O Écho de Além Túmulo - Luiz Olympio Telles de Menezes |
Apesar do movimento espírita se iniciar no Rio de Janeiro, foi em Salvador que ocorreu uma explosão espírita, dada a presença de um grande contingente populacional negro que dispensara o gosto pelas soluções mágicas e até pela influência do candomblé, como assinala Ubiratan Machado.
Surgiu nesse ambiente uma personalidade que se tornou determinante para a propagação do Espiritismo: Luis Olímpio Teles de Meneses, jornalista, que em 1866 publicou a tradução da Filosofia Espiritualista – seleção de O Livro dos Espíritos. Coincidentemente, em São Paulo, a Tipografia Literária editava outro livro do Codificador: O Espiritismo em sua Expressão mais Simples, sem indicação do tradutor.
E foi por iniciativa de Luís Olímpio que, em 17 de setembro de 1895, realizou-se a primeira sessão pública da Doutrina dos Espíritos e também das técnicas psicográficas. E foi o próprio Olímpio Teles o fundador do Grupo Familiar de Espiritismo.
Machado ressalta a necessidade histórica – diante da coincidência da eclosão espírita entre São Paulo e Salvador – para se entender de quem é a primazia de ter traduzido uma obra de Allan Kardec para o português. O Espiritismo foi vertido, à época, também por Alexandre Canu, materialista francês que se convertera ao Espiritismo. Segundo ele, a edição, impressa em Paris (a terceira é de 1862), atingiu fracamente o mercado brasileiro, chegando, talvez, apenas às mãos de alguns curiosos. A maior tiragem foi, sem dúvida alguma, dirigida a Portugal. Na imprensa brasileira da época não há qualquer referência a esta obra, e isso dificulta identificar realmente de quem foi a primazia.
A realidade é que, sob a liderança de Olímpio Teles, o Espiritismo na Bahia surgiu com notável vigor. E a sua corajosa tradução e iniciativa delinearam bem o perfil do homem de família católica da Província. Olímpio Teles foi figura típica da classe média que então se formou em Salvador. Jornalista, colaborou em diversos órgãos da imprensa baiana.
O entusiasmo de Luís Olímpio chegou ao conhecimento de Allan Kardec, que o referenciou na Revista Espírita, do seu júbilo com aqueles longínquos discípulos tropicais.
Não tardou a reação da Igreja que veio ácida e imediata. O arcebispo D. Manoel Joaquim da Silveira redigiu uma Pastoral, datada de 16.06, mas só divulgada no dia 25.07.1867, a qual alertava os seus diocesanos “contra os erros perniciosos do Espiritismo”. A Pastoral foi o reconhecimento da vertiginosa expansão espírita e de que a tradução do livro de Kardec constituía apenas um sinal.
Tratando-se
de Olímpio Teles, a coisa não ficou sem reação, pois excitou ainda mais o seu
entusiasmo. Dirigiu ao arcebispo da Bahia uma carta expondo a Doutrina de Allan
Kardec. O folheto, histórico por ser a primeira formulação brasileira sobre as
teorias espíritas, intitulou-se: O
Espiritismo: Carta ao Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Arcebispo da
Bahia, D. Manoel Joaquim da Silveira, o que irritou mais ainda o clero. D.
Manoel Joaquim nomeou o padre Juliano José de Miranda, que com apenas 25 anos,
ardendo para defender a sua fé e realizar o o bom combate, escreveu o
folheto Breve Apreciação da Carta do Sr.
Luís Olímpio Teles de Meneses sobre o Espiritismo ao Exmo. Rev. Sr. arcebispo,
que saiu do prelo no segundo semestre de 1867.
A partir daí o público baiano começou a assistir ao primeiro embate de uma polêmica de fé entre espíritas e católicos.
Naturalmente, a reencarnação foi o fato que gerava divergências. Olímpio Teles defendeu a tese de que a condenação dos postulados de Orígenes nunca representou a condenação da doutrina da preexistência da alma.
Um fato marcante à época e que se perdura até os dias atuais, singularmente: declaravam-se católicos. Faltou, na realidade, coragem para abandonar o regaço da mãe Igreja. Digno de nota é que o movimento espírita brasileiro ainda é mais católico que espírita.
O fato determinante é que o Espiritismo, desde a sua primeira hora no Brasil, particularmente na Bahia associou-se à campanha antiescravagista. A posição não deixou de ser singular, dado o acovardamento de parte dos espíritas atuais em participarem de um ativismo social-espírita.
Em mais um arroubo, Olímpio Teles lançou, em julho de 1869, o jornal O Eco de Além Túmulo, com o subtítulo de Monitor do Espiritismo no Brasil. A Revista Espírita, já sob a direção de Pièrre-Gaetan Laymarie, saudou jubilosamente o surgimento do órgão brasileiro que durou quase dois anos. Era publicação bimestral de 56 páginas. A partir de 1871, tornou-se mensal, sendo distribuído em todo o território nacional e remetido para várias cidades do exterior.
Laymarie, entretanto, teceu considerações críticas ao caráter eminentemente religioso abordado por Olímpio Teles, que se encontram na Revista Espírita de novembro de 1869.
Referências:
KARDEC, Allan. Revista espírita – nov. 1869. Brasília: FEB, 2004.
MACHADO, Ubiratan. Os intelectuais e o espiritismo. Rio de Janeiro: LACÂTRE, 1997.
Excelente e necessário resgate da memória do Espiritismo brasileiro.
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