sentia lacunas incômodas no meu próprio senso religioso e buscava mais do que já sabia possuir, e ao sair da fase juvenil, a realidade foi sendo mastigada com ânsias e amargores, descobrindo que as receitas (até mesmo as caseiras) podem não saciar todas as fomes.


Entre atitudes muito aproximadas do nicho católico do qual havia sutilmente me afastado, e revelações em estudos sobre mediunidade, uma configuração de valor renovado foi sendo articulada em minha mente, que não precisou negar a fé para seguir reeelaborando o sentido político do entorno. Sempre houve política nas práticas de religiosidade, e retirando o peso do mau uso dessa energia de entrelaçamento terreno, isso não é necessariamente ruim.

As obras de Allan Kardec não precisaram fazer frente aos orientadores catequéticos que serviram de base para as crenças, mas acrescentaram à pequena bagagem compreensões mais emancipadoras.

No entanto, em muitas casas espíritas a interpretação tinha o alcance das inclinações mais antigas das obras, oriundas do contexto histórico; acrescentando práticas arcaicas de condução das necessidades humanas, sejam estas materiais ou espirituais, nos moldes da dominação, substituindo libertação por dependência e condicionamento, baseadas em discursos de responsabilização individual sobre ocorrências sociais, culturais e também políticas que afetam coletivamente mas principalmente de maneira individual cada pessoa.

Navegadora de outras tantas linhas teóricas e correntes de pensamento, nas orientações kardecistas firmei base para resistir às tormentas, sem carecer negar Ciência nem Política para viver na Fé.

E neste dia 31 de março de 2019 celebramos com preces a memória do retorno de Kardec à morada espiritual.

Pois como espírita progressista reconheço que não há outra ocorrência histórica a celebrar.

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