Longe de
ser exceção, quando experimentamos situações que tragam aflição e sofrimento, é
comum voltarmos os olhos para o futuro com pressentimentos e temores que acabam
roubando a energia necessária à solução da dificuldade que se apresenta.
Geralmente uma crise que se abate sobre uma pessoa ou grupamento de pessoas tem
uma presumida origem em problemas, que foram se avolumando até que atingem uma
pressão de estrangulamento que a faz eclodir. Uma crise só se instala quando,
por inúmeras razões, os motivos que a produz foram, de certa forma postergados,
ou passaram despercebidos, e por isso relegados ao futuro. Tais problemas se acompanhados
dia a dia provavelmente se mostrariam simples o suficiente para que as soluções
fossem encontradas evitando-se maiores dificuldades.
No versículo 34 de Mateus
(cap. VI) Jesus conclui a sua poética alusão aos lírios do campo e aos pássaros
do céu com a seguinte sentença: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã,
porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal”.
Certamente não haverá empecilhos para a fácil compreensão do senso de tais
palavras. Basta um menor esforço para entender que o cuidado com o agora é o
preço que nos é cobrado na presente realidade. O Mestre, no entanto, não
negligencia a necessidade de um plano de maior prazo, visto que produzir o plano
faz parte da tarefa do hoje. A sua sentença chama a atenção para a perda da
esperança e o sofrimento que cada um possa se impor em decorrência dos
obstáculos.
Assombrados com a dor, seja
pessoal ou coletiva, a visão imperfeita que temos da existência é uma mola
propulsora dos reflexos ansiosos que desenvolvemos séculos afora e somos
tomados pelo medo da escassez, da injustiça e da morte. O inconsciente mergulha
nos mares escuros do passado impelindo-nos a antever sofrimentos que ficaram
instalados na memória espiritual de longo prazo. Fenômeno esse que é agravado
pelas influências de antigos convivas e sofre as repercussões derivadas das
informações culturais da presente jornada. Dessa forma tememos o desenrolar dos
fatos com assombro de voltar a passar as agruras já vivenciadas e que parecem
querer retornar ao cenário das experiências.
Compreender o papel
individual e coletivo de cada um, somado à perspectiva da eternidade que as
filosofias espiritualistas, mormente a Doutrina Espírita nos oferta, mostrando
os obstáculos na condição de lição necessária e justa, como profunda reflexão
para explicar a aflição de hoje como oportunidade de libertação da alma. A
relação do que nos acontece hoje é cicatriz de ontem, que precisa ser
corrigida, daí a ansiedade nos joga para o tempo errado, que é o amanhã, o qual
jamais será o que desejamos se não conseguirmos desempenhar hoje da melhor
forma.
Diante de tantos desafios
que nos fazem tremer nas entranhas, cuja intensidade só sabe quem os enfrenta,
a entrega às palavras de Jesus se faz impositivo de bênção e paz. Aprender a
dor de hoje é o melhor caminho. A fé, a força e a coragem são instrumentos que
permitem ao divino amigo nos abraçar no silêncio dos nossos medos, reconhecidos
pela Sua generosidade, a fim de nos fazer vitoriosos hoje, nessa luta que nos
espera a cada amanhecer.
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