segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

DOUTRINA ESPÍRITA: O PENSAR E O AGIR SÃO LIVRES

 


          Conhecer a Doutrina Espírita requer mergulhar no universo do pensamento Kardeciano e compreender as influências filosóficas e sociológicas que se encontram no embate intelectual que deu corpo e base ao edifício doutrinário construído pelo diálogo continuado entre Allan Kardec e a diversidade da equipe espiritual responsável pela revelação espírita. O Codificador, um homem de cultura e estatura intelectual ímpar, antes de se aventurar àquela tarefa precisaria saber quais as tendências daqueles que pretendiam orientá-lo. Identificado o pensamento libertário e progressista dos Espíritos, compatível com as suas posições dialéticas é que Allan Kardec se compromete ao mergulho profundo.  

A chegada das ideias espíritas ao Brasil se deu anteriormente à assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel e, curiosamente o maior movimento em sua direção foi realizado pelos que combatiam a escravidão. Por que terá sido assim? Não é tão difícil responder. Aqueles homens que se opunham ao domínio escravagista, muito além de combaterem os discursos de catástrofe econômica em caso de liberdade dos escravos, miravam na condição humana e de igualdade que deveria ser reconhecida entre os negros e os brancos. Naturalmente sofriam perseguição dos defensores da Economia.

Desde então, o Brasil tem sofrido uma constante interferência daqueles que prosseguem presos ao pensamento da Senzala. Permanecem no discurso da desigualdade ultrajante, valendo-se da narrativa de ascensão pela meritocracia, apesar de saber-se que vivemos num país que alimenta o senso de escravidão e opressão. Sob o comando de uma elite que só se interessa em proteger seus latifúndios e monopólios, à custa de uma sociedade que se vê oprimida entre o analfabetismo e a fome. Pior depois da queda do Muro de Berlim (novembro/1989), nosso país é a maior prova de que o capitalismo é nefasto à prosperidade e à harmonia entre as pessoas. Aos que discordam ouso perguntar como se posicionariam ao fim da escravidão em 1888?

O resgate das ideias de Allan Kardec, quando ainda Hippolyte Leon, quando defendia o ensino livre e gratuito na França ainda vassala de poderosos que, herdeiros de monarquias decrépitas, ainda exigiam que houvesse nobres e plebeus, numa sociedade que queria se renovar. Ali, naquelas condições políticas e sociais adversas, em parceria com a grande Amélie Boudet (esposa e apoio incondicional), o professor corria riscos em defender a trilogia da Revolução Francesa (Igualdade, Liberdade, Fraternidade).

E nós, espíritas do Brasil contemporâneo, defendemos quais bandeiras? Qual a influência do pensamento de Allan Kardec em nossas atitudes cidadãs? Não adianta tentar defender-se através de críticas em retrovisor, tal o que faria se estivesse em épocas passadas e estivesse na multidão quando se pedia a condenação de Jesus. Assim fica fácil decidir. A questão é como se decide HOJE, diante das exigências de engrossar um pelotão de pensamentos para o futuro. Isenção é fraqueza que não isenta da responsabilidade de cumplicidade com a direção que a humanidade segue, para o bem e paro o mal.

Convencido de seguir as orientações dos Espíritos da Revelação Espírita, Allan Kardec não renunciou ao seu idealismo a favor da humanidade e esse carimbo se encontra, centenas de vezes, gravado em toda a obra que assinou. Quem deseje analisar o casamento de suas ideias progressistas com as aspirações da equipe espiritual que o acompanhou até o seu último momento de vida física haverá de compreender que o Espiritismo é a doutrina que prega a paz pela revolução do pensamento e a construção de uma prática coletiva de mudança das instituições a partir da renovação da visão das pessoas.

Nesse contexto, Allan Kardec e a equipe espiritual, foram beber numa fonte de pureza inquestionável: Jesus. Não é aleatório que o Mestre é distinguido como guia e modelo. Jesus não silenciou à injustiça nem se ajoelhou perante os poderosos de plantão. Se bem pensar e entender a mensagem explícita, o espírita também não o fará. Ainda assim, como o agir e o pensar são livres, é ele, o espírita, quem decide qual o pelotão que deseja seguir.       

                       

2 comentários:

  1. O movimento espírita hoje traz duas bandeiras basicamente: filantropia, como se fosse esse somente o significado de caridade, e a reforma social baseada na reforma íntima egoísta e alienante.

    Precisamos de um movimento espírita pé no chão e engajado numa mudança efetiva de sociedade, conforme demonstrou Kardec em seus textos.

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  2. Olá, Filipe,
    Muito bom seu comentário. Eu acrescento a terapêutica espírita, também de forma alienante. Jorge Luiz

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