Na prática diária, tanto profissional quanto
doutrinária, é constante a questão dos fenômenos psicopatológicos ligados às
áreas do pensamento (delírios) e da senso-percepção (alucinações), assim como
dos fenômenos mediúnicos, (em especial, os chamados inteligentes, a psicofonia,
o desdobramento, a vidência e a audiência), exigindo melhores estudos e
reflexões para evitar as confusões que resultam incorretas indicações
terapêuticas.
Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, já
apresentava o posicionamento dos orientadores espirituais sobre essa confusão,
em que se misturam quadros patológicos e manifestações espíritas, no item sobre
“os possessos” – parte 2ª, cap IX, pergunta 474:
“Muitos epilépticos ou loucos, que mais
necessitavam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos”.
Com o desenvolvimento das neurociências e o
retorno da ocupação com o tema espiritualidade, muitos trabalhos surgiram,
questionando a realidade dos fenômenos mediúnicos e como eles ocorreriam na
fisiologia cerebral. Existem, hoje, vários estudiosos sérios que acreditam que
os temas que envolvem ciência e fé não se excluem e que é preciso voltar-se
para a compreensão de tudo isso, de forma a ampliar o que seja a Verdade. Dr.
Francis S Collins, na introdução de seu best-seller “A Linguagem de Deus”,
afirma que “este livro tem por objetivo disseminar esse conceito, argumentando
que a crença em Deus pode ser uma opção completamente racional e que os
princípios de fé são, na verdade, complementares aos da ciência” (págs 11-12 –
1ª ed 2007).
O objetivo deste trabalho é demonstrar a
existência desses fenômenos diante das evidências dos fatos, da necessidade de
diferenciá-los, de modo a oferecer o devido tratamento a um e a outro, tanto
dentro das possibilidades das ciências tradicionais, quanto da ciência
espírita.
Um dos mais importantes aspectos desta
discussão é a argumentação, existente desde antes do surgimento do Espiritismo,
de que as crenças religiosas e suas manifestações seriam causa do surgimento ou
do agravamento dos quadros de loucura; e que os rituais religiosos seriam
refúgio para aquelas atuações, que os fenômenos apresentados e relatados seriam
fruto da imaginação doentia dos seus autores e observadores.
Kardec, de maneira brilhante e racional,
argumenta contra essa acusação em “O Livro dos Médiuns”, em sua primeira parte,
no capítulo IV. Ali ele afirma:
“Todas as ideias sempre tiveram
fanáticos exagerados e é preciso se seja dotado de muito obtuso juízo, para
confundir a exageração de uma coisa com a coisa mesma”.
Mais à frente, o Codificador argumenta:
“É
fora de dúvida que uma causa fisiológica bem conhecida pode fazer que uma
pessoa julgue ver em movimento um objeto que não se moveu, ou que suponha estar
ela própria a mover-se, quando permanece imóvel. Mas quando, rodeando uma mesa,
muitas pessoas a veem arrastada por um movimento tão rápido que difícil se lhes
fora acompanhá-la, ou que mesmo deita algumas delas no chão, poder-se-á dizer
que todas se acham tomadas de vertigem, como o bêbado, que acredita estar vendo
a casa em que mora passar-lhe por diante dos olhos?”
Sobre
o Pensamento e a Vida Mental
Entender o que verdadeiramente é a mente e,
por consequência, a consciência faz-se hoje o maior desafio da ciência. Temos
entre os estudiosos dois grandes grupos. De um lado, estão os pesquisadores
materialistas mecanicistas que acreditam que, quando for determinado todo o
mapeamento cerebral e elucidados cada componente, função e interações, que esta
descrição será capaz de dizer tudo sobre a natureza e a experiência humanas. No
outro polo estão os que creem que esta visão reducionista jamais capacitará o
homem a entender integralmente os sentimentos, as motivações profundas dos
comportamentos e muito menos será capaz de explicar o produto mais fenomenal da
vida: a consciência, propriedade particular da criatura humana, por esta
compreensão transcender o nível da matéria.
Existem duas grandes correntes de pensamento
no que concerne ao que seja a consciência (e por consequência a mente). Para o
primeiro, a mente é o produto da atividade cerebral, uma propriedade do mundo
físico, que pode ser explorada e, com o desenvolvimento das pesquisas,
compreendida. O segundo acredita que a mente transcende a questão material.
Neste grupo se sobrepõem as ideias do dualismo cartesiano – corpo/espírito.
Na busca desta compreensão surgem inúmeras
dúvidas, as quais direcionam muitas pesquisas atuais. A jornalista Rita Carter
assim se refere sobre elas em seu livro: “O Livro de Ouro da Mente”:
“Ela [a mente] tem um propósito ou é
apenas um subproduto da complexidade neural? É um córrego único e contínuo ou
aquela sensação de continuidade e unidade é uma ilusão? Se fosse possível
remover o conteúdo informativo de um cérebro vivente e mantê-lo separado de seu
corpo – fazendo, talvez, um download dele para um disquete -, a consciência
iria com ele? E, em caso afirmativo, onde exatamente ela estaria? De quais
bytes de dados você poderia prescindir ao colocar vovô em off-line e ainda ter
a certeza de que ele é capaz de desfrutar sua existência virtual?”.
