´ Por Jorge Luiz
O Espírito no renascimento e morte pode ser comparado a um mergulhador autônomo que se utiliza de escafandro. A superfície figuraria como o plano espiritual e o fundo do mar, comparado ao plano físico. Este dotado das dimensões tempo e espaço. O Espírito, ser atemporal, se equivaleria ao homem sem o escafandro. Cada imersão e emersão, se equivalem a nascimento e morte.
Ao deixar o escafandro, o mergulhador “morreu” e o tempo passado imerso está integralizado na consciência do mergulhador. Outros mergulhos ocorrerão. Portanto, como disse Einstein; “não há tempo passado, presente e futuro; o tempo é o agora.” O Espírito é o integralizador de todos os eventos da vida.
Essa metáfora ao ser arguida oferece a oportunidade de entender que nascimento e morte só são eventos distintos quando se analisa no contexto das dimensões tempo e espaço. Para a consciência o tempo é o devir; é o agora. A morte é um evento natural da Vida – um continuum - como está no epitáfio de Allan Kardec: nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre.
Amit Goswami, na obra A Física da Alma, atesta que a morte é a retirada consciente das identificações conscientes, isto visto no contexto da física quântica. A Doutrina Espírita também assim admite, só dependendo do grau de conscientização do Espírito. Um exemplo fático são as Experiências de Quase-Morte (EQM), quando o indivíduo retorna ao corpo e traz na consciência toda a experiência vivida. A EQM é um treinamento para a morte. Na obra Obreiros da Vida Eterna, sob a pena mediúnica de Chico Xavier, André Luiz relata o caso de Adelaide que se libertou igual a uma borboleta ao deixar o casulo. Em um artigo anterior, se tratou aqui do Treino para a Morte.(leia aqui)
Goswami realça que nesse processo há algumas sutilezas que além de deixar o corpo físico, a mônada quântica (Espírito) tem que se livrar dos corpos vital, mental, temático e sublime. Nessa jornada o ego já foi deixado para trás. Na conceituação espírita, o Espírito deixa o corpo físico com o Perispírito.
Tempo e Espaço
Toda a dinâmica da compreensão da desencarnação, em suas múltiplas variáveis, passa por um entendimento, pelo menos básico, das dimensões: tempo e espaço. Todas as perspectivas acerca da morte, principalmente no Ocidente, são feitas consideradas essas dimensões.
Um conceito muito interessante da física quântica para o entendimento do além-túmulo é o da não localidade (ausência de tempo e espaço). Assim ensina Goswami:
“É uma conexão entre potencialidades externas ao espaço-tempo que podem afetar eventos do espaço-tempo. Onde se situa? Está tanto em toda parte (porque cada ponto do espaço e do tempo pode ser conectado através da não localidade) e em parte alguma (porque não podemos localizá-la).”
É o que se considera transcendente, ou seja, transcende às dimensões espaço e tempo. Para o Espiritismo é o Espírito.
Stephen Hawking (1942-2018), na obra “O Universo numa Casca de Noz”, acerca do tempo e o espaço afirma:
“Por outro lado, na relatividade geral, tempo e espaço não existem independentemente no universo ou um do outro. Eles são definidos por medições dentro do universo como o número de vibrações de um cristal de quartzo em um relógio ou o comprimento de uma régua. É concebível que o tempo assim definido, dentro do universo, deva ter valor mínimo ou máximo, em outras palavras, um início ou um fim.”
O Espírito Galileu, através do médium Camille Flamarion, no capítulo VI, Uranografia Geral, em A Gênese, ratifica as visões apresentadas ao afirmar:
“O tempo é a sucessão das coisas; é ligado à eternidade da mesma maneira que essas coisas são ligadas ao infinito (espaço).”
O tempo e o espaço como se conhece, terão seu fim com o fim do planeta Terra ao cumprir sua finalidade na progressão dos mundos.
Conclusão
A compreensão do sono na visão espírita é primordial, já que é considerado o primo da morte. O corpo físico, objeto de uso do espaço-tempo adormece e o Espírito, ser atemporal, emancipa-se e ala ao plano espiritual e a consciência tona-se una, de onde se deriva o que se conhece como sonhos, físicos e espirituais (mediúnicos, lembranças de vivências passadas, aprendizados, etc). Leia-se trecho da questão nº 402, de O L.E.:
“(...) Tem a lembrança do passado e às vezes a previsão do futuro; adquire mais poder e pode entrar em comunicação com os outros espíritos, seja deste mundo, seja do outro. (...) Quando o homem dorme, momentaneamente se encontra no estado em que estará de maneira permanente após a morte. (...) Esses Espíritos, quando dormem, procuram a sociedade dos que lhes são superiores; viajam conversam e se instruem com eles; trabalham em obras que encontram concluídas, ao morrer.”
