É assim que tudo
serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo,
que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso
acanhado espírito ainda não pode apreender em seu conjunto!”
(O Livro dos
Espíritos, questão nº 540.)
Por Jorge Luiz
Allan Kardec afirmou que há um tipo de
polêmica que os espíritas não devem recuar jamais: é a discussão séria dos princípios que professamos. Estando-se com
Kardec se está em boa companhia.
Essa polêmica vem se caracterizando
nos últimos anos em um espectro doutrinário, validando-o, assim, por questões
político-partidárias, quando deveria ser, tão somente, política.
O motor desse momento é
tornar a questão mais lúcida dentro de torrente pandêmica de compreensão,
notadamente, espírita.
Hermes de Trismegisto,
legislador e filósofo egípcio, que viveu por volta de 1330 a.C, na sua quarta
lei, de sete – Polaridade -, “Tudo é
duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a
mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos
os paradoxos podem ser reconciliados”.
Kardec no estudo em A Gênese, sobre o bem e o mal, a
reconhece quando afirma: “Que o mal é a
ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. O mal não é mais um
atributo distinto, assim como o frio não é um fluido especial…”.
A
Doutrina Espírita é herdeira do Iluminismo – tendo, como herança espiritual de
Rousseau-Pestalozzi-Kardec, um movimento intelectual e filosófico que dominou o
mundo das ideias na Europa durante o século XVIII, conhecido como “Século da Filosofia”. Uma filosofia que
tem sua gênese na ciência do Espírito, elaborada por Kardec, obedecido o método
experimental, método inovador que sofreu as influências das ideias de Galileu e
Newton, e que se instalou nos gabinetes de Física Experimental, nas mais
prestigiadas universidades europeias. Kardec submeteu esses resultados a dois
criteriosos controles: o primeiro controle é, sem contradita, A RAZÃO; o
segundo é a concordância do que ensinam os Espíritos, aquilo que ele denominou
CONTROLE UNIVERSAL, onde reside a
garantia para a unidade futura do Espiritismo e anulará todas as teorias
contraditórias.
A grande certeza de
Kardec é a existência do Espírito, que deixa de ser postulado de fé e hipótese
filosófica, e passa a ser evidência científica. A filosofia, que até então, só
se limitava à interpretação do mundo, surge com a práxis,
para
além de interpretar o mundo, cuida da sua transformação, de forma consciente.
Kardec
ainda vai mais longe, e com a preocupação da unidade de princípios, que poderia
entravar o progresso do Espiritismo, elabora o Projeto 1868, em que ele demonstra sua preocupação não só com o
presente, mas também com o seu futuro e ele a formulou, em todas as suas
partes, e até nos mais minuciosos
detalhes, com um tanto de precisão e de clareza, para que toda interpretação
divergente seja impossível.
Conclui-se, pois, que
a polarização existente no movimento espírita, como já dito neste sítio, é de
natureza eminentemente doutrinária. Uma das polaridades está negando os
princípios doutrinários, é fato.
No
momento em que se vive no movimento espírita brasileiro a panaceia da Transição
Planetária, como se ela caísse dos Céus em forma de bênçãos, surge na Terra um
ser invisível; um vírus, oriundos
dos primórdios da vida, que está sob os impulsos dos Gênios Construtores,
conforme atesta o Espírito André Luiz, formado de nucleoproteínas e globulinas
e ofereceu clima adequado para o surgimento do princípio inteligente. Dele vão aparecer as formas celulares e o
nascimento vegetal, vem oferecer Luz aos
seres inteligentes da criação. Ironia da evolução. Os extremos se buscam e
não se tocam, movimento da consciência, em espiral evolutiva, como uma mensagem
metafórica ao homem. A evolução é o caminho. O progresso é inexorável. Leia-se
comentário de Kardec na questão n° 604, de “O
Livro dos Espíritos”:
“Tudo
na Natureza se encadeia por liames que ainda não podeis ainda perceber, e as
coisas aparentemente mais disparatadas têm pontos de contato que o homem jamais
chegará a compreender no seu estado atual.”
A Humanidade chegou a uma
bifurcação na sua saga evolutiva. Dois caminhos se apresentam, e é aqui que a
polarização terá que ser resolvida. Totalitarismo
ou Alteridade? Totalitarismo ou Democracia? A democracia será tratada como
estágio do Reino em outro momento. No pós-pandemia, essas reflexões levarão luz
ao futuro da Humanidade. Positivas são as expectativas para o porvir da
sociedade global. Tudo exige uma nova ordem social na Terra. A escala
tradicional de valores deverá ser revisitada em todos os aspectos, na seara
espírita não será diferente.
