sábado, 12 de dezembro de 2020

DELIQUÊNCIA INFANTO-JUVENIL, UMA BREVE PONDERAÇÃO ESPÍRITA

 


É muito gratificante recebermos notícias sobre jovens infratores que aproveitam as oportunidades que as instituições de ressocialização lhes oferecem, ingressando, alguns poucos, na universidade, com direito inclusive a bolsas de estudos integrais. Nesse aspecto, sabemos que cada ser recebe da vida segundo seus esforços e méritos.

Inobstante as grandes diligências para a ressocialização dos jovens delinquentes, é de se lamentar que excepcionalmente os apreendidos (menores) no Brasil conseguem lograr êxitos na sociedade. O assunto é instigante e implica bastante sensibilidade, por tanger as questões que abrangem crianças e adolescentes incursos na prática criminosa, tão combatida, mas que ultimamente só avigora as trágicas estatísticas do crime.

Há teóricos que defendem não haver adolescentes infratores em decorrência da pobreza, do abandono ou da falta de oportunidade de estudo ou trabalho, mas como reflexos de exposições seguidas a circunstâncias de deficiência moral e que se confiam ao crime por vontade própria. Em sentido contrário a esse argumento, surgem as vozes dos que propagam o argumento de que o adolescente marginalizado é, em grande monta, vítima de desigualdade social, pois que não tem renda suficiente para usufruir de bens e serviços básicos, como saúde, educação, habitação e lazer. Isso é razão suficiente pelo que o jovem se torna revoltado ou ansioso por experimentar o que da vida lhe é suprimido. Para tal adolescente, o melhor recurso é o processo de ressocialização; não com vistas à repreensão judicial, mas à reinserção desse jovem infrator na sociedade que ele mesmo rejeitou.

Para os especialistas, não há um juízo pacífico no princípio sobre as admissíveis causas da delinquência infanto-juvenil. O que existe são conjecturas, sobretudo de caráter social, acerca desses desvios de comportamento que culminam com a condenação da sociedade. Não ignoramos que a família (com as devidas ressalvas) deve ser colocada como importante matriz da defecção moral dos filhos. André Luiz nos adverte que “os pais respondem espiritualmente como cicerones dos que ressurgem no educandário da carne.”. (1) Há, sem sombra de dúvida, pais ou responsáveis que são avaliados como geradores da condição irregular de seus filhos ou tutelados, seja ela concebida como carência de meios indispensáveis à subsistência, abandono material ou até mesmo a prática de infração penal.

Compete observar que a violência entre os menores tem aumentado e nem sempre tem conotação econômica, arredando substancialmente a tese das condições subumanas a que são jugulados os jovens, principalmente nas grandes cidades, e que os desviariam para o crime. Ressalte-se que o número de adolescentes infratores egressos da classe A (alta) e B (média) tem aumentado, no mundo inteiro. As causas da marginalidade entre os adolescentes são, pois, muito extensas, não se reduzindo exclusivamente à ociosidade, pobreza, fome ou descaso social. Acerca-se também pela esguelha das malfazejas companhias, constituição de gangues, aglomerações de pessoas insensatas, etilismo, drogas, meretrício, insolência religiosa ou ética e anseio orientado para o crime, configurando-se como causas importantes.

André Luiz assevera que “a criança sofre de maneira profunda a influência do meio. Por isso é urgente passar-lhe a noção de responsabilidade nos deveres mínimos como o ponto de partida para o cumprimento das grandes obrigações sociais. Não permitir que as crianças participem de reuniões ou festas que lhes conspurquem os sentimentos e, em nenhuma oportunidade, oferecer-lhes presentes suscetíveis de incentivar-lhes qualquer atitude agressiva ou belicosa, tanto em brinquedos quanto em publicações.”. (2)

Concebemos que o sedutor universo fashion, a TV e a internet, ao colonizarem as residências (edificação material da casa) e lares (aspirações da família), exacerbaram nas crianças o despertar prematuro para uma realidade desnuda e inumana, o que equivale a afiançar que elas foram arrebatadas do seu mundo de alegoria e dirigidas para a inversão dos valores morais, espicaçadas também pela arrogância dos pais. Assim sendo, a estação de inocência e tranquilidade ­­­infantil foi diminuindo.

Cada vez mais cedo, e com maior magnitude, as excitações da adolescência germinam adicionadas pelos diversos e desencontrados apelos das revistas libertinas, da mídia eletrônica, das drogas, do consumismo impulsivo, do mau gosto comportamental, da banalidade exibida e outras tantas extravagâncias, como espelhos claros de pais que vivem alucinados, estancados e desatualizados, enjaulados em seus que fazeres diários e que jamais podem demorar-se à frente da educação dos próprios filhos.

Sejamos atentos à verdade de que educar não se abrevia apenas a fornecimentos de abrigo e alimento do corpo extinguível. A educação, por significado, funda-se na base da constituição de uma sociedade profícua. A tarefa que nos cumpre alcançar é a da educação das crianças e jovens pelo padrão de total dignificação moral sob as bênçãos de Deus. Nesse sentido, os postulados Espíritas são antídotos contra todas as deletérias armadilhas humanas, posto que aqueles que os distinguem têm consciência de que não poderão se eximir dos seus encargos sociais, sabendo que o amanhã é uma implicação do presente. Assim, é imperativo identificarmos no coração infanto-juvenil o arcabouço da futura geração saudável.

 

Referências:

(1) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo espírito André Luiz, cap 21, RJ: Ed FEB, 1978

(2) idem

Um comentário:

  1. Como lidei com classes periféricas, sendo muitos desses jovens usuários e traficantes de drogas, posso dizer que o problema é estrutural: nossa sociedade não oferece alternativas nem atrativos para uma vida condizente com a educação burguesa, que a maioria de nós recebeu.

    Quando conhecemos a realidade desses jovens, vemos que as únicas soluções que as famílias - quando existem - enxergam é aderir a toda forma de subemprego para sobreviver.

    Para quem está de fora, é doloroso reconhecer essa realidade, mas não há salvação no sistema capitalista. É preciso refundar o sistema; sem isso, continuaremos enxugando gelo.

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