Segundo ONGs de proteção à mulher, a
violência contra a mulher aumentou durante quarentena da Covid-19 na China.
Denúncias das vítimas aumentaram três vezes desde o início da contenção social.
A ativista chinesa Guo Jing narrou à BBC, que mais mulheres estão noticiando
casos de violência que sofreram. Feng Yuan, da ONG de defesa à mulher Weiping,
afirma que sua organização municiou três vezes mais consultas às vítimas do que
antes das quarentenas. A hashtag#AntiDomesticViolenceDuringEpidemic(#ContraViolênciaDomésticaDuranteEpidemia)
foi usada mais de 3 mil vezes na rede social chinesa Sina Weibo com relatos de
vítimas denunciando violência doméstica. 1
Há muito tempo a família vem-se arruinando,
acompanhando as mudanças econômicas, socioculturais e religiosas do contexto em
que se encontram culturalmente inseridas. Hoje em dia paira grande ameaça sobre
a estabilidade familiar, e quando a família é ameaçada, por qualquer razão, a
sociedade inteira perde a direção da paz. O materialismo, a ambição econômica,
os modernos conceitos e promoções sensualistas, têm investido contra a
organização familiar, dilacerando a estrutura da família tradicional. Não será
um vírus avassalador que transformará essa realidade de imediato.
Emmanuel esclarece que “de todas as
associações existentes na Terra, excetuando, naturalmente, a Humanidade –
nenhuma delas, talvez, é mais importante, em sua função educadora e
regenerativa, do que a constituição da família.” 2 Para o Mentor de Chico
Xavier, “através do casal, estabelecido na família, funciona o princípio da
reencarnação, consoante as Leis Divinas, possibilitando o trabalho executivo
dos mais elevados programas de ação do Mundo Espiritual.” 3
Independentemente da atual forçosa limitação
da mobilidade social (quarentena), a rigor, as relações familiais deveriam ser,
acima de tudo, de ordem ética. Mas, observa-se nelas uma deterioração emocional
profunda e uma complexa malha de desestabilidades morais. A violência contra a
mulher chinesa infelizmente não é caso avulso. Em realidade, a violência tem as
suas raízes profundas e vigorosas na selva. O homo brutalis (de qualquer
cultura) tem as suas atávicas leis: subjugar, humilhar, torturar e matar a
mulher.
O pragmatismo das sociedades contemporâneas
robotizou o homem, o que vale dizer que o esvaziou no plano moral. Vejamos: O
mesmo indivíduo que se prostra diante das imagens frias dos altares, nos
templos suntuosos, volta ao seu posto de autoridade doméstica para ordenar
torturas canibalescas. O homem contemporâneo vive atormentado pelo medo, com o
tal inóxio coronavírus que o assombra, uma vez submetido às contingências da
vida atual, de insegurança e de incertezas, resultando em transtornos graves da
mente, pela angústia dissolvente da própria individualidade.
Pior que o CONVID-19 a selvajaria familiar
tem eclipsado, assombrosamente, o logradouro para Deus. Há os que condenam a
violência alheia, mas, no entanto, no dia-a-dia, ao invés de agirem de forma
pacífica e fraterna, são quais fantoches, revidando com a mesma moeda as
agressividades sofridas. Existem aqueles casais que dizem viver um amor
recíproco e, no entanto, quando há qualquer improviso e ou desentendimento
entre eles, são extremamente agressivos um com o outro.
Há os que veem no cônjuge um verdadeiro teste
de paciência, pois os seus “santos” não se “cruzam”. Mais ainda, quando o
assunto são os filhos, há pais que dizem adorar todos eles, mas os consideram
espíritos imaturos, que dão muito trabalho e, não raro, desgostos. A vida em
família para muitos, nessas condições de quarentena, transforma-se em
verdadeiro tormento.
