Em minha jornada de leitora, vivi intensos mergulhos na vasta psicografia espírita distribuída pelas livrarias com o selo da Federação Espírita Brasileira. Em momentos de maiores influências, também permiti que histórias mirabolantes acontecidas em tempos que não visitei e relatadas como verídicas por supostos comunicantes espirituais explicassem a vida, relações e até interferissem em muitas escolhas.
Olhando um pouco para trás, é possível perceber que não vai tão distante assim no tempo cronológico. Mas existe um outro tempo que promove distâncias imensas entre o que fui e o que me tornei no relacionamento com o meio espírita e com o Espiritismo: o tempo da maturidade!
Essa é a razão deste texto! Refletir sobre o tempo da maturidade do espírita brasileiro, sempre cercado por personagens incríveis e médiuns delirantes, jorrando explicações oportunas para o silenciamento consciente das verdades históricas do nosso tempo.
O presidente do Brasil inspirou escritores espíritas desde seu turbulento surgimento no cenário político criado pela Operação Lava Jatos, e muitos grupos virtuais divulgaram enormes textos de encaixe pelas redes sociais, como o exemplo abaixo:
O recurso de adesão à campanha política do então candidato foi o mesmo utilizado em palestras longas e comoventes desenroladas nos centros espíritas, nas quais se explicavam fatos históricos a partir de procedimentos individuais, romanceando o desfecho de atos políticos e econômicos de impactos históricos gravíssimos como o escravagismo, nazismo, guerras mundiais, e muitos outros, nominando indivíduos decisivos para que as ocorrências fossem o que foram.
Palestras sem base histórico-científica, embasadas em explicações de médiuns, sob o sacrifício de análises mais terrenais, sistemáticas e pontualmente políticas.
Estaremos mais próximos do amadurecimento depois da catástrofe sócio-histórica promovida pelo presidente? Ou continuamos tentando encaixar seu projeto de morte em linhas redentoras, através dos grupos de mídia?
Quando a leitura espírita busca saciedade na proximidade de Allan Kardec – aquele que muitos chamam de codificador e já existe quem nomine como fundador do Espiritismo, a possibilidade de libertação dos elementos atávicos se fortalece. Sim, o pensamento crítico, autônomo, capaz de elaborar diálogos sobre a Terra para não responsabilizar o Céu, é condição de amadurecimento!
É no presente instante que moram as responsabilidades desta hora. Estamos em sociedade, com situações históricas, culturais, políticas e econômicas determinando vidas (como elas começam e terminam socialmente), e por isso mesmo, buscar explicar tudo o que está acontecendo ou pode acontecer com narrativas mediúnicas tem se mostrado instrumento de indução, manipulação, coerção e, portanto, se tornou responsabilidade coletiva de quem assim procede.
Quantos apoiadores do presidente leram o texto abaixo quando divulgado nas mídias sociais?
E por causa desse texto ainda segue apoiando um genocida?!
Podemos perceber que este foi um material de campanha urdido no meio espírita brasileiro. Ambiente ao qual o presidente sequer valorizou, mas que busca valorizá-lo de todas as maneiras para justificar sua adesão de classe e outras de cunho ideológico.
Que o leitor possa acompanhar nossa intenção em refletir o uso das narrativas ditas mediúnicas para suprimir debates políticos pontuais no meio espírita brasileiro, enquanto as mesmas são utilizadas politicamente, inclusive com timbre partidário, como vimos no exemplo utilizado.
Neste exato instante o genocídio segue célere, diante da insipiência política e sanitária da presidência do Brasil.
O perfume de cemitério nos transformou no centro de calamidade anunciada desta América e o mundo acompanha estarrecido a desumanidade de Jair Bolsonaro.
Mas não podemos incorrer no mesmo erro de tudo associar a um nome, uma história e uma saga evolutiva. Jair Bolsonaro é a representação de um projeto de morte em benefício de um sistema de lucros movido pelos financiadores de sua campanha baseada em notícias falsas e declarações beligerantes.
É a face mais grotesca do capitalismo cavernoso, que saiu das zonas pútridas para acirrar as violências contra os filhos e filhas das liberdades divinais, que padecem vitimados pela vulnerabilidades historicamente construídas.
O mundo é político! A espiritualidade é política!
Todos somos políticos! Mas nem todos estamos politicamente atuantes em favor vida.
Enquanto arderem as chamas das desigualdades e as injustiças sociais forem transformadas em karmas, não vislumbraremos a Terra da Regeneração.
Posso estar enganado, mas além de boa parte do movimento espírita confiar um livro que é uma gritante farsa, apoiam-se em uma farsa ainda maior, porque não encontrei esse personagem no livro - e olha que li esse livro mais de uma vez.
ResponderExcluirResultado: não se leva a sério não somente o estudo das obras psicografadas ou não, mas também não se estuda sequer as obras cheias de farsa.
Gratidão pelo texto.
Tristeza na alma. tem nem o que comentar, apenas lamentar. Roberto Caldas
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