Ao contemplar a vastidão da criação poucos
não se ajoelharão em agradecimento pela magnitude dos elementos que nos cercam.
O Sol que fertiliza o solo; o solo que recebe o grão; o grão que produz o
alimento; o alimento que sacia a fome. Um movimento que se inicia no regaço da via
láctea e termina na manutenção da vida no planeta. Raramente paramos para
valorizar os elementos aparentemente invisíveis que se encontram na base dos
processos que viabilizam a nossa existência.
O mundo se move sem
automatismos casuais, orquestrado por uma rede contínua de consentimentos silenciosos
que comprovam a tese de que ninguém se encontra isolado nesse sistema nervoso
complexo formado pelo Universo e as suas aplicações nas vivências pessoais. Se
observados os detalhes que permitem alguém existir fica evidente o quanto o
indivíduo depende da pluralidade de interferências para levar a cabo as suas
pretensões. O terreno, o alicerce, os tijolos, a argamassa, as paredes, o teto,
a decoração, o plano arquitetônico, a engenharia são a teia de uma construção,
cada item tão importante quanto o outro, aplicado em seu devido momento, mas
tornados inúteis se faltar quem habite esse espaço. Tudo no Universo conspira
dentro do esforço combinado e complementar.
Bastaria que a humanidade parasse
com o exercício diário do “cabo de guerra” para que percebêssemos a importância
do outro na qualificação de uma condição mais adequada de equilíbrio social.
Cometemos infração perigosa quando repudiamos a importância das experiências
acumuladas do conjunto da sociedade. Nascemos dependentes do calor e do seio da
mãe e crescemos precisando da segurança paterna, da lição dos professores, do
padeiro da esquina, do motorista de ônibus, do guarda de trânsito, até mesmo
dos torcedores do time adversário. Não adianta desejar diferente, pois fora
dessa realidade nada existe, somos completamente inviáveis. Nesse contexto, os
que nos são opositores alimentam a capacidade de pensar, sem os quais só as
trevas da inteligência.
Disso provém a inusitada
obrigação de agradecer. Pode-se perguntar, mas “agradecer o quê”? Tudo. Do
amanhecer do dia ao por do sol – a existência; dos amigos e suas bênçãos – as
alegrias; das conquistas de cada dia – as vitórias; das decepções e das
tristezas – as lições; dos medos e das dificuldades – a fortaleza. Agradecer,
enfim, por termos a chance de experimentar cenários diferentes que proporcionam
o exercício de aprender a respeito de nossas capacidades pessoais e o quanto
podemos viver em paz enquanto se descobre a melhor forma de tornar o mundo mais
respirável.
Parece que a mais bem
sucedida forma de agradecer, descrita por alguns gênios morais da humanidade,
entre eles Jesus, é propor alternativa de caminhos. Fazer valer a luz do Sol,
identificar-se como solo viável de fertilização, ser semente que se propõe
transmudar em grão para produzir alimento à paz do mundo. Ter gratidão não se
limita a agradecer ao que é agradável apenas. É a forma mais própria de
dizermos ao Universo que aceitamos participar da labuta de cada dia, abertos
para cooperar ativamente pela construção de um mundo melhor a todo custo, acima
das próprias fraquezas, por acreditar na superação de todas as dificuldades
decorrentes da ação necessária. Por ora o Universo agradece a Paz que construirmos.
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