Na verdade, se não nos tolerarmos hoje em
plena quarentena, como será o amanhã? As leis da vida exigem, segundo nos
ensinou Jesus, que nos entendamos com os nossos irmãos de penosa convivência
enquanto estivermos a caminho com eles. A fuga aos deveres atuais será
amortizada mais tarde com os juros devidos.
Há um tipo de violência que muitos não damos
atenção: é a que está fincada dentro de cada um de nós. Violência íntima, que
alguns alimentam, diariamente, concedendo que ela se torne animal voraz. É o
ato de indiferença que um elege para apunhalar o outro no relacionamento
doméstico, estabelecendo silêncios macabros às interrogações afetuosas. São os
cônjuges que, entre si, pactuam com a mudez, como símbolo do desconforto por
viverem, um ao lado do outro, como algemados sem remissão.
A violência de fora pode nos alcançar,
ferir-nos e, até mesmo, magoar-nos profundamente, mas, a violência do coração
(interna), silenciosa, que certas pessoas aplicam todos os dias, em seus
relacionamentos, é muito mais perniciosa e destruidora. A paz do mundo começa
sob o teto a que nos albergamos. “Se não aprendemos a viver em paz, entre
quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações?” 4
O Espiritismo explica que “os que encarnam
numa família, podem ser Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações,
que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode
acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos,
afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na
Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação.” 5
A família, para determinadas religiões e
sociedades, é algo indissolúvel. Tempos atrás, a manutenção dessas famílias
era, somente, para manter aparências de respeito e felicidade. Hoje,
observam-se famílias se desfazendo por trivialidades. O que é o ideal? A
família de “porta-retratos” ou a família que se dissolve na primeira
“tempestade moral”?
Cremos que o Centro Espírita pode dimensionar
os serviços de suporte à família atual, mas não de forma isolada. Precisa a
Casa Espírita integrar suas ações com outras instituições, tanto de caráter
religioso como social, na busca da melhor qualidade do atendimento individual e
coletivo, naturalmente, sem perder sua identidade doutrinária, mas, objetivando
o resgate da ordem moral, que deve alicerçar a família como espaço de
convivência.
Notemos que “o estudo do Evangelho no lar” é
uma forma de reunir a família em torno de um objetivo comum. “A comunhão
familiar, onde todos conversam, trocam ideias, falam de seus problemas,
comentam suas atividades à luz dos ensinamentos de Jesus, representa o mais
eficiente estímulo para o estreitamento das ligações afetivas, transformando o
lar em porto de segurança e paz, com garantia de equilíbrio e alegria para
todos”. 6
É imprescindível praticarmos os Ensinos de
Jesus no lar, contribuindo com a parcela de mansidão para pacificá-lo. O homem
moderno ainda não percebeu que somente a experiência do Evangelho pode
estabelecer as bases da concórdia, da fraternidade e constituir os antídotos
eficazes para minimizar a violência que, ainda, avassala o ninho doméstico e
deságua na sociedade.
Portanto, mesmo num ambiente familiar
momentaneamente conturbado pelo confinamento, onde existe a evidente reunião de
Espíritos não afinados, se for instituído o estudo de Evangelho nesse lar, esse
“(…) produzá sinais evidentes de paz, e aqueles que antes experimentavam
repulsa pelo ajuntamento doméstico descobrem sintomas de identificação,
necessidade de auxílio mútuo.” 7
Pensemos nisso.
Referencias
bibliográficas:
1 Disponível em
https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2020/03/violencia-contra-mulher-aumentou-durante-quarentena-da-covid-19-na-china.html acesso 05 de abril de 2020
2 XAVIER, Francisco
Cândido. Vida e Sexo, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB,
1972
3 XAVIER, Francisco Cândido. Vida e Sexo,
ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1972
4 XAVIER, Francisco
Cândido. Jesus No Lar ditado pelo Espírito Néio Lucio, Rio de Janeiro: FEB,
2001
5 KARDEC, Allan. O Evangelho
Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, cap. XIV
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