Entende-se, ainda, que o sono é um revigoramento moral para o enfrentamento das adversidades da vida. Evolui-se pelo conhecimento no plano espiritual, mas o progresso moral só se opera na Terra.
Some-se ao sono, as EQMs, as Terapias Regressivas de Vivências Passadas (TRVP), as Lembranças Espontâneas de vidas passadas em Crianças, os resultados das Experiências Transpessoais, Os Fenômenos Psíquicos no momento da Morte, já sinalizam a necessidade de se fazer uma radical revisão dos atuais conceitos da natureza da consciência e de sua relação com a matéria, consequentemente, com as contribuições do conhecimento espírita, os fundamentos que circundam a morte.
Desde os tempos imemoriais, e isso é comprovado pelos mestres tibetanos nos textos do Bardo Thodol, evidencia dois momentos de transição da existência humana: nascimento e morte. Roger Wolger, psicólogo junguiano, em suas pesquisas afirma:
“(...) há uma ampliação intensa da consciência à medida em que a alma do indivíduo passa do atemporal para o temporal, e vice-versa.”
Allan Kardec, em O Céu e o Inferno, demonstra que a preocupação do homem com a morte tem relação com a crença na vida futura. Apesar do pressentimento inato de que a morte não é o fim, por ainda não ter sido suficientemente educado a Providência Divina o dotou do instinto de conservação. Portanto, é fácil perceber que todas as questões atinentes às perturbações que o Espírito sofre após o desencarne são decorrentes da cultura do mundo. Na medida em que o homem se tornar esclarecido essas preocupações desaparecerão.
Entretanto, as sociedades ditas ocidentais construíram uma visão de mundo pragmática e materialista, e isso tem influenciado sobremaneira a visão da morte.
A neurociência ocidental considera a consciência um epifenômeno da matéria, como processos fisiológicos dentro do cérebro e, dessa forma, criticamente dependente do corpo, favorecendo a compreensão de que toda atividade consciente se acaba na morte. Essas razões contribuíram e contribuem para um desprezo das ciências com as experiências sobre a sobrevivência da alma.
Esses entendimentos transformaram a morte em business, desumanizando e reduzindo-a às salas frias dos hospitais e os salões das funerárias. Há a necessidade de se humanizar a morte, urgentemente. O Oriente tem sofrido certas influências desse pensar.
O fato é que existe uma relação simbiótica entre nascimento e morte. Woolger, revela que nos estados alterados de consciência, quando se revelam, nos nascimentos, um espelho simbólico exato e fiel das experiências acumuladas de mortes em vidas passadas, com todo o terror e sofrimento que as acompanham. Também é notado para os estados de graça ou nem tanto, depois da morte, para os estado de felicidade por ocasião do nascimento.
Essas ocorrências resultam, exatamente, pela não vivência da morte como experiência de abertura e crescimento espiritual. A morte como um evento consciente como na emersão do mergulhador. No prefácio da terceira edição de O Livro Tibetano dos Mortos está escrito:
“O Lama Govinda explica, como diziam os antigos mistérios e os Upanishads declaram, que o não iluminado encontra uma morte após outra, incessantemente.
De acordo com o Avatãra Krishna, no Bhagavad-Gitã, somente os despertos se lembram de suas inúmeras mortes e nascimentos.”
A autoiluminação ou conhecimento de si mesmo faz com que os vários nascimentos e mortes sejam integrados e vividos conscientemente pelo indivíduo, como processos de crescimento espiritual. É decorrente do desconhecimento de si mesmo que o nascituro ao ser expulso do útero sofre as memórias traumáticas decorrentes das mortes, como relatado por Woolger, citação acima.
Há a necessidade de se educar para a vida e para a morte, isso é indiscutível. Que se busque isso, para que se alcance de forma consciente e as despedidas sejam realizadas como a de Adelaide e de Miralepa, um dos mais queridos gurus tibetanos, quando ele disse:
“Combina, num todo único, a meta da aspiração, a meditação e a prática, e atinge a Compreensão pela Experimentação.
“Considera como única esta vida, a próxima e a que se interpõe entre elas no Bardo, e acostuma-te a elas como se fossem uma só.”
A morte é um fenômeno natural da vida. A vida é um mergulho.
Referências:
GOSWAMI, Amit. A física da alma. São Paulo. ALEPH, 2005;
HAWKING, Stephen. O universo numa casca de noz. São Paulo. MANDARIM. 2010;
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. São Paulo. LAKE. 2000;
_____________ A gênese. São Paulo. LAKE. 2010;
_____________ O céu e o inferno. São Paulo. LAKE. 2004;
WOLGER, Roger. As várias vidas da alma. São Paulo. Cultrix. 1987.
XAVIER. Francisco C. Obreiros da vida eterna. Brasília. FEB. 2011(versão digitalizada)
Excelente reflexão com as devidas conexões.
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