Quem sabe responder quantos conflitos armados estão em andamento no mundo, desde guerras civis até conflitos entre países? Quantas pessoas foram retiradas de suas casas devido a esses conflitos, os chamados refugiados?
Quantos lares foram abandonados devido à violência social e doméstica, quantas pessoas estão abrigadas, de favor, na casa de parentes ou vagando pelas ruas?
Quantos miseráveis, que vivem abaixo da linha da pobreza, são cooptados pelas organizações criminosas, desde aqueles levados à prostituição àqueles levados a se tornarem soldados do crime, desumanizados, já que o medo é o que mantém o poder nesse meio?
Quantos estão escravizados pelo mundo afora, privados de direitos e subtraídos de sua dignidade, vivendo em condições duras e tratados como animais?
Quantos vivem sem saber o porquê vivem e caem em depressão por sentirem medo da dureza do mundo e quantos outros se seduzem pelas promessas de uma vida fácil e de extremos para não pensar no dia de amanhã?
Quantos se encontram em meio a pobreza e sabem que de lá não sairão por não terem acesso a saúde, educação e, muitas vezes, nem a um endereço? Esses que sabem que o subemprego e a sobrevivência básica e sofrida é o legado que receberam de seus pais e o que deixarão para seus filhos.
A resposta a qualquer uma das perguntas acima é dezenas de milhões, podendo chegar a bilhão em uma ou outra.
Nada disso pode ser considerado natural!
Sem entrar em discussões filosóficas e político-econômicas, mantendo-se somente no Livro dos Espíritos, que não deixa de ser um bom guia filosófico e sócio-político-econômico, no capítulo IX – Leis da Igualdade, fica claro que não é possível viver sob a égide dessas injustiças, não há narrativa que sustente que alguns possam viver bem, outros remediados e outros tantos na miséria.
Quanto mais miserável, mais vulnerável é a pessoa às mazelas da vida contemporânea. O Brasil, por exemplo, é carente de garantias de cidadania. Em 2015 segundo o Banco Mundial, contava com cerca de 46 milhões de pessoas (22,1% da população total) vivendo abaixo da linha da pobreza.
Fato é que 46 milhões de pessoas é muita gente, porém, os brasileiros bem de vida e os remediados conseguem deixar essa gente toda invisível. O foco da atual discussão sócio econômica no país se centra na produção e nos agentes do desenvolvimento econômico (portanto da vontade daqueles que detêm o poder econômico). Eles têm como verdade que o apoio à produção e aos empresários, que querem crescer e criar empregos, é que trará riqueza a todos (desde que atendam às regras deles). Uma narrativa que nunca foi eficaz e perene em nenhum lugar do mundo, principalmente em países jovens, como o Brasil, e com setor industrial pequeno e de baixo valor agregado.
O Brasil é um país injusto, desigual e está longe de se apresentar como um vanguardista na luta a favor da igualdade. Operamos mais na área da contemporização dos efeitos da desigualdade, com muito empenho na área assistencial, ainda que essa compensação deva ser feita de alguma forma. Ficar só nisso é como se precisássemos dos miseráveis para sermos melhores. Como se nossa evolução dependesse da ação assistencial que a miséria deles nos proporciona. Infelizmente muitos espíritas acreditam nisso.
Em tempos de final de ano, de inspiração de tempos melhores, da presença viva na lembrança da figura e do exemplo de Jesus, de sua rebeldia, é importante que reflitamos para além de nós e pensemos na e para a sociedade em geral naquilo que temos que mudar em nossas vidas e nas instituições, nas escolas, na via pública e assim por diante. A Terra não é um campo imutável de provas e expiações. Se a sociedade avança e, por exemplo, passa a considerar a escravidão uma condição desumana, extinguindo essa prática, a expiação que a experiência da escravidão proporcionava vai buscar outras formas para se manifestar ou mudamos o padrão da expiação para a reparação. Portanto a expiação não depende da manutenção da escravidão na Terra. Nem da pobreza ou qualquer tipo de desigualdade.
Nossa responsabilidade como espíritos encarnados na Terra é lutar pela igualdade de condições para todos. O espiritismo, antes de qualquer elucubração sobre nossa sorte após a morte, nos fala sobre como viver. Destacam-se nesse viver o amor, a justiça (faça aos outros o que quer que façam a ti), o livre-arbítrio (atitudes e escolhas), e a fraternidade (somos todos iguais).
Para a primeira pergunta, cheguei a contar 41 para uma exposição envolvendo o assunto - fora aquilo que não é contabilizado.
ResponderExcluirEnquanto não entendermos que é nosso papel mudar isso, continuaemos com essa pasmaceira em nosso planeta, achando que tudo é obra divina.