domingo, 28 de março de 2021

GENOCÍDIO DE ESTADO, O ECO DO MUNDO

 


Quem consegue seguir em paz com o eco de quase quatro mil mortes por coronavírus em um dia, no país onde dormimos?

Cada rosto visto pode ser o próximo a desaparecer. Quem guardará o nosso rosto?

Já não importam as disputas banais, os choques de opinião, as raivas e as mágoas. O olhar do país precisa de foco. O malabarismo discursivo precisa de humanidade. Nós precisamos de toda nossa resistência!

A parca presença das representações partidárias afirma que a solução não virá da formalidade eleitoreira.

Toda conivência dos altos alpendres do judiciário já grita em silêncio que a morte também é força e faz vencer o mandatário.

O que nos resta senão nós mesmos?

Sozinhos, contudo, como sobreviveremos?

Os tribunais do mundo serão armados depois da tragédia consumada?

Esse silêncio, esse mutismo, e esse luto oprimindo a gente, esganando a poesia e roubando o tônus de quem deseja ao menos sorrir para outro alguém…

Essa corrupta aparição negacionista, anti-vida de pobre, trabalhador, mãe solo, filhos e filhas da pátria distraída que ora está aglomerada em igrejas lotadas…

Não tem UTI, nem esperança de cessar fogo. O vírus e a doença, o presidente e o bolsonarismo. Resumo do medo que sentimos uns dos outros.

Os passos largos para evitar o irresponsável sem máscara. Habilidade de sobrevivência antipática.

Esse tumulto informativo que não chega na casa do vizinho que debocha dos nossos cuidados. Essa tática suicida de apoiar Bolsonaro. Essa agonia de não ter para onde fugir…

O caos não permite o mapa completo, mas sabemos que é tudo maior e pior do que parece.

Essa insegurança alimentar, elementar…

História sem Deus, que todos os dias ouve o Santo Nome dito em vão.

O eco desse genocídio nos ouvidos…

E as vozes conhecidas identificadas no adeus sem cortejo.

Esse degredo, em tons tão altos de desespero!

O que nos restar do Brasil será suficiente para encarar as urnas em 2022?

Essa odiosa ameaça, essa dúvida, essa democracia que definha…

A difícil missão de enterrar as ausências terá gosto de noite sem aurora.

Essa pouca vacina, essa sina de não saber lutar…

Todo dia: Vai com Deus! Descansa em paz! Viaje com a luz! Até a hora em que alguém escreva a frase infame abaixo da nossa própria foto.

É genocídio de Estado. Esse triste cenário avisado…

 

Um comentário:

  1. Creio que o mais aumenta a angústia, além das diárias notas de pesar que tenho visto nas redes sociais, é também não termos de maneira mais evidente o ritual do luto - não o ritual religioso, mas o fato de irmos a um cemitério e velarmos o corpo. São dores individuais que não têm como sarar.

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