O momento é próprio para repensarmos
conceitos. A desaceleração no ritmo dos últimos meses é avalista das mudanças
que pairam no ar e já se inserem na dinâmica do pensar os dias vindouros. Nesse
contexto, a explícita codependencia que se impôs aos hábitos da vida social
veio sedimentar a certeza histórica de que ninguém sequer sobrevive sozinho,
imagine-se então a ousadia da tentativa do viver sozinho. A habilidade de
dispor a discussão das diferenças individuais, fatores que podem levar ao
desencontro e em consequência às contendas, variam segundo a profundidade dos
pontos que existem em comum.
A
Matemática, em sua Teoria dos Conjuntos, vem em nosso socorro. Duas realidades diferentes
podem se tocar em determinados pontos de convergência, numa condição que a
Ciência dos números chama de Interseção e pode muito bem ser transplantada do
mundo dos dígitos para o mundo das idéias e da convivência. Como pessoas
diferentes obrigatoriamente criam territórios de espaço comum, embora tenham territórios
pessoais resguardados? Pela similaridade e afinidade dos projetos criando
nichos de relacionamento. A condição de completa sinceridade em torno da
convergência dos pontos em comum são os alicerces que permitem serem
respeitados os espaços individuais. A falta de transparência na partilha do
espaço é combustível capaz de incendiar, falseando os reais motivos do
descompasso.
A
convivência é uma vitalizadora relação entre pessoas que entendem motivos
mútuos para passarem desde minutos em companhia de outrem até alcançar décadas
de convívio, sob quaisquer motivações possíveis. Trata-se de uma interseção de
qualidades e objetivos fugazes ou duradouros em coexistência com outros valores
e hábitos não necessariamente compartilhados, de preferência conhecidos pelos
aliados. Assumida por personalidades bem intencionadas, a convivência haverá de
gerar prazer mútuo, enquanto o contrário haverá de fazer amargar decepções e
tristezas.
O
Livro dos Espíritos (q. 918) considera quais os caracteres que faz com que
alguém se torne uma Pessoa do Bem, o que necessariamente haverá de produzir
relacionamentos com base no respeito e na fraternidade que torna qualquer
empreendimento comum um projeto feliz enquanto dure e de saudosa memória quando
precise chegar ao seu final. A pessoa deve ser humano, benevolente e dotado do
sentimento de amor ao próximo. Precisa ceder do seu interesse em favor da
justiça. Vê irmãos em todos, sem exceção de raças ou de crenças. Se lhe coube
poder e riqueza vê-se como depositário desses bens, sem se envaidecer, sabendo
que o Poder que as deu pode retirá-las. Diante de subalternos utiliza a bondade
por vê-los como iguais perante Deus e usa a sua autoridade para lhes erguer a
moral, sem os esmagar com seu orgulho. É indulgente com as fraquezas dos
outros, livre do desejo de vingança. Enfim respeita os direitos alheios
decorrentes da lei natural, como desejaria ter os seus respeitados.
Nesse
período em que estamos frente a frente com as convivências que criamos, vale
consultar a matemática das interseções, mas principalmente questionar se
estamos sendo aquele com quem gostaríamos de conviver. Desenvolver os
caracteres da Pessoa do Bem não é para ser fácil, mas se pretende ser feliz nos
relacionamentos, precisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário