quarta-feira, 28 de outubro de 2020

SALVO-CONDUTO

 


Quando escrevia o livro Quem Tem Medo da Morte?, estive no crematório, em Vila Alpina, São Paulo, a fim de colher informações sobre a incineração de cadáveres. Pretendia, como o fiz, escrever um capítulo sobre o assunto.

O administrador, gentilmente, mostrou-me como funciona o serviço, ressaltando que dentro do forno a temperatura é de aproximadamente três mil graus centígrados.

Podemos imaginar o que seja isso, lembrando que a água ferve a cem graus. Segundo ele, é uma temperatura tão elevada que tudo ali entra em combustão, caixão, metais, enfeites, roupas, pregos, sapatos…Até o cadáver!

E, algo espantoso: quanto mais gordo o defunto, maiores as chamas, porquanto a gordura é um comburente.

Então, amigo leitor, se pensa em ser cremado, faça um regime para… morrer!

Caso contrário, vai ser aquele fogaréu!

 

***

 

Perguntará você:

– E o Espírito? Se ligado ao corpo, no momento da cremação, o que acontecerá?

Certamente “morrerá” de susto. Imaginará estar confinado no inferno.

– Meu Deus, vim parar na caldeira do Pedro Botelho!

Brincadeirinha, amigo leitor. Qualquer cristão sabe que Céu e Inferno não são locais geográficos, mas estados de consciência.

Jesus dizia (Lucas, 17:21): …o Reino de Deus está dentro de vós!

O inferno também. Depende de como vivemos, de como sentimos…

Se ainda jungido aos despojos carnais, poderá o Espírito, em princípio, sentir-se devorado pelo fogo.

Impressão desagradável, sem dúvida, mas meramente ilusória.

As chamas do plano físico não afetam a dimensão espiritual nem os que nela se encontram.

Desintegrados os despojos carnais, o Espírito estará liberado.

Aí reside o problema, porquanto poderá enfrentar dificuldades de adaptação, em virtude do desligamento extemporâneo.

 

Por isso, Emmanuel, o mentor espiritual de Chico Xavier, recomenda que esperemos três dias, se pretendemos os serviços do crematório.

Até lá, salvo exceções, estaremos liberados.

Em Vila Alpina espera-se pelo tempo que a família desejar, sem problema.

Quando lá estive, um cadáver cumpria o prazo de sete dias, solicitado pelo próprio finado. Outro, estrangeiro, estava em autêntica quarentena, há quase um mês, esperando que fossem localizados seus familiares, em outro país.

A família paga uma diária, como num hotel. Hotel de defuntos. Preço módico. Não há refeições…

 

***

 

No futuro, numa humanidade mais espiritualizada, a cremação será prática rotineira.

Eliminaremos o culto aos cadáveres, que se exprime na visita aos cemitérios. Aprenderemos a cultuar a memória do morto querido na intimidade do coração, substituindo vasos e flores, velas e incenso, pela dádiva de roupas e alimentos aos carentes, em seu nome.

E hão de ficar muito felizes os que partiram, por sentir que a separação sensibilizou nossas almas para a solidariedade, esse salvo-conduto maravilhoso que um dia nos ajudará a transpor com segurança as fronteiras do mundo físico para encontrá-los no continente espiritual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário