Viver sozinho, sem absolutamente ninguém é praticamente uma missão impossível para quem quer que seja. Partindo do princípio que a linguagem e os hábitos são aquisições transferidas, embora possam ser adaptadas ou modificadas, o que elabora uma pessoa é a cuidado de outras pessoas. Os raros casos que aguçam a curiosidade com os relatos de crianças que viveram perdidas e passaram longos períodos em companhia exclusiva de animais geram a convicção a respeito dessa realidade.
Fala-se, anda-se, veste-se, lê-se, escreve-se, entre outras atividades humanas, porque a estrutura social estabeleceu a possibilidade de transferência de informações. Apesar da condição humana superior resultado da existência do córtex cerebral ser um diferencial orgânico da evolução filogenética das espécies, a falta de um modelo comportamental rebaixa as habilidades de forma a descaracterizar a supremacia cerebral.
Essa constatação ainda merece estudos mais profundos, mas o isolamento absoluto dos indivíduos da mesma espécie, exceto quando por uma estratégia temporária e planejada, empurra a pessoa para a mera luta pela sobrevivência, região naturalmente ocupada pela categoria de animais abaixo da escala humana. Batalhar meramente para sobreviver não pode ser o objetivo essencial da luta humana, nega a sua transcendência.
Mesma consequência pode ser avaliada quando um grupo passa a ser isolado de outros grupos, por injunções sociais que obstaculem o acesso à educação, à saúde e ao livre convívio. O empobrecimento geral se instala naquele grupamento humano que teve usurpadas as oportunidades de desenvolver a inteligência e a criatividade.
Apesar das diferenças intelectivas e emocionais da humanidade, é aceito pela maioria dos estudiosos contemporâneos que qualquer pessoa ou grupo, livre de patologias limitadoras, quando exposto aos estímulos equivalentes tendem a apresentar respostas medianamente parecidas. É possível que haja um padrão de resposta que só se mostra diferente se quebrada a regra das trocas e aviltada a oferta de um em privilégio ao outro.
Todos os homens e mulheres são iguais perante Deus (LE – q. 803), e “o sol brilha para todos”. Urge descobrir essa realidade que o orgulho e o egoísmo escondem. Escondem como se o verbo repartir tenha passado apenas de mera retórica no discurso iluminado de Jesus. Alimentado, educado e saudável, a pessoa ou um grupo qualquer, sem sofrer isolamento dos ductos férteis que incrementam o progresso, muito provavelmente terá papel relevante no desenvolvimento sadio da civilização.
É fato que ainda se assista na Terra aos tristes espetáculos em que pessoas e grupos são alijados de condições minimamente humanas de vida. O Espiritismo na qualidade de doutrina que educa para a imortalidade e propõe um arrojado plano de espiritualização da humanidade é um compacto alicerce na edificação de um mundo melhor para todos. Com base na moral de Jesus traz a valiosa lição de desejar para o outro o que enseja para si renovando a certeza de que o planeta oferece para todos indistintamente, mas precisa de cada “um” para oportunizar a construção coletiva do “nós”.
Não podemos esquecer que, mesmo vivendo só fisicamente, temos sempre uma nuvem de irmãos desencarnados ao nosso lado.
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