Já vivi sob a influência de modismos
acadêmicos e políticos, e isto foi necessário para minha evolução, pois aprendi
a identificá-los em sua ação de empáfia.
Costumam ser apresentados como elementos de
“intelectualização” e “modernidade” ampliando de modo rápido um teor discurso
vazado de intencionalidades imediatistas.
A partir dos jargões produzidos em dois
segundos se faz um ativista de direitos humanos!
Em um piscar de olhos nasce um militante
social identitário!
Em uma frase se acredita desacreditar
histórias voltadas à lutas intensas, cotidianas, mensuradas pelas
possibilidades e brechas abertas com as mãos.
Sim, é preciso duvidar da avidez! Ponderar é
gesto de cuidado que não cai em desuso.
Empreendedores de todas as causas aprenderam
a utilizar a produção de ondas discursivas sobre as quais surfam inúmeros
interesses.
Nosso objetivo não é perseguir as liberdades,
mas fazer refletir sobre o uso delas.
Como posso crer na verve libertária de quem
aprendeu a crucificar os insubmissos em frases feitas para expor aos de leitura
rasa, colando tarjas sobre os nomes alheios?
Ser libertário é um processo completo e
complexo, que extravasa um único campo de interesses.
Assim sendo, no Espiritismo assim como em
outros espaços de exercício do pensamento precisamos atentar para a infiltração
de discursos modistas, que afetam construções sérias e revolvem em um lapso a
dignidade do outro.
Não aceitemos conviver em voz obediente pelo
temor da cilada, é preciso conquistar o campo da expressão oral como altar
aberto ao arbítrio, com a criticidade vigilante para que os rompantes de
opressão não sejam naturalizados.
Entre nós espíritas a liberdade de fala não
pode ser cerceada por ideologia alguma, embora o espaço para o questionamento
precise ser mantido como ponto crucial e operante no percurso rumo ao
crescimento integral.
Atentemos para os riscos da violência
apresentada como solução.
Acima de tudo lembrar que Jesus é referência
dos que se declaram cristãos. Em sua figura espelhemos nossas batalhas
individuais e coletivas. Para que nenhum de nós passe a se acreditar mais
importante do que os outros. Para que não usemos suas pegadas para crucificar
irmãos.
Ser revolucionário em tempos de ódio ainda
continua sendo algo ligado a nossa capacidade de amar. Esta por certo não se
traduz em servidão ou obediência, mas em auto-respespeito ampliado até
chegarmos ao respeito total ao outro, o externo, o livre dos nossos arbítrios
pessoais.
Analisamos palavras – e isto tem um sentido
positivo. Não injetamos palavras – e esta ação é política e humanitária. O dito
é importante para compreensão ou questionamento. Mas nada nos autoriza a
interpretar o não-dito para promover agitação, perseguição e erro.
Ainda estamos na página inicial das
descobertas sobre este diverso, tosco, encantador e adorável mundo das formas.
Tenhamos a paciência de não ferir os processos. Tomemos o gosto pela justiça e
amanhã poderemos experimentar iguarias nunca conhecidas, quando o reino de amor
for algo encontrado em nosso próprio olhar.
Sigamos em paz, ainda que tudo pareça luta.
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