Araraquara - SP |
“O trabalho liberta.” (Inscrição na entrada de Auschwitz)
“I can’t breathe.” (George Floyd, no momento em que era assassinado por dois policiais)
Geralmente, costumamos fazer uma análise em caráter geral; contudo, ante as quase duas mil mortes diárias por conta da pandemia de covid19 ou sars-cov-2, o Brasil tem se deparado com uma polêmica desnecessária e desumana que é a contraposição entre economia e saúde, levando a um verdadeiro genocídio que certamente acarretará consequências nefastas para os habitantes do Brasil, bem como a responsabilização dos que patrocinam e estimulam esse comportamento.
LEI DO TRABALHO
Em O Livro dos Espíritos, há, na parte terceira (Leis Morais), o capítulo terceiro que trata da Lei do Trabalho. A pergunta inicial já é bastante significativa:
“674. A necessidade do trabalho é lei da natureza?
“O trabalho é lei da natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos.””
Creio que qualquer espírita concordará que o trabalho é lei da natureza, e que todos os Espíritos encarnados têm a necessidade de realizar alguma ocupação útil, conforme definem os Espíritos superiores na questão 675. Essa ocupação útil desenvolve a inteligência e/ou colabora para que a sociedade se desenvolva materialmente.
No entanto, quais são as necessidades que a civilização nos impõe como trabalhadores? Além da nutrição, há serviços essenciais, e outros que podem ser realizados de maneiras que não exponha o trabalhador ou a trabalhadora ao risco de contrair o vírus e outras doenças por conta do período de exposição.
O que se tem visto, no momento, é a tentativa de colocar os trabalhadores expostos a condições de insalubridade e periculosidade, enquanto outros grupos acabam se resguardando exatamente porque não têm a necessidade de ficar tão expostos.
Nesse ponto, devemos nos lembrar de outra questão:
“684. Que se deve pensar dos que abusam de sua autoridade, impondo a seus inferiores excessivo trabalho?
“Isso é uma das piores ações. Todo aquele que tem o poder de mandar é responsável pelo excesso de trabalho que imponha a seus inferiores, porquanto, assim fazendo, transgride a lei de Deus.””
A exposição tanto à insalubridade quanto à periculosidade impõe certos cuidados – e não é à toa que a Consolidação das Leis do Trabalho (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm) aborda ambas as situações, pois envolvem os problemas de saúde aos quais os trabalhadores possam estar expostos por conta das tarefas a serem realizadas.
Ante as situações em que estamos vivendo, a insalubridade e a periculosidade encontram trabalhadores assim que cruzam a porta de casa. À medida em que todos estão expostos ao vírus, e que os cuidados recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019) não estão sendo respeitados, deparamo-nos com uma nova realidade, que impõe não somente um cuidado maior com a vida, mas também uma mudança nas relações e atividades trabalhistas.
Na época em que O Livro dos Espíritos veio à lume, não havia ainda a noção médica da correlação entre micróbios e doenças; de lá para cá, a ciência tem procurado nos colocar mais atentos com relação à nossa própria saúde. Não somente tratamentos têm se tornado mais eficientes, como tem aumentado o tempo das encarnações, permitindo vidas mais saudáveis, e um melhor desenvolvimento também das atividades laborais.
RESPONSABILIDADE GOVERNAMENTAL
A maneira como se poderão conjugar trabalho e saúde requerem inteligência e vontade. Algumas sugestões: aumento da capacidade de alcance dos sistemas de internet, permitindo que mais pessoas trabalhem de suas residências, especialmente em serviços que possam ser realizados dessa forma; regulação de forma a que o trabalho não invada a privacidade; no caso das atividades essenciais, em que a presença do trabalhador é imprescindível, podem-se organizar maneiras de afastar ao máximo a possibilidade de contato com outras pessoas, bem como o uso de equipamentos de proteção.
Outra questão que é colocada é o auxílio financeiro a pessoas que, por conta da irresponsabilidade envolvendo os agentes correlatos, demitiram trabalhadores, deixando famílias inteiras em situação de fragilidade. Em alguns casos, esse auxílio poderá ser temporário, como o auxílio emergencial; contudo, há de se pensar na conjugação entre economia e trabalho que preservem vidas e permitam as inovações possíveis.
De qualquer forma, deve-se levar em conta a responsabilidade governamental para incentivar que essas situações sejam mediadas e organizadas em prol da preservação da vida, lembrando o que diz O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 17 (Sede perfeitos), seção “Instruções dos Espíritos”, tema “Os superiores e os inferiores”, item 9:
“Quem quer que seja depositário de autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor sobre o seu servo, até a do soberano sobre o seu povo, não deve olvidar que tem almas a seu cargo; que responderá pela boa ou má diretriz que dê aos seus subordinados e que sobre ele recairão as faltas que estes cometam, os vícios a que sejam arrastados em consequência dessa diretriz ou dos maus exemplos, do mesmo modo que colherá os frutos da solicitude que empregar para os conduzir ao bem. (...)
Assim como pergunta ao rico: “Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos deverá ser um manancial a espalhar a fecundidade ao teu derredor”, também Deus inquirirá daquele que disponha de alguma autoridade: “Que uso fizeste dessa autoridade? Que males evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio.”
O superior, que se ache compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam submetidos, porque sabe que as distinções sociais não prevalecem às vistas de Deus. Ensina-lhe o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham dado ordens, ou poderão dar-lhas mais tarde, e que ele então será tratado conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade. (...)”
O cuidado que o governante tem sobre os governados deve levar em conta essa responsabilidade, para que não se repita o que aconteceu na primeira epígrafe – afinal, trabalho não é exploração, mas sim exercício de colaboração com o Criador na organização da sociedade material. Caso contrário, teremos diversas situações ainda mais aviltantes, como a da segunda epígrafe, transformando seres humanos em números em cemitérios – caso ainda haja vagas para seus corpos físicos abatidos pela pandemia.
LOCKDOWN
Por isso, a fim de estimular o raciocínio dos espíritas e da nossa responsabilidade como intelectuais, vimos trazer esse título provocativo, numa paródia necessária do lema “Fora da caridade não há salvação”. Poderíamos pensar na vacina como sendo a salvação; contudo, ante a inoperância do dirigente do sistema nacional de saúde, os outros cuidados tornam-se impositivos.
O lockdown em si não resolve 100%; no entanto, pelo que temos visto nos mais diversos países que o adotaram temporariamente, os resultados têm sido positivos, diminuindo sensivelmente a disseminação do vírus – lembrando que ainda há possíveis sequelas para quem sobrevive; além disso, o próprio sistema de saúde deve se organizar para lidar com essas orientações, estimulando os cuidados de todas as formas possíveis e imagináveis.
Por isso, a fim de que possamos sair dessa situação com menos perdas humanas e maiores condições de adaptação à nova realidade que se impõe, chegou a hora de repensar as relações de trabalho e economia, levando em conta o que realmente é importante em nossa jornada evolutiva coletiva. Assim, encerramos com o título para que fique bem claro que a situação é emergencial até que se encontrem meios de se resolver a situação em voga: Fora do lockdown não há salvação.
A polêmica é grande. Reclama o empresário de um lado, reclama o trabalhador do outro. Fala-se sobre tudo.
ResponderExcluirSó não vejo são esses mesmos gritarem:QUEREMOS VACINA!