Num desses tantos contos modernos, três dos maiores magnatas do planeta teriam sofrido uma pane quando viajavam juntos, em vôo particular, pousando o avião numa ilha inóspita, completamente incomunicáveis e munidos de altas somas de cédulas em suas malas. Impossível ir a qualquer lugar, nada para comprar, sem ferramentas de sobrevivência. O senso desse relato é de fácil compreensão: qual a importância de todos os valores que carregam nas malas nessas circunstâncias? Como vão conseguir adquirir facilidades e ser reverenciados pelo ambiente que os cerca? O que fazer com o poder de barganha de todas aquelas cédulas que trazem consigo? Qual a real contribuição de suas contas bancárias diante desse drama?
Certamente
numa situação urbana, com todos os aparatos do capitalismo ao alcance, é
possível que víssemos esses personagens funcionando sem qualquer impedimento ao
que bem quisessem, não é? Não! Não é exatamente assim que acontece. Não é
fundamental ser aprisionado numa dessas situações que o relato sugere para que
se avalie a importância relativa que os valores pecuniários exercem em nossa
vida. Isso não significa que os valores monetários são de todo desnecessários,
afinal a sobrevivência acaba esbarrando em seus domicílios, mormente no mundo
desigual em que vivemos.
A
realidade é que vivemos em um mundo que arbitra pelo poder amoedado apenas na
dimensão da referida sobrevivência e é disparate dimensioná-lo além de suas
parcas possibilidades. Todas as demais questões que envolvem a vida prescindem
da moeda cunhada pelas instituições bancárias. Sempre que se busque utilizar a
sua ação para algo mais que o bem estar e o atendimento das necessidades
fundamentais, um grave equívoco se comete. Fama, sucesso, poder, compra de
consciências, controle social, posições espirituais privilegiadas, espertezas
de toda ordem não passam de cortinas de fumaça que o tempo haverá de tornar
cinzas. Além de permitir a manutenção adequada do corpo, da sociedade, do meio
ambiente e incentivar a honesta labuta em torno de sua aquisição é provável que
estacionar a mente em torno de ganhos descomunais com objetivos frequentemente
inconfessáveis, tanto quanto os meios de obtenção, é visão deturpada da
complexidade dos valores humanos. Afinal, a existência é espaço, cuja maior
finalidade é executar os mais nobres propósitos da existência.
A
essência da vida e da morte, a saúde, o afeto interpessoal, as relações
familiares, a subjetividade, a espiritualização dependem de valores que passam
distante da supremacia financeira. São produtos que, levados com quem os
conquistou para qualquer situação e quanto mais alarmante essa seja, ajudarão
na resolução do problema que se apresente. Enquanto o dinheiro intenta comprar
tudo que se vende, os valores da alma alcançam o que não tem como ser
precificado, por não ter preço mesmo.
Fiquemos
atentos, pois tudo que produz iluminação, felicidade, liberdade, completitude,
paz, bênçãos, provém de nossa relação profunda a própria consciência, com Deus
e com o mundo. Esse caminho está aberto também para quem goza de muito poder
econômico e financeiro, desde que não seja essa a sua única riqueza. O que
realmente enriquece não pode ser avaliado pelo mercado financeiro. Não dá para
comprar Deus.
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