Está-se descobrindo que se
necessita um do outro para viver. É o reconhecimento do profissional da saúde,
dos catadores de recicláveis e dos garis. Todos esses aspectos juntos com a
coordenação e cooperação global têm um viés revolucionário. Não mais revolução
pelo armamento, mas pelo ideal comum. Não mais o fascismo nem o totalismo.
Surgirá um novo comunismo, longe do comunismo histórico, mas o construído pela
alteridade, pois ela é exigência da construção do Reino. As instituições devem
reconduzir os cidadãos para um maior controle para os que nos governam. Uma
coisa é certa, as iniciativas que se manifestam em todo o Planeta vislumbram
mudanças profundas para a fraternidade universal. O monstro do neoliberalismo
será abatido. A economia social será a vertente da vez. Os Espíritos encarnados
são os agentes da transição, e não os desencanados. O Espiritismo não flerta
com atitudes que ferem os direitos dos indivíduos.
A pandemia é determinismo
reativo dos ataques aos fundamentos que tocam as vertentes democráticas dos
últimos tempos. O vírus não é inimigo, como tratado. O ser humano é o inimigo
de si próprio.
Por
que alguns espíritas optam pelo obscurantismo em vez da claridade, se o
Espiritismo é tão fácil? A opção no Brasil pelo aspecto religioso igrejeiro é
determinante para esse estado de coisa. A religião é apascentadora. A religião
é presa a símbolos, ritos e tradição. A filosofia é libertadora; exige pensar.
Busca-se
a religião, via de regra, para a conquista da felicidade. É uma relação de
benefícios e não de sacrifícios. A filosofia, além de interpretar o mundo,
exige que você enfrente os sistemas desse mundo e o transforme. Aqui está a
gênese do problema. Parte dos espíritas fugiu, durante décadas, desse processo.
C.S. Lewis (1868-1963),
festejado pensador, nascido na Irlanda, mais conhecido pela Apologia Cristã, assim se refere a esse
respeito, no tocante a ser cristão:
Cristo diz, ele afirma:
“Quero tudo o que é seu. Não quero uma
parte do seu tempo, uma parte do seu dinheiro e uma parte do seu trabalho:
quero você. Não vim para atormentar seu ser natural, vim para matá-lo. As
meias-medidas não me bastam. Não quero cortar um ramo aqui e outro ali; quero
abater a árvore inteira. Não quero raspar, revestir ou obturar o dente; quero
arrancá-lo. Entregue-me todo ser natural, não só os desejos que lhe parecem
maus, mas também os que se afiguram inocentes - o aparato inteiro. Em lugar
dele, dar-lhe-ei um ser novo. Na verdade dar-lhe-ei a mim mesmo: o que é meu se
tornará seu.”
A
causa basilar de tudo é que pensar é demasiadamente trabalhoso. Muitos preferem
opinião. Muitos espíritas formulam uma ideia pessoal da Doutrina e se apegam a
esse estereótipo e se esquecem dos fundamentos mais importantes. A Doutrina
Espírita precisa ser estudada, considerando-se que a filosofia é o debruçar
sobre si mesmo. Sem estudo, o que se percebe na casa espírita é um ritual de
trabalhos práticos – mediunidade e fluidoterapia -, com uma ilusão de que se
está fazendo Espiritismo. Na realidade, é como se num grande banquete
espiritual, o convidado se serve à serlf-service,
preso às opiniões ou convicções, que são confundidas com segurança e
felicidade.
Bibliografia:
KARDEC, Allan. A gênese. São Paulo: LAKE, 2010.
_____________. O livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2000.
_____________. Obras póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
_____________. Revista espírita. Brasília: FEB, 2004.
LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
LUIZ, André. Evolução em dois mundos. Brasília: FEB, 1991.
"PENSAR É DEMASIADAMENTE TRABALHOSO". Talvez essa seja a síntese da falta de pensar no Movimento Espírita. Tanto que os que pensam são tornados adversários da "caridade com os outros" quando se antepõem aos distratos sofridos pelo pensamento de Kardec no local em que esse pensamento deveria ser protegido, qual seja no centro espírita. A opção pelos fenômenos mediúnicos (sem o devido rigor) e as práticas de evangelismo social parece ser suficientes e retardam a percepção de que o vetor crítico da Doutrina Espírita se encontra na construção de uma nova ordem racional que está muito além da visão maniqueísta que separa o mundo material do mundo espiritual. Roberto Caldas
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