De acordo com estimativas da ONU a população planetária perfaz cerca de 7,8 bilhões de pessoas, mais que a metade delas em áreas urbanas, quase 10%desse total vive abaixo da linha da pobreza, sendo que os 1% mais ricos detém 60% das riquezas mundiais, as mulheres que perfazem 49% desse grupo ocupam a prateleira inferior da economia mundial. Esses números são um convite para a discussão que a humanidade necessita na direção de uma conformidade para que efetivamente se possa alcançar o grau de sanidade civilizatória.
Desnecessário grande esforço para que esses números possam ser interpretados com olhar atento aos graves prejuízos que alcançam as populações que vivem em condição de vulnerabilidade, destituídas de alimentos, em insalubridade, na ausência de emprego e moradia, analfabetismo, geração de sociedades marginais.
A qualidade de um território não deveria ser medida apenas pela soma dos bens de produção, mas pela socialização equitativa desses bens tendo como piso uma linha básica que se traduzisse em dignidade para os menos aquinhoados sem negar aos mais destacados o direito ao supérfluo se assim desejassem, resultado do somatório de trabalho digno por parte de toda a comunidade. Todo trabalho considerado útil, mendicância zero.
A adoção de um modelo de respeito humano seria então o condão adequado para estabelecer o império da virtude na justa significação conceitual que nos iguala a todos, simplesmente pela qualidade de humanos, acima de qualquer outro elemento de aferição, pois certamente transcender-se-ia aos julgamentos de cor, idioma, gênero, classe social, caracteres físicos. A empatia como óculos, num mundo de afetividades recíprocas sob uma ideologia que discutiria acima das diferenças naturais, o caminho para a paz.
Se há utopia em tudo isso, e há aos borbotões, essa a forma como se vive nos mundos superiores, onde a oferta do mal em troca do mal foi vencida pelos que desistiram de promover a cultura do ódio e estancaram o desejo de vingança das mentes. A questão 893 de O Livro dos Espíritos acrescenta ao tema: “Qual a mais meritória de todas as virtudes? – Todas as virtudes têm o seu mérito, porque todas são indícios de progresso no caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências; mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem segunda intenção. A mais meritória é aquela que se baseia na caridade mais desinteressada”.
A utopia, então, estará na conquista da dádiva. Qualidade do doar e doar-se espontaneamente, independente de solicitação, até mesmo sem o saber, apenas por exalar o melhor que habita internamente. Nasce do treino consciente e do exercício continuado de contribuir em qualquer circunstância, como, aliás, aconteceu numa ocasião muito peculiar: Diz o texto (Lucas 8:46) – “E disse Jesus: Alguém me tocou, porque bem conheci que de mim saiu virtude. Então, vendo a mulher que não podia ocultar-se, aproximou-se tremendo e, prostrando-se ante ele, declarou-lhe diante de todo o povo a causa por que lhe havia tocado, e como logo sarara. E ele lhe disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz”. Enfim, a dádiva é natural em quem a produz e liberta quem a recebe. A Terra de 7,8 bilhões precisa de dádiva.
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