terça-feira, 7 de abril de 2020

APLAUSOS AOS ESQUECIDOS


 
         Aqui se propõe um singelo exercício que haverá de movimentar memórias e sentimentos. É sabido que cada um faz parte de uma equipe específica geralmente delimitada pelos laços consanguíneos e amigos mais próximos. Provavelmente a maioria nasce cercada desse contingente de pessoas que em maior ou menor escala são significativas no decorrer da existência e de alguma forma serão lembradas, considerado um leque de reminiscências.

            Há aqueles, no entanto que preencheram alguns espaços e ficaram obscurecidos à medida que o tempo passava em nossas vidas. Inúmeros personagens que, pela maneira como aprendemos a observá-los, se tornaram invisíveis às recapitulações. Haverá aqueles que figuram até o presente, expressivos, e outros retirados da parede, assim como pessoas que esbarraram conosco dezenas ou centenas de vezes. Professores, colegas de turma, conhecidos da patota, o diferente que passava todos os dias na rua, o excêntrico ou louco a quem se dirigiam gracejos. Tantas as razões, pelas quais, os deixamos para trás: pela pobreza, pela riqueza, beleza ou fealdade, por maior ou menor inteligência, pela timidez ou vaidade excessiva, pelos trajes, pela profissão, pela deficiência física ou mental, pela origem familiar.
            O exercício proposta se constitui em buscarmos essas tantas pessoas em nossa memória. Descobrir o contributo de sua presença nisso que nos tornamos. O que vimos ou ouvimos ou testemunhamos de suas vidas que, pouco que tenha sido, acabou por nos permitir uma reflexão mesmo que tardia, capaz de ter-nos tornado alguém melhor.
            Passado o tempo é possível resgatar naquelas deslembranças um roteiro que foi desprezado um dia? Hoje quando o mergulho ao passado revive espectros haveremos de nos surpreender no quanto nos ensinaram enquanto lhes negávamos um espaço? Aprendemos alguma lição que amadureceu nossa atitude quanto às injustiças, preconceitos e abandono?
            A encarnação não é um carteado jogado ao acaso sobre a mesa. Cada encontro que nos permitimos aconteceu com um ser munido de condições evolutivas e capacidade de ascensão espiritual. Se a nossa percepção não captou os sinais que exalavam no entorno, ainda assim é inegável que estávamos diante de um Espírito que ousava, tanto quanto nós, alcançar as benesses de um mundo melhor. É possível que tenhamos passado batido aos ensinamentos de tantas pessoas que trafegaram à margem do nosso caminho, mas se nos detivermos nas mensagens até inconscientes que nos passavam, muito terá havido de aprendizados para os dias atuais.
            Costumamos naturalmente cultivar a memória e a lembrança daqueles que foram exponenciais incentivadores dos resultados que alcançamos. Raramente ou quase nunca são lembrados aqueles que conviveram secundários à atenção que lhes prestávamos. Se possível buscá-los, então bebamos em sua fonte dessa vez. Sabe-se lá onde estão depois de tanto tempo, mas ainda, em nome da fraternidade que haverá de nos tornar caminhantes de uma única estrada, que possamos revivê-los, como se posso possível encontrá-los para o abraço que faltou, para a gentileza negada e em nome de Jesus possamos oferecer os nossos aplausos aos esquecidos de nossa existência.

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