Vemos? Ouvimos? A resposta é muito relativa
diante dessas perguntas tão simples. Jesus fala a respeito dos que têm olhos e
ouvidos, mas não veem nem ouvem (Mateus 13:13). Aí o Mestre se volta à cegueira
da compreensão, resultado do pensamento embotado que se congela em suas
posições sectárias e se torna campo estéril ao florescimento de ideias
renovadoras. E essa é uma das formas peculiares que induzem à pobreza dos
debates em diversos setores da vida social. A discussão baseada na louvação e
sacralidade de um dos lados ou de ambos nem deveria ser chamada de discussão,
sim de doutrinação.
A
construção do diálogo é um produto de difícil aquisição e não há como ser
fácil, pois depende de deporem-se armas e manter-se aberto ao ato de ouvir para
conseguir ver o outro. Baseia-se na capacidade de possuir-se um projeto que
sabidamente é mais importante que qualquer posição de notabilidade pessoal, daí
a extrema dificuldade de ser alcançado. Pior é que fora do diálogo nada
prospera, mesmo que pareça acontecer. Na construção coletiva, por mais
complicado que possa ser, é desejável que se leve em conta a história da
humanidade, pois é fato notório que vivemos uma reedição de situações que em
alguma época já aconteceram. Ou será que não somos nós os protagonistas de
ontem que estamos retornados ao corpo para a solução dos problemas, quem sabe
até para torná-los malogradamente mais graves? Natural que, de novo, tenhamos
que debater as lacunas que foram ficando em nossa civilização. Certamente fomos
cegos e surdos o suficiente para precisarmos repisar os terrenos movediços que
geramos no passado. Apenas a lei da ação e reação.
Ver
e ouvir são verbos que exigem virtudes extras que infelizmente faltam à maioria
dos que estamos no planeta, às vezes somos discos arranhados que repetimos o
que nem vimos ou não ouvimos. A realidade é um espelho de duas faces, uma opaca
a outra refletora. A opaca se define por si mesma. A refletora mostra as mil
faces de quem se lhe disponha à frente. Qual delas é a escolha? O plural da
personalidade exige coerência entre as tantas noções que se avolumam na
formação do caráter. Crenças, práticas e vivências ao se desconectarem de
princípios em comum exibem uma colcha de retalhos que transformam a
individualidade num espetáculo pouco apreciado para ser visto.
As
duas condições remetem ao contato com o mundo. Como nos comprometemos com os
conteúdos que o mundo nos apresenta. Uma leitura interna do que se passa fora,
mas justamente responsável pela forma como cada um vive as próprias
experiências. Experiências essas que ilustram os aprendizados que firmamos
durante a encarnação.
Os
olhos e os ouvidos são os órgãos que alicerçam o ser espiritual ao mundo dos
encarnados. Certamente a ausência de um deles ou ambos não anula a vitória no
mundo, pois há muitos companheiros que nascem destituídos dessas faculdades e
conseguem superar tais limitações. Lamentável que falte a quase generalidade
das pessoas a maturidade para utilizar tais sentidos na qualidade de
merecedores de tais faculdades.
Jesus
certamente continuará conclamando para que vejam e ouçam aqueles que tenham
olhos e ouvidos.
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