sexta-feira, 15 de maio de 2020

COMO DIFERENCIAR DELÍRIOS DE ALUCINAÇÕES - FENÔMENOS MEDIÚNICOS - PARTE III




Uma abordagem neurológica dos fenômenos místicos e dos estados alterados da consciência.

O estudioso William Sargant chegou à conclusão de que as semelhanças entre os Estados Alterados de Consciência (EACs) transcendentes por ele observadas apontavam para um sistema cerebral comum, afetado por diferentes manipulações culturalmente específicas. A partir disso, os neurocientistas têm fornecido suporte a esse mecanismo, explicando que existe um circuito neural complexo encontrado nos níveis médios do cérebro dos mamíferos, conhecido como sistema límbico. Esse sistema tem uma variedade de funções emocionais, motivacionais e de memória, além de estar envolvido com as funções de atenção e do despertar. A estimulação elétrica de áreas límbicas em pacientes de neurocirurgia produz intensas alterações da consciência, incluindo aquelas presentes nos estados transcendentes ou místicos.


Alguns tipos de enxaqueca e ataques epiléticos que se originam nas estruturas límbicas do lobo temporal são também capazes de produzir estados dissociativos similares. A ideia de que experiências transcendentes são causadas pela hiperativação das funções normais desse circuito é reforçada pela pesquisa em neurofarmacologia, mostrando que drogas psicodélicas podem alterar a atividade no sistema límbico. E, finalmente, patologias associadas a profundos distúrbios emocionais e alucinações são também conhecidas por envolver anormalidades límbicas.

Após coligir pesquisas em drogas psicodélicas, neuropatologias e várias técnicas comportamentais usadas para alterar a consciência, o neuropsiquiatra Arnold Mandell (1880) comparou seus efeitos com os descritos na tradição mística. Ele mostrou como todas essas manipulações eram capazes de afetar a atividade neural no sistema límbico. Mandell implicou interações especiais entre o septo, hipocampo e amídala como decisivas para a ocorrência de experiências transcendentes. Este circuito pode ser afetado por vários estados patológicos, assim como por estimulação rítmica prolongada, privação sensorial e as três grandes classes de drogas alucinógenas (as que afetam os neurotransmissores serotonina, acetilcolina e as catecolaminas).

Essa abordagem não invalidaria a existência de tais experiências místicas. Ao contrário, Mandell afirma que elas podem acontecer por um mecanismo fisiológico ou fruto da ação de determinadas substâncias químicas. Para o Espiritismo o sistema nervoso em sua totalidade é a expressão mais evoluída do indivíduo e é através dele que o espírito atua controlando as ações do corpo físico. Portanto, toda a ação espiritual teria uma expressão física, como se vê a seguir.


Uma teoria sobre o mecanismo neurofisiológico da mediunidade

Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, afirma que a mediunidade seria uma faculdade orgânica, ou seja, dependeria de um organismo, sendo que este abarcaria a estrutura do ser encarnado, incluindo toda bagagem física, especializada para tal, e dos elementos perispirituais, que capacitam o homem a viver no intercâmbio entre o mundo material e o espiritual. Como já foi citado anteriormente, as estruturas pertencentes ao sistema nervoso são as mais especializadas, além de serem as mais sutis do corpo físico.

Importante ressaltar que, na realidade, os fenômenos mediúnicos se iniciam no corpo espiritual, ou mais precisamente em estruturas menos densas, onde se encontra a manifestação dos pensamentos.

Quanto a essa percepção, vejam-se as colocações de André Luiz, em “Evolução em Dois Mundos”, ao se referir ao surgimento dos rudimentos da mediunidade na Terra:

    “Considerando toda célula em ação por unidade viva, qual motor microscópio, em conexão com a usina mental, é claramente compreensível que todas as agregações celulares emitam radiações e que essas se articulem, através de sinergias funcionais, a se constituírem de recursos, os quais podemos nomear por tecidos de forças”.

Nessa tela eletromagnética circula o pensamento, colorindo-a com as vibrações e imagens de que se constitui, aí exibindo as solicitações e os quadros que improvisa, antes de irradiá-los no rumo dos objetos e das metas que demanda. Nessa conjugação de forças físico-químicas e mentais existem as auras humanas, peculiares a cada indivíduo, em que todos os estados da alma se estampam, com sinais característicos e em que todas as ideias se evidenciam, plasmando telas vivas. A aura é, portanto, a plataforma onipresente em toda comunicação com as rotas alheias e nas atividades de intercâmbio com a vida que rodeiam a criatura. Por essa couraça vibratória, espécie de carapaça fluídica, é que começaram todas as expressões da mediunidade no planeta.

Essa obra de permuta, no entanto, foi iniciada no mundo sem qualquer direção consciente. A intuição foi, por esse motivo, o sistema inicial de intercâmbio.

A tentativa de compreensão dos mecanismos em nível físico leva ao estudo do mecanismo das estruturas cerebrais que são as mais sutis e aprimoradas do ser. Assim, o cérebro e todas as estruturas do sistema nervoso estão intimamente vinculados ao fenômeno mediúnico.

O desenvolvimento da neurociência, apoiado nos mais modernos meios de estudos da atividade neuronal, como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética e a tomografia por emissão de pósitrons, tem caminhado para a compreensão da fisiologia cerebral.

Admite-se hoje que a atividade mental seria a resultante de uma ação harmônica de um grupo de estruturas cerebrais que, interagindo, formariam um sistema funcional complexo.

A doutrina espírita tem mostrado que, na realidade, os processos mentais seriam frutos da atividade espiritual com repercussão na estrutura física cerebral; sendo assim, o cérebro seria apenas o instrumento. No entanto, para ocorrer essa integração entre a essência espiritual, sua manifestação e a estrutura física, é necessária a existência de um elemento, que seja intermediário tanto na função e também em sua composição. Esse corpo é chamado espiritual ou perispírito.

    “Esse corpo espiritual é composto de uma substância vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós, assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira” (LE. perg. 93).

Por esse corpo semimaterial, presente também nos desencarnados, ocorreriam as comunicações mediúnicas. A partir das informações da neurologia e dos ensinos dos espíritos, busca-se maior compreensão do fenômeno mediúnico e da participação de estruturas e áreas cerebrais em sua expressão.

Todo o material apresentado aqui é fruto de síntese e compilação de estudos realizados por escritores dos dois planos da vida.

Do ponto de vista anatômico, o sistema nervoso é constituído pelos sistemas nervoso central e periférico. O periférico é constituído por nervos e gânglios. Os nervos são cordões esbranquiçados que ligam o sistema nervoso central (SNC) aos órgãos periféricos. Quando a sua origem se dá ao nível do encéfalo, ele é chamado de nervo craniano. Se sua origem ocorre ao nível da medula espinhal, ele é chamado de nervo espinhal. Em alguns nervos podem existir certas dilatações constituídas principalmente de corpos celulares de neurônios, que são os gânglios.

Os nervos funcionam como estações emissoras e receptoras, manipulando a energia mental, projetada ou recolhida pela mente, em ação constante nos domínios da sensação e da ideia, atuando nos demais centros do corpo espiritual e nas zonas fisiológicas que se configuram no veículo somático.

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