Podem-se resumir os resultados já encontrados
sobre o assunto, afirmando que as ideias são criadas nos lobos frontais. Nesta
região são construídos os planos, reunidos os pensamentos, ocorrem as associações,
formando novas memórias, e as percepções são armazenadas para posteriormente
ser enviadas para as áreas que constroem a memória de longo prazo ou para o
esquecimento. Para os que realizaram esses estudos, a região frontal do cérebro
é o lar da consciência, pois nela reside o autoconhecimento e as emoções são
processadas. Tais estudos vêm corroborar as ideias místicas tradicionais que já
pregavam tais ensinamentos, colocando o terceiro olho nessa região.
Amit Goswami, no livro “O Universo Autoconsciente”,
afirma:
“A consciência é o que o torna o ser
único que você é, diferente de sua amada e de qualquer outra pessoa, e que
reage de forma particular ao presente”.
Em sua teoria, o autor afirma que a
consciência se reveste de quatro aspectos diferentes: o campo da consciência,
que ele chama de percepção; os objetos da consciência, tais como o pensamento e
os sentimentos; o sujeito da consciência ou experimentador; e a consciência
como fundamento de todo o ser.
O Espiritismo entende que a consciência é um
dos atributos fundamentais do Espírito.
Na pergunta de nº 621, de “O Livro dos
Espíritos”, Kardec pergunta aos orientadores espirituais “Onde está escrita a
lei de Deus?”, ao que eles respondem: “Na consciência”. Entretanto, naquela
obra não há um maior esclarecimento sobre o que seja a consciência e de que
forma ela possa fornecer recursos para a compreensão do que seja a mente.
No livro “O Problema do Ser, do Destino e da
Dor” o célebre escritor Léon Denis assim se expressa:
“A consciência é, pois, como diria
William James, o centro da personalidade, centro permanente, indestrutível, que
persiste e se mantém através de todas as transformações do indivíduo. A
consciência é não somente a faculdade de perceber, mas também o sentimento que
temos de viver, agir, pensar, querer. É una e indivisível. A pluralidade de
seus estados nada prova, como vimos, contra a sua unidade. Aqueles estados são
sucessivos, como as percepções correlativas, e não simultâneos.
“Todavia, a consciência apresenta, em sua
unidade, como sabemos, vários planos, vários aspectos. Física, confunde-se com
o que a Ciência chama de ‘sensorium’, isto é, a faculdade de concentrar as
sensações externas, coordená-las, defini-las, perceber-lhes as causas e
determinar-lhes os efeitos. Pouco a pouco, pelo próprio fato da evolução, essas
sensações vão-se multiplicando e apurando, e a consciência intelectual acorda.
Daí em diante não terá limites seus desenvolvimentos, pois que poderá abraçar
todas as manifestações da vida infinita”.
A codificação espírita não traz
especificamente uma definição do que seja a mente.
O espírito Emmanuel, no livro “Pensamento e
Vida”, define a mente como “o campo da nossa consciência desperta, na faixa
evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar”.
Segundo o espírito André Luiz, em sua obra
“Evolução em dois mundos”, o corpo mental é o envoltório sutil da mente.
Haveria também uma estrutura fisiológica correlacionada com a sede da mente no
campo físico, correspondente ao chamado centro coronário, que estaria instalada
na região central do cérebro, que assimilaria os estímulos do Plano Superior e
orientaria “a forma, o movimento, a estabilidade, o metabolismo orgânico e a
vida consciencial da alma encarnada ou desencarnada”.
Através das informações de André Luiz, a área
que hoje é considerada responsável pela a atividade consciencial do espírito,
no campo cerebral, estaria afeta ao comando do centro cerebral. Ela estaria
contígua ao coronário, com influência decisiva sobre as demais. Ela governaria
“o córtex encefálico na sustentação dos sentidos, marcando a atividade das
glândulas endócrinas e administrando o sistema nervoso, em toda a sua
organização, coordenação, atividade e mecanismo”.
Tentando entender o mecanismo de integração cérebro-mente,
Dr. Décio Iandoli apresenta essas inteligentes percepções, no seu livro
“Fisiologia Transdimensional”:
“O centro coronário e o centro cerebral
(frontal) trabalham em sintonia e sincronia no gerenciamento e encaminhamento
das ‘ordens’ do princípio inteligente, cumprindo sua função de interface
físico-etérica no seu plano mais superior e sutil.
“Se recordarmos a ligação do centro coronário
à glândula pineal e do centro frontal à hipófise, facilmente entendemos essa
relação funcional e seus mecanismos, já que a primeira subjuga, a partir dos
centros hipotalâmicos, as respostas hipofisárias, que secretam seus diversos
hormônios com ação geral e específica sobre os vários compartimentos orgânicos,
como já explanado no capítulo da endocrinologia.
“Por este sistema, verte o ‘fluido mental’,
secreção da mente e não do cérebro, que se difunde pelos caminhos neurais a
todo o córtex (via glândula pineal) e, posteriormente, a todo o corpo
biológico, por ação glandular e neural eferente”.
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