No vídeo Animal, os humoristas da Porta dos
Fundos escancaram o quanto nossa percepção de mundo é limitada, ou até mesmo
falseada por nós mesmos, e acabamos vivendo fora da realidade das coisas.
Outro dia escutava uma ambientalista falando
desse problema de percepção. Comer ou não comer carne é um posicionamento
individual, quanto a isso não há dúvida, porém, o que ela frisava e sugeria era
o questionamento crítico da matriz alimentar continuar baseada em carne, e
principalmente a carne bovina, pois a criação de gado bovino no Brasil é um dos
principais fatores de desmatamento da floresta amazônica; fato difícil de ser
ligado quando pegamos na gôndola do supermercado o pacote de nosso corte
preferido para o bom e velho churrasco de fim de semana. Esse fato se
inter-relaciona com mudanças climáticas, que por si afetam colheitas e
condições de saúde da população, e assim por diante.
Outro setor que nos coloca em xeque é o de
confecções e mexe com nossa percepção de oportunidade, custo/benéfico e
aceitação de modelo econômico. Sabe-se que na cidade de São Paulo há recorrente
libertação de trabalhadores imigrantes ilegais, em sua maioria bolivianos, em
condições análogas à escravidão; pessoas que trabalham em jornadas extenuantes,
presas em cubículos e que ganham trocados por sua produção, o que faz terem
dívidas com seus empregadores, e, assim, esses empregadores detém a liberdade
dos empregados sob seu jugo. Mas gostamos de entrar nas lojas e encontrarmos
bons preços.
A visão ampla do mundo não é fácil: na
cultura pop, diversas fontes ilustram de forma sutil como o viver dentro de
limites curtos da percepção pode gerar problemas e conflitos, agravando aquilo
que já é ruim. Pego o exemplo no mundo dos quadrinhos e cinematográfico de Peter
Parker, o Homem Aranha; ele não interferiu na perseguição de um assaltante por
não ter nada a ver com aquilo, minutos depois esse assaltante em fuga causa um
acidente, matando seu tio.
Obviamente, a análise ampla e provida de amor
sobre o Homem Aranha não nos fará vigilantes noturnos, pelo contrário,
dever-nos-á tornar mais abertos e sensíveis com a humanidade como um todo, sim,
inclusive com aqueles que vivem fora do alcance de nossos olhos. O conceito de
amor entra nesse assunto devido ao elevado teor da palavra em si: trata de
relacionamento, de valores grandes e generosos, tudo aquilo que pode, no fim
das contas, gerar empatia pelo outro, mesmo que o outro esteja muito longe.
O sentimento de existência do outro é
essencial na percepção de mundo, a partir dessa referência externa não nos
colocaremos em bolhas de conforto pessoal, nem aceitaremos a imposição de uma
visão de mundo por parte de um terceiro, sem qualquer contestação. O fato de
percebemos que há problemas que afetam a nós e aos outros motiva-nos para a
luta por um mundo melhor.
Excelente abordagem, na minha opinião. Há uma desconexão entre as diversas leituras que fazemos do cotidiano. O espírita enquanto não perceber que vive no mundo espiritual (apesar da roupagem corporal) vai manter a crença do cumprimento de obrigação com a ida ao centro espírita. E no mundo? No mundo eu sou apenas um profissional ou consumidor ou um condutor de carros ou motos, um defensor de políticas quaisquer. Sem compromisso com o mundo. Compromisso foi a reunião mediúnica, o passe aplicado, a palestra. Essa falta de sentir-se Espírita em tempo integral é que complica a encarnação. Roberto Caldas
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