Antes de pegar a rota de qualquer caminho
discursivo declaro amor e adesão ao Espiritismo sob as descobertas, revelações
e orientações de Allan Kardec, o mestre lionês que conquistou espaço científico
e filosófico com abertura à religiosidade materializando com estudo, pesquisa e
muita doação de si mesmo, a Doutrina dos Espíritos.
Partindo então de uma identidade kardecista,
saudamos leitores que demonstram interesse pelo tema discorrido, acreditando
que no final de todas as questões, haverá algum tipo de conquista, em acordo
com a capacidade, necessidade e aptidão que tenhamos conquistado na arte do
viver.
Acreditando e aceitando a dinâmica evolutiva
que entrecorta histórias humanas, confesso estar percebendo necessidades até
então estranhas ao timbre militante que assumimos no território das relações
sociais, históricas e políticas desde as eleições de 2018.
Muitos de nós empenhamos com afinco sobejas
energias no combate justificado à necropolítica de Jair Bolsonaro, e com isso
nos afastamos das casas onde desenvolvíamos trabalhos (por decepção, confrontos
ideológicos e similares), alguns deixamos de lado práticas simples mas
basilares, como a realização do culto do Evangelho no lar, participação em
reuniões mediúnicas, ações de caridade material e até estudos; passamos a
debater mais amplamente políticas sociais, culturais e até partidária, haja
vista estivéssemos a ecoar o caráter progressista do Espiritismo, que estava há
muito sendo silenciado pelo tradicionalismo hegemônico e igrejeiro da Federação
Espírita Brasileira e seus ícones medianeiros.
Houve necessidade de fortalecer o eco da
libertação!
O Brasil pôde vislumbrar outras falas,
escritas, compreensões e interpretações fiéis a Kardec, sem necessariamente
manter cabresto “de direita” ou nas “tradições” da “pessoa de bem” – ser
elitizado, de classe média ou rica, que monopoliza o ideário espírita como
“escolhido”.
Contudo, há algum tempo (estamos em 2020)
começo a sentir que alguns posicionamentos se distanciam da matriz espírita
kardecista, e abrem largo espaço para confusas projeções. Se nos tornamos
críticos da “fascinante” indução de médiuns famosos com vistas ao
fortalecimento de suas próprias convicções, arrebanhando os vulneráveis com
discurso manipulador, urge que também nós analisemos os caminhos pelos quais
estamos enquanto grupos conduzindo os que se empolgaram com os discursos à
esquerda.
Ou seja, Espiritismo não é uma massa amorfa
que cada grupo ajusta aos próprios anseios e buscas. Existe uma ética que não
pode ser arrancada pela força de nenhum discurso, seja à direita ou à esquerda
do espectro político. É arriscado demais referendar como “progressista” apenas
os que coadunam com nossos pensamentos. Kardec nos facilitou esta prova
deixando legado importante, que não exaure estudos, nem diálogos.
Sei que é muito mais fácil escrever
criticando Divaldo Franco e os médiuns eleitos pela FEB como referências de
espíritas de bem. Mas a honestidade da escrita que temos sustentado se mantém
em coerência com o fortalecimento de um debate livre, respeitoso e maduro.
Assim sendo, esperamos que o meio espírita
brasileiro siga no rumo do progresso das mentalidades com vistas a um tempo de
paz, mesmo em meio a tantas guerras. Que a diversidade de bandeiras erguidas
seja um fenômeno de convívio civilizado, cordial e solidário.
Cada espírita avalie as consequências das
investidas, analise o tempo da semeadura para não sofrer na pressa da colheita
e não rejeite o fruto da experiência como resposta valiosa da vida.
De mãos ternamente ajuntadas pela tecnologia
que nos proporciona convívio, nos apoiemos para que um momento mais humanitário
rasgue no caos o vislumbre de um amanhã fincado na madureza do pensar antes de
agir impetuosamente, embora nossa humanidade justifique os ímpetos e até mesmo
as paixões.
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