Numa época em que a energia elétrica não era
tão disseminada, as pessoas utilizavam a incandescência de candeeiros
alimentados por querosene. Relatos de testemunhas que vivenciaram os horrores
da 2ª Grande Guerra (1945/1949), que felizmente não teve o território
brasileiro como palco, informam que durante muitas noites os lumieiros a gás precisavam
ser dispostos embaixo das mesas para não chamar a atenção dos aviões inimigos
que passavam zunindo o céu noturno, com as populações domésticas apavoradas com
a possibilidade de bombardeios. Também relatam que o gás, o pão, a fruta, que
já eram escassos nos domicílios mais pobres, se tornaram de aquisição mais
difícil e havia solidariedade entre os vizinhos, ambos na escassez. Aquele
trágico momento da história deixou terra arrasada, mas a humanidade se refez
pedra sobre pedra, numa nova conjuntura, apesar de todas as imperfeições que
legitimou essa trajetória.
Outras
guerras mantiveram o fogo da cizânia crepitando. Como não há caminho pronto
viemos de crise em crise cerzindo as estratégias para a sociedade humana.
Aprendemos aos trancos e barrancos que coisa alguma fica sem resposta e a
interlocução da Natureza revela o que estamos plantando. A colheita será digna
da semente lançada, é justo que assim seja. Aprender é mudar. A origem nos
premiou com a ignorância (LE – q. 120), e toda propensão ao mal é escolha do
livre arbítrio (idem). Daí, se erramos, seja por ignorância ou maldade
haveremos de ser alcançados por resposta correspondente. Nos conflitos e
conflagrações coletivas é natural que todos sofram impactos aparentemente
semelhantes, mas ainda aí a luz individual, mesmo embaixo de mesa simbólica, terá
claridade específica.
As
verdadeiras revoluções não são aquelas que derrotam por armas e dominam o
adversário com a finalidade de calar a sua existência. A verdadeira revolução é
aquela que nos indica soluções novas para problemas antigos e faz das
experiências, acertadas ou não, o carpete para tecer propostas diferentes
daquelas até então degustadas. A verdadeira revolução é aquela em que os
oponentes são os erros e os vícios repetidos, mas as pessoas se dispõem de um
mesmo lado e a vitória haverá de ser repartida por todos, com a justiça da
partilha estabelecendo quinhões compatíveis.
Ouvimos
relatos da 2ª Guerra Mundial. Relataremos às gerações futuras a guerra que nos
dispôs frente a frente a um microscópico vírus que nos lançou diante do
espelho, forçou o convívio e acendeu saudades já esquecidas. Sem bombardeios
possíveis. Formando um só time, com espetáculo de torcida única que poderia até
estender uma faixa TODOS DA HUMANIDADE – JUNTOS, apenas temporariamente
afastados. Venceremos? Sim! Claro que choraremos os que se foram, mas todos
serão medalhados, com louros especiais aos nossos semelhantes missionários que
tornam a luta mais amena para a maioria. Nada será como antes amanhã, porque
terá sido esse ANTES que nos trouxe para o conflito de agora, lembremos disso.
Tudo será necessariamente diferente, mas cabe perguntar: aprenderemos a
dividir? Teremos olhar mais compassivo à dor do outro? Abraçaremos com mais
carinho? Valorizaremos mais os amigos? Respeitaremos os espaços em comum?
Seguiremos o caminho para a PAZ?
As próximas gerações é que
vão USUFRUIR, sem as agruras desses momentos, do legado que passemos a construir JÁ. A crise
vai passar. Estamos dispostos para uma nova ordem no mundo?
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