De novembro último, quando surgiu a COVID-19, a Abril de 2021, data deste escrito, não há assunto mais palpitante, na imprensa ou em qualquer roda de conversa, do que a temível pandemia que surgiu em Wuhan, na China, cujo agressivo vírus teria sido hospedado no organismo quente de morcegos.
Somente aí vieram à tona as epidemias e pandemias que assolaram a humanidade, cujas cinco maiores foram citadas pelo site da revista Galileu:
a) A peste bubônica, disseminada pelo contato com pulgas e roedores (apontada como causadora de outra variante, conhecida como “peste de Justiniano”, no século VI, que conforme a Wikipédia teria feito morrer de 25 a 100 milhões de pessoas). Já a peste negra, também decorrente na bubônica, teria matado entre 75 a 200 milhões de europeus e asiáticos, no século XIV.
b) A varíola, conhecida desde o Egito de Ramsés II, e que chamou mais a atenção do mundo ao reaparecer na França de Luís XIV, fazendo muitas vítimas até 1980, data em que foi erradicada, após uma exitosa campanha de vacinação em massa.
c) A cólera, em 1817, causadora da morte de centenas de milhares de pessoas no mundo.
d) A gripe espanhola, a partir de 1918, que levou à morte, acredita-se, de 40 a 50 milhões de pessoas no mundo e que infectou mais de um quarto da população mundial.
e) A gripe suína, que em 2009 levou 16 mil pessoas à desencarnação.
As mais antigas têm número de vítimas aproximado, em razão da fragilidade dos meios estatísticos da época.
Sobre a varíola hemorrágica, na França, temos a preciosa cobertura histórica de Emmanuel, na obra Renúncia, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier:
“A terrível moléstia, trazida à Europa pelos sarracenos no Século VI, era, então, o terror das cidades populosas. A capital francesa já conhecia as suas características execráveis e, por isso mesmo, suas colmeias humanas permaneciam desoladas e inquietas. Enquanto a moléstia circunscrevia-se às moradas confortáveis dos mais abastados, houve meios de ocultar os quadros mais tristes. Em poucos dias, no entanto, a população experimentava os penosos efeitos da epidemia fulminante.”
Informa-nos Emmanuel que a corte recolhera-se em Versalhes, amedrontada da doença que causava bexigas negras, por detrás de pústulas repelentes, cujas consequências eram a deformação, principalmente do rosto, ou a morte.
Qual estivesse se reportando a quadros dos dias atuais, Emmanuel prossegue:
“O Preboste (juizado francês) desenvolvia medidas enérgicas, com a colaboração da Universidade, mas, dado o terror que se instalara no ânimo popular, agravavam-se o descuido e a indiferença pelos doentes, o que fazia aumentar o obituário para vinte e trinta por cento, em vez de dez, como de outras vezes, em epidemias anteriores. Ninguém, todavia, desejava arriscar a pele ou a vida”.
O elevado espírito prossegue informando que não se encontravam médicos ou enfermeiros que atendessem a população; que “apenas alguns sacerdotes abnegados visitavam os lares cheios de pranto e luto”; que muitas casas religiosas abriram, caridosamente, suas portas aos enfermos; que os funcionários públicos encarregados de recolher os mortos eram pessoas desqualificadas, ébrias e brutais; que todas as residências afetadas recebiam como marca do governo um grande sinal vermelho; e o pior e mais monstruoso: que alguns agonizantes eram “sepultados antes do derradeiro sopro de vida”.
E quanto ao medo e às superstições, comunica-nos o mentor:
“O povo fazia oferendas espetaculosas nos altares dos templos. A igreja de Santa Oportuna estava repleta de devotos, dia e noite, a reclamarem milagres. A plebe parecia alucinada. Os homens de ideias liberais eram acusados de provocadores da peste, então havida como castigo do Céu, e a multidão pedia que eles fossem queimados no forno do Mercado dos Porcos. Sucediam-se procissões e exorcismos” (grifos meus).
A obra é rica em outros detalhes. Vale a pena uma leitura integral. Mas retrocedamos no tempo e, sem sairmos de Emmanuel, acompanhemos mais uma cobertura dele, desta vez sobre o século III da era cristã. Neste caso a “reportagem” cobre a cidade de Lyon, também na França (obra “Ave Cristo”, igualmente psicografada por Francisco Cândido Xavier).
Antes é preciso dizer que a decomposição dos cadáveres insepultos, de soldados mortos nas numerosas guerras, era apontada como real causa da doença, haja vista que muitas pestes desconhecidas assolavam o império romano. Entretanto, informa-nos o mentor de Chico Xavier que os sacerdotes das divindades olímpicas firmavam a superstição de que os deuses estariam a flagelar o povo por causa da “mistificação nazarena”; que a doença maligna era fruto da “feitiçaria cristã”; que, em combate à doença, imploravam dia e noite ao deus Esculápio, oferecendo-lhe sacrifícios de galos e serpentes; e que tudo aquilo fazia recrudescer o ódio ao cristianismo.
Portanto, a busca de culpados para as pandemias não é nova, sendo que nos séculos de maior obscurantismo foi debitada à ira dos céus contra cristãos (Roma) e homens de mente aberta (Idade Média), enquanto que no caso do século XXI alguns líderes mundiais, também obscurantistas, debitaram aos chineses o aparecimento do vírus da COVID-19, o SARS-CoV-2.
Ainda não atingi o escopo principal do presente artigo, que é proporcionar “uma visão” (ao invés de “a visão”) kardequiana sobre as causas espirituais da pandemia de 2019. Mas obedecerei ao propósito de fracionar este escrito em quatro partes, por questões didáticas e para que o leitor vá tirando suas conclusões.
Até o próximo, no qual apresentarei uma visão da obra fundamental do Espiritismo sobre os “flagelos destruidores”, onde se incluem as pestes. Ira de Deus? Castigo divino? Aguarde!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Renúncia. 29 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.
XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Ave Cristo. 24 ed. Brasília: FEB, 2013.
Site da revista Galileu, título “Conheça as 5 maiores Pandemia da história”. Pesquisa em 20/10/2021. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/03/conheca-5-maiores-pandemias-da-historia.html
Site da Wikipédia, título “Praga de Justiniano”. Pesquisa em 20/10/2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Praga_de_Justiniano
Site da Wikipédia, título “Varíola”. Pesquisa em 20/10/2021:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Var%C3%ADola
Ou seja, continuamos mantendo o padrão de conseguir culpados para a nossa própria negligência.
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