Os laços relacionais, conviviológicos, que
envolvem nossas estradas como caminheiros sociais não precisam obrigatoriamente
amarrar nem desamarrar política e senso de religiosidade e transcendência; há
algum arbítrio pessoal e escolhas são possíveis, embora nem sempre as pessoas
percebam as escolhas que podem de fato fazer.
Escolhi há algumas décadas aproximar a vida
do legado kardequiano, pois sentia lacunas incômodas no meu próprio senso
religioso e buscava mais do que já sabia possuir, e ao sair da fase juvenil, a
realidade foi sendo mastigada com ânsias e amargores, descobrindo que as
receitas (até mesmo as caseiras) podem não saciar todas as fomes.
Entre atitudes muito aproximadas do nicho
católico do qual havia sutilmente me afastado, e revelações em estudos sobre
mediunidade, uma configuração de valor renovado foi sendo articulada em minha
mente, que não precisou negar a fé para seguir reeelaborando o sentido político
do entorno. Sempre houve política nas práticas de religiosidade, e retirando o
peso do mau uso dessa energia de entrelaçamento terreno, isso não é
necessariamente ruim.
As obras de Allan Kardec não precisaram fazer
frente aos orientadores catequéticos que serviram de base para as crenças, mas
acrescentaram à pequena bagagem compreensões mais emancipadoras.
No entanto, em muitas casas espíritas a
interpretação tinha o alcance das inclinações mais antigas das obras, oriundas
do contexto histórico; acrescentando práticas arcaicas de condução das
necessidades humanas, sejam estas materiais ou espirituais, nos moldes da
dominação, substituindo libertação por dependência e condicionamento, baseadas
em discursos de responsabilização individual sobre ocorrências sociais,
culturais e também políticas que afetam coletivamente mas principalmente de
maneira individual cada pessoa.
Navegadora de outras tantas linhas teóricas e
correntes de pensamento, nas orientações kardecistas firmei base para resistir
às tormentas, sem carecer negar Ciência nem Política para viver na Fé.
E neste dia 31 de março de 2019 celebramos
com preces a memória do retorno de Kardec à morada espiritual.
Pois como espírita progressista reconheço que
não há outra ocorrência histórica a celebrar.
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