”
Nascemos no mundo como náufragos desmemoriados que fossem lançados a uma praia
desconhecida, impotentes e nus. Só trazemos conosco a facticidade, a forma e a
maneira porque fomos feitos. Nada sabemos de nada. Estamos segundo Kardec,
vestidos apenas com a roupagem da inocência, mas não somos inocentes.”
(Herculano Pires)
A cada passo que conseguimos firmar na seara
do amadurecimento enquanto espíritos encarnados na Terra, mais responsáveis nos
tornamos pela apreensão das leis do amor.
Ontem foi o excesso de medo, a manutenção do
instituído, o zelo pela segurança personalista que nos fez ser aceitos e
inseridos em grupos sociais, mais a resposta medicamentosa às dores trazidas
pela força natural da mediunidade pouco compreendida; ontem foi um tempo de
necessidades intensas, justificadas em si mesmas.
Hoje chegou trazendo partes de ontem,
vislumbres do amanhã, em campos abertos e diversos na aerodinâmica existência
mental, com apetrechos culturais e religiosidades agudizadas pelas complexas
fomes que assolam as identidades.
Este hoje não sai de nós, mas podemos
enquanto seres pensantes exercitar a libertação desde agora. Já podemos ouvir
as vozes alheias, aquelas aleatórias, e os gritos de uma consciência coletiva
que clama cuidados. Hoje o outro se revelou para além das nossas feridas, que
são tantas vezes heranças da não-visão dos seres externos aos quais ferimos sem
perceber a gravidade do que fazíamos.
A sede do amanhã seca nossas gargantas.
Sabemos que precisamos movimentar as rodas pesadas das transformações, e
hesitamos ir além do grito. Mas é instintivo este impulso que tentamos domar em
dogmas. A subjetividade sabe a rota, mas o intelecto continua parvo e não
autoriza o levante dos sentimentos.
Há risco de estacionamento nesta curva entre
nós e os outros. Há risco de projetarmos violência como solução, mas já tivemos
a suprema revelação sobre como transformar amando.
Espíritas podem ser transformadores sociais,
históricos, políticos, contudo, justamente por sermos espíritas e sabermos
sobre os processos evolutivos e suas complexas configurações, não deveremos nos
permitir o atropelo da pressa, mesmo que as justificativas desta hora sejam
legítimas.
Espíritos autônomos e perseverantes na
lucidez sabem que a mensagem de Jesus perpassou renúncias e esperas, entre
posicionamentos altivos e recolhimentos revigorantes. Os que foram abençoados
por seu convívio muitas vezes demonstraram insatisfações com seu incompreendido
equilíbrio, mas o Mestre sabia o preço que lhe seria cobrado por muito amar, e
conhecia a força do amor mais do que todos os outros que lhes cercavam.
Sabemos que a justiça social é necessidade de
primeira hora. Lutamos para conquistar patamares civilizatórios que nos
permitam proclamar transformações sociais e qualidade de vida, porque
acreditamos merecer um pouco mais de felicidade neste mundo, ainda que seja
exígua como o tempo terrestre, pois por mais que este seja estendido será
sempre um átimo diante da eternidade. Contudo uma coisa não invalida a outra.
Para que a pulsão de vida em abundância
permaneça conosco haveremos de cuidar dos nossos sentimentos! Sejam eles fiéis
à fonte mais amorosa que nos dessedentou, e até nosso silêncio consiga falar
daquele a quem seguimos a força do exemplo: Jesus de Nazaré.
Aquisições cognitivas, tratados filosóficos e
militância política, sejam elementos de acréscimo ao amor sentido, convertido
em atos.
A luta social seja também afetiva,
humanitária e terna. Espíritos espíritas em marcha com a história e o tempo da
humanidade, sejamos guiados pela pura exemplificação de quem saiu da vida para
a vida, e segue conosco movimentando profetas pelas vias da ciência, cultura e
renovação incessante do pensamento.
Mesmo que os tempos desafiem a mais arraigada
crença, o conhecimento é aliado de quem luta nas fileiras do amor.
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