O organismo humano é um veículo de extrema complexidade dotado de circuitos elétricos, hidráulicos, energéticos e sensoriais. Fisiologicamente é laboratório de reações celulares muito próximas àquelas experimentadas pelos demais seres que ocupam outro degrau na escala animal. A dotação de um cérebro superior torna a sua realidade diferente daqueles, embora contenha a herança reflexa, de determinação natural, que é a lei de sobrevivência através do mecanismo reativo que o obriga ao binômio fuga/ataque.
No processo da encarnação o Espírito encara essa complexidade repleta de inumeráveis estímulos em cascata coordenada pelo sistema nervoso em um caldeirão de hormônios e enzimas. Aumentando o drama para a pilotagem dessa arquitetura orgânica dotada de tantas possibilidades, o Espírito acorda no corpo como um novato, sem memórias, destituído de habilidades que, aprendidas em outro tempo, jazem silenciadas no inconsciente profundo. Vejamos o que ensina O Livro dos Espíritos a esse respeito (q.352): “No momento do nascimento, o Espírito recobra imediatamente a plenitude de suas faculdades? – Não: elas se desenvolvem gradualmente com os órgãos. Ele se encontra numa nova existência; é preciso que aprenda a se servir dos seus instrumentos; as ideias lhe voltam pouco a pouco, como a um homem que acorda e se encontra numa posição deferente da que ocupava antes de dormir”.
Ao vestir a matéria, o Espírito se mistura completamente com todas as reatividades corporais sob a intermediação do perispírito (LE – q. 135 e 135 a). A associação Corpo-Perispírito-Alma (Espirito encarnado) gera um complexo, cujos estímulos alcançam igualmente às partes que só se individualizam na ocorrência da morte, podendo se desprender parcialmente durante o sono. É equivocado admitir os fenômenos que acontecem na existência de uma pessoa sem a visão da integralidade, pois não há Alma sem corpo e vice-versa.
Refletir em torno das circunstâncias de uma encarnação, quando se está a caminho das experiências que desafiam os limites físicos e psicológicos de cada um, requer esclarecimento dos fatores e circunstâncias inerentes aos mecanismos da manutenção do equilíbrio do corpo e da mente. Implica em saber gerenciar as reações do corpo, com todas as provocações sensoriais das ondas de neurotransmissores que inundam o cérebro diante de um susto ou uma surpresa. Também exige reverberar as tendências do Espírito que demora indeciso entre seguir com a justiça ou licenciar-se para delinquir.
A eleição de um comportamento qualquer, se patológico ou saudável, repercute universalmente nos componentes da existência de uma pessoa interferindo em todos os elementos do complexo (Espírito/Perispírito/Corpo) comprometendo ou favorecendo o desenvolvimento do ser encarnado. A relação que retroalimenta o corpo físico e o Espírito é responsável pela boa ou má gestão de uma encarnação.
Despertar num veículo tão complexo quanto o corpo é uma desafiadora tarefa que todo encarnado está convidado a desempenhar. Desde que encarnados estamos, vale a pena considerar a possibilidade de fazer um bom uso desse equipamento maravilhoso que a misericórdia de Deus nos permite habitar usufruindo dele com inteligência e leveza.
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