segunda-feira, 8 de junho de 2020

GRATIDÃO INFINITA


          
         Ao contemplar a vastidão da criação poucos não se ajoelharão em agradecimento pela magnitude dos elementos que nos cercam. O Sol que fertiliza o solo; o solo que recebe o grão; o grão que produz o alimento; o alimento que sacia a fome. Um movimento que se inicia no regaço da via láctea e termina na manutenção da vida no planeta. Raramente paramos para valorizar os elementos aparentemente invisíveis que se encontram na base dos processos que viabilizam a nossa existência. 

O mundo se move sem automatismos casuais, orquestrado por uma rede contínua de consentimentos silenciosos que comprovam a tese de que ninguém se encontra isolado nesse sistema nervoso complexo formado pelo Universo e as suas aplicações nas vivências pessoais. Se observados os detalhes que permitem alguém existir fica evidente o quanto o indivíduo depende da pluralidade de interferências para levar a cabo as suas pretensões. O terreno, o alicerce, os tijolos, a argamassa, as paredes, o teto, a decoração, o plano arquitetônico, a engenharia são a teia de uma construção, cada item tão importante quanto o outro, aplicado em seu devido momento, mas tornados inúteis se faltar quem habite esse espaço. Tudo no Universo conspira dentro do esforço combinado e complementar.
Bastaria que a humanidade parasse com o exercício diário do “cabo de guerra” para que percebêssemos a importância do outro na qualificação de uma condição mais adequada de equilíbrio social. Cometemos infração perigosa quando repudiamos a importância das experiências acumuladas do conjunto da sociedade. Nascemos dependentes do calor e do seio da mãe e crescemos precisando da segurança paterna, da lição dos professores, do padeiro da esquina, do motorista de ônibus, do guarda de trânsito, até mesmo dos torcedores do time adversário. Não adianta desejar diferente, pois fora dessa realidade nada existe, somos completamente inviáveis. Nesse contexto, os que nos são opositores alimentam a capacidade de pensar, sem os quais só as trevas da inteligência.
Disso provém a inusitada obrigação de agradecer. Pode-se perguntar, mas “agradecer o quê”? Tudo. Do amanhecer do dia ao por do sol – a existência; dos amigos e suas bênçãos – as alegrias; das conquistas de cada dia – as vitórias; das decepções e das tristezas – as lições; dos medos e das dificuldades – a fortaleza. Agradecer, enfim, por termos a chance de experimentar cenários diferentes que proporcionam o exercício de aprender a respeito de nossas capacidades pessoais e o quanto podemos viver em paz enquanto se descobre a melhor forma de tornar o mundo mais respirável.
Parece que a mais bem sucedida forma de agradecer, descrita por alguns gênios morais da humanidade, entre eles Jesus, é propor alternativa de caminhos. Fazer valer a luz do Sol, identificar-se como solo viável de fertilização, ser semente que se propõe transmudar em grão para produzir alimento à paz do mundo. Ter gratidão não se limita a agradecer ao que é agradável apenas. É a forma mais própria de dizermos ao Universo que aceitamos participar da labuta de cada dia, abertos para cooperar ativamente pela construção de um mundo melhor a todo custo, acima das próprias fraquezas, por acreditar na superação de todas as dificuldades decorrentes da ação necessária. Por ora o Universo agradece a Paz que construirmos